Quetilene Soares Souza foi baleada e morta a caminho de casa, na Baixada FluminenseReprodução / Redes Sociais

Rio - "Destruíram uma família". O desabafo é de Gilian Martins, marido da gerente comercial Quetilene Soares Souza, 37 anos, que morreu após ser baleada em um confronto entre policiais militares e criminosos na comunidade do Dique, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na noite desta quinta-feira (20). O casal tem duas filhas, de 2 e 7 anos. 

Em entrevista ao 'RJ TV 1', da Globo, Gilian explicou que a mulher voltava do trabalho e estava a caminho de casa no momento em que foi atingida no pescoço. "Eu não aguento mais chorar, é minha esposa, a mulher da minha vida. Eles destruíram uma família, nós somos pais super presentes, desde a gestação eu estava presente, o que eu vou falar para minhas filhas? Como eu vou levar minhas filhas no enterro da mãe?"

O comerciante culpa os PMs pela morte da mulher. "Eles fizeram uma covardia enorme e ainda estão tentando colocar a culpa no tráfico, não tinha nenhum bandido, eles já tinham se escondido, estavam cabreiros, quando a polícia deu o tiro só tinha minha mulher de roupa preta nessa esquina, não tinha ‘radinho’, não tinha arma, só tinha minha mulher", disse.

Nas redes sociais, amigos também demonstraram revolta com a violência. "Está muito difícil morar aqui, até quando tanta violência? Perdi ontem à noite, vítima de bala perdida, uma grande amiga. Que Deus conforte os corações da família e que nossos governantes façam alguma coisa porque está insuportável conviver com tanta violência todos os dias. O Rio de Janeiro, infelizmente, está jogado às traças. Não temos paz em lugar nenhum. Queremos justiça", relatou uma amiga.

"Meus sentimentos a todos os familiares da Quetilene de Souza. Que Deus venha confortar o coração de vocês neste momento tão difícil. Descanse em paz! Difícil de acreditar. Tão nova, guerreira e uma super mãe", lamentou outra.

Quetilene chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital Moacyr do Carmo, em Caxias, mas não resistiu. Durante a manhã, familiares estiveram no Instituto Médico Legal do município para realizar a liberação do cadáver. O corpo será velado na capela da Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Magé, às 8h deste sábado (22). O sepultamento será às 12h, no Cemitério de Raiz da Serra, no mesmo município.

Protesto e ônibus queimado

Na ocasião do tiroteio, logo após Quetilene ser baleada, moradores protestaram contra PMs que estavam na região. "Vão atirando desse jeito, olha a garota morta, não é possível", disse uma vizinha.

"Mataram uma mulher inocente, uma moradora que tinha acabado de chegar do trabalho. Nós estávamos aqui no portão comemorando o aniversário de um amigo quando ela passou e falou com todos. Minutos depois vieram os tiros e a notícia de que ela teria sido baleada. Muita falta de preparo da parte dos policiais, mais uma família inocente que chora", lamentou outro vizinho.

Em imagens que circulam nas redes sociais é possível ver que a população ficou em meio ao fogo cruzado. Passageiros de um ônibus precisaram se abaixar dentro do veículo ainda durante o confronto. Um coletivo da viação Santo Antônio, linha 499 (Caxias x Parque São José), chegou a ser incendiado. Segundo a Semove, esse é o 11º veículo queimado somente este ano na Região Metropolitana.

"A empresa repudia mais um ataque criminoso ao transporte público em Caxias, na Baixada Fluminense. A inexistência de seguro inviabiliza o investimento na renovação da frota e prejudica diretamente a população. Em 6 meses, cada ônibus destruído deixa de transportar 70 mil pessoas", disse em nota.

O que dizem as autoridades?

De acordo com a Polícia Militar, agentes do 15ºBPM (Duque de Caxias), durante patrulhamento pela Avenida Governador Leonel de Moura Brizola, em Gramacho, foram alvos de vários disparos por parte de criminosos, houve confronto e durante a ação, os militares se abrigaram aguardando a estabilização do terreno.

Ainda segundo o comando da unidade, após o fim dos disparos, a equipe foi informada de que uma mulher teria sido atingida. Em seguida, ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital Moacyr do Carmo. O caso foi inicialmente registrado na 60ªDP (Campos Elíseos).

Procurada, a Polícia Civil informou que a investigação está em andamento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). As armas dos policiais militares que participaram da ação foram apreendidas para exame de perícia. Testemunhas serão ouvidas e demais diligências serão realizadas para identificar a origem do disparo que atingiu a vítima e esclarecer a dinâmica do fato.

Mortes na Linha Amarela
Na última terça-feira (18), dois inocentes também foram mortos durante um confronto entre policiais militares e criminosos, desta vez, na Linha Amarela, altura da saída 7, em Bonsucesso, na Zona Norte.
Uma das vítimas, Deborah Vilas Boas, de 27 anos, que estava em um ponto de ônibus, deixa uma bebê de apenas apenas sete meses. O outro baleado foi José Carlos da Silva Miranda, de 64 anos, que estava dentro de um coletivo da linha 315 (Central x Recreiro).

Segundo a Polícia Militar, agentes do 22º BPM (Maré) observaram criminosos em um veículo que tentavam roubar uma motocicleta no sentido Barra da Tijuca. Ao intervirem no assalto, houve confronto e os suspeitos atiraram contra os policiais e na direção do ponto de ônibus.