Lagoa Rodrigo de Freitas passa por processo de naturalizaçãoRenan Areias / Agência O Dia

Rio - O projeto de naturalização da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul, completou um ano nesta quinta-feira (20). Durante a manhã, alunos da Escola Municipal Edna Poncioni e estudantes de Geografia da Universidade Federal do Rio (UFRJ )estiveram na altura do Parque do Cantagalo para plantar mudas e soltar cerca de 50 caranguejos do tipo guaiamuns, espécie ameaçada de extinção, na restinga.
Além de revitalizar o espaço, o projeto assinado pelo biólogo Mário Moscatelli e pela paisagista Carolina Moscatelli visa mitigar alagamentos crônicos em pontos da ciclovia e ampliar o espelho d'água da lagoa em 2.600 metros. Já no primeiro ano, foi possível observar a reprodução de frangos d'água e a presença de capivaras e de insetos polinizadores.
"O projeto de naturalização, que completa um ano, é um pequeno fragmento daquilo que foi tomado da Lagoa ao longo dos anos. Rapidamente já mostra em sua exuberância vegetal e animal o quanto os processos naturais, quando não contrariados, podem colaborar decisivamente para a qualidade ambiental das demais espécies e da vida humana. Sem a necessidade de megainvestimentos, mas unindo a colaboração do poder público e da iniciativa privada, é possível resolver de forma eficiente em termos ambientais. Esse é o caminho", explicou Moscatelli, coordenador-técnico do projeto, biólogo, mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros.
Durante o evento, a prefeitura anunciou que a Fundação Rio-Águas está licitando o segundo trecho do projeto, na altura do Parque dos Patins. Será devolvida uma área de 485 metros quadrados à Lagoa e parte da ciclovia será desviada.
O trecho que alagava será reintegrado ao corpo hídrico e, assim como no primeiro trecho, servirá de habitat para animais e berçário para plantas nativas. Os serviços incluem a retirada de pavimentação, aumentando a área permeável da margem, recolocação de cerca protetora em novo alinhamento e a construção do passeio em concreto. A licitação está marcada para o próximo dia 26.
Ainda no início do projeto, o biólogo explicou que os alagamentos acontecem porque, desde 1923, a Lagoa Rodrigo de Freitas encolheu cerca de 50% em decorrência do avanço urbano. O solo, em alguns trechos, não foi preparado para o aterramento, fazendo com a água invada a ciclovia.
A iniciativa da Subprefeitura da Zona Sul em parceria com a Fundação Rio-Águas , então, "devolveu" o espaço à Lagoa com a plantação de uma restinga e a implementação de rotas alternativas para pedestres e ciclistas.
O processo de naturalização de áreas urbanas é uma atividade em desenvolvimento em várias partes do mundo. É uma das técnicas utilizadas para recuperar espaços degradados e modificados pelo homem.
"A área de naturalização da Lagoa, antes um gramado e trecho de ciclovia periodicamente inundados, hoje abriga espécies de brejo, transição e restinga que se comunicam com a franja de manguezal pré-existente. Esse mesmo modelo vem sendo utilizado em países como a Alemanha, em áreas urbanas, no sentido de aumentar a permeabilidade do solo e incrementar a população de insetos polinizadores, essenciais para a reprodução vegetal. O som de grilos, gafanhotos, insetos polinizadores e insetos que promovem o controle biológico, tal como as libélulas, ecoam na região e nos mostram que essa pequena franja de área naturalizada no coração da Zona Sul virou lar para inúmeras espécies", comemorou Carolina Moscatelli.
Para a naturalização da área, novas espécies de flora foram introduzidas, como mudas de grama de mangue, samambaia do brejo, algodoeiro de praia e mangue vermelho. Da fauna, diversas espécies têm aparecido na área, além dos já conhecidos colhereiros, capivaras, guaiamuns e saracura. Um frango d’água escolheu a área para chocar três ovos e os filhotes da ave aquática circulam tranquilamente no local. Também há novos frequentadores, como o bate-bico, que só havia sido visto na década de 80 em Guaratiba, o mergulhão caçador, que gosta de fazer ninho em áreas alagadas, e o Casaca-de-couro-da-lama, uma ave endêmica do Brasil.