Operação no Complexo da Maré deixou cinco mortos, incluindo um PM, nesta terça-feira (11)Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O governador Cláudio Castro (PL) informou, nesta quarta-feira (12), que todos os protocolos definidos pela ADPF 635, documento que estabelece restrições para realização de operações policiais no Estado do Rio, foram cumpridos na ação realizada no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, que terminou com cinco mortos, incluindo um policial militar, e mais de 20 prisões. Na noite desta terça-feira (11), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu informações sobre a operação.
"O Ministério Público e as secretarias municipal e estadual de Saúde e Educação foram comunicados previamente sobre a ação. Ativamos o planejamento de prevenção com ambulâncias no entorno, agentes estavam utilizando câmeras portáteis corporais. Todos os questionamentos feitos pelo STF serão respondidos nos autos do processo", destacou o governador.

Castro ainda ressaltou que a operação teve seus objetivos cumpridos com inteligência e uso da tecnologia. Ao todo, 23 suspeitos foram presos e um adolescente apreendido.

"Os objetivos da operação foram atingidos e os resultados baseados em inteligência e tecnologia. Foram diversas apreensões, 24 suspeitos detidos, e destes, sete de Minas Gerais e um do Ceará. O que mostra a importância de uma ação como essa, que olha o problema da segurança como uma questão nacional, não exclusiva do Rio de Janeiro. E o estado precisa, sim, da ajuda das forças federais para que possamos fazer o verdadeiro combate ao crime", acrescentou Castro, lembrando que armas e drogas entram pelas fronteiras, pelos portos, pelos aeroportos, pelas estradas.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Victor dos Santos, reiterou a necessidade da operação para coibir a criminalidade e destacou que o Estado não será complacente com ações de bandidos.

"Criminosos vêm de outros estados e tentam se esconder em comunidades do Rio. Na capital está o maior desafio. O recado que fica é que, dentro da legalidade, vamos seguir nos aperfeiçoando, nos capacitando e investindo em tecnologia e inteligência para prestar o melhor serviço de Segurança Pública à população fluminense", ressaltou.

O secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, lamentou a morte do sargento Jorge Galdino Cruz, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), e se solidarizou com amigos e familiares, atestando a técnica e o planejamento estratégico operacional da ação.

"Nos despedimos hoje de um companheiro valente, aguerrido e que foi vítima daqueles que atuam contra a sociedade, mas que nos deixou honrando o cumprimento de nosso dever. E é justamente pelo seu esforço e de outras centenas de membros do Bope, assim como de nossos milhares de policiais, que não vamos recuar e nos manteremos firmes e atuantes. Mesmo diante das ações inconsequentes desses criminosos, nós conseguimos capturar 24 dos envolvidos e retirar diversas armas de guerra de seu poderio no Complexo da Maré. Vamos continuar trabalhando de forma planejada e precisa nesse sentido, o de desarticular esses grupos que insistem em tentar tirar a paz dos cidadãos do Rio de Janeiro", pontuou.
Enterro de agente
O sepultamento do policial militar Jorge Cruz, de 32 anos, foi marcado por homenagens de colegas do Bope na tarde desta quarta-feira (12), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. Familiares e amigos do agente também estiveram presentes e se emocionaram durante a despedida. 
O velório teve início às 13h30, seguido do enterro, às 15h30. Policiais do Bope fizeram uma salva de três tiros durante o sepultamento. Três helicópteros da Polícia Militar também sobrevoaram o cemitério no momento do cortejo. Um dos filhos do agente participou do momento enrolado à bandeira do Bope.
Ao final do enterro, a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Claudia Moraes, se emocionou ao falar sobre o colega morto. "Um profissional altamente treinado perdeu a vida. Hoje o sentimento é de tristeza, consternação... Eu perdi um irmão, não é trivial estar aqui. Eu tenho muitos amigos e tenho um irmão também aqui. A gente não pode banalizar a perda de policiais. Quando se ataca uma pessoa que está indo para proteger, atacamos a todos", disse a tenente-coronel bastante emocionada.
Jorge Galdino deixa três filhos e mulher. Ele estava na Polícia Militar desde 2011, ingressou na tropa de elite em 2019 e se formou em 2023. Nas redes sociais, colegas de farda do PM publicaram um vídeo em homenagem a ele. Na publicação, os amigos escreveram: "O Jota, como carinhosamente era chamado, deixará um vazio enorme nos corações de todos que puderam compartilhar da sua amizade e camaradagem. Nosso irmão jamais será esquecido e seus feitos serão eternamente lembrados. Descanso em paz, guerreiro".
Operação

Outro policial, Rafael Wolfgramm, também foi baleado durante a operação na Maré. Ele permanece internado em estado grave, nesta quarta-feira (12), após passar por uma cirurgia no Hospital Federal de Bonsucesso. A família do policial pede doação de sangue.
Segundo uma prima do militar, as doações de qualquer tipo sanguíneo podem ser feitas no próprio hospital, que fica na Avenida Londres, número 616, em Bonsucesso, de 12h às 16h. Durante a manhã desta quarta (12), um ônibus com voluntários saiu da Praça Da Gleba, em Seropédica, na Baixada, com destino a unidade de saúde.
Um morador da Maré, identificado como Revalci Rosa Agues, de 75 anos, foi baleado durante uma das trocas de tiros e está internado em estado estável no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte do Rio.
Na operação, foram apreendidos 11 fuzis, uma metralhadora antiaérea, cinco pistolas, uma espingarda calibre .12, seis carros roubados, duas motos e drogas. Segundo a PM, um esconderijo usado por traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) também foi localizado no interior da comunidade. As drogas e os armamentos foram encaminhados à 21ª DP (Bonsucesso). Os veículos recuperados foram rebocados até o pátio do 22° BPM (Maré).
Ainda segundo a PM, entre os 24 presos, sete são oriundos de Minas Gerais, dos quais cinco estavam foragidos da justiça.