Na animação, a menina Riley entra na adolescência e ganha novas emoções, como a ansiedadeArte: Kiko

Falta de ar, boca seca, tremedeira, sensação de que o coração parece que vai sair pela boca e de que algo ruim pode acontecer, além de suor e a “batedeira no peito”: todos esses são sintomas da ansiedade, transtorno que é retratado no filme ‘Divertida Mente 2’, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 20. Na animação, a menina Riley entra na adolescência e ganha novas emoções, como a ansiedade, e o filme mostra como essa emoção pode impactar a vida de muitas maneiras.
Assim como a personagem Riley, a jornalista Jayne Souza, 22 anos, convive com ansiedade desde a infância: “Desde muito nova eu sempre sentia muita palpitação. Eu só sentia uma dor, que eu não sabia explicar como era e, junto com essa dor, vinha aquela falta de ar, dificuldade para respirar. Mas eu focava tanto na dor que eu não sentia esses sintomas. Eu só virava para os meus pais e contava que sentia uma dor no peito. Eu tinha uns 6 anos”, relata a jovem.
Para ela, o diagnóstico foi um alívio e poder reconhecer as crises ajudou a lidar coma ansiedade. “Antes, eu tinha crises, entrava em desespero, pedindo ajuda e ninguém sabia me ajudar. Eu não sabia me ajudar, minha mãe não sabia me ajudar. Então, agora eu sei. Quando começo a ter a crise, eu reconheço, já paro e respiro. Isso realmente mudou porque hoje em dia eu ainda tenho crises, mas sei controlá--las”, disse.
Ao ser diagnosticada com ansiedade, a jovem Gabriella Mouzinho, de 22 anos, se sentiu assustada por desconhecer o transtorno: “Eu começava a ter refluxo, aperto no peito, todos os sintomas começaram a piorar muito e ali eu comecei a ter crises sérias. Foi aí que eu comecei a achar que eu estava com problema cardíaco e ia morrer. Era ansiedade”, relata.
Na terapia, ela conseguiu identificar os momentos que desencadearam os primeiros sintomas de ansiedade, como a mudança de escola, a separação dos pais e uma perda familiar. Durante o terceiro ano do Ensino Médio, esses sintomas se intensificaram, especialmente devido a uma lesão no joelho que a impediu de dançar. Hoje, ela teve uma melhora na qualidade de vida: “Eu consigo fazer as coisas com leveza, porque chegou um momento em que a ansiedade estava tão alta que eu simplesmente não conseguia me divertir com os meus amigos e ter uma rotina que me ajudasse a lidar”, ressalta.

A psicóloga Claudia Melo destaca a diferença entre a ansiedade normal e o transtorno de ansiedade. Segundo ela, “a ansiedade normal é uma resposta natural do corpo diante de situações estressantes, como uma entrevista de emprego ou um exame. Já o transtorno de ansiedade se caracteriza “por uma ansiedade persistente, desproporcional à situação, que interfere significativamente na vida da pessoa, prejudicando seu bem-estar, funcionamento e qualidade de vida”, explica.
Tratamento
De acordo com o psicólogo George Leonardo, o tratamento para a ansiedade é definido de acordo com a intensidade dos sintomas, podendo ocorrer através de psicoterapia e também envolvendo o uso de medicamentos prescritos pelo médico, como antidepressivos e ansiolíticos, que atuam a nível cerebral para reduzir sintomas. Recomenda-se também complementar o tratamento com atividades físicas, meditação, dança, por exemplo, com o objetivo de reduzir o estresse, aumentar consciência corporal e ter uma sensação de relaxamento.
Ele orienta que, para prevenir crises de ansiedade, a pessoa “tenha uma rotina organizada, se conheça, não seja seu inimigo, tenha foco nas atividades físicas e na alimentação”. Segundo o nutrólogo Rodrigo Schröder, a nutrição pode desempenhar um papel complementar significativo nos tratamentos convencionais da ansiedade. “Uma dieta balanceada pode melhorar a eficácia das terapias psicológicas e, em alguns casos, reduzir a dependência de medicamentos”, pontua.
"Estou em crise, e agora?"
Segundo a psicóloga Luana Benetello, “a ansiedade pode ter um impacto significativo em várias áreas da vida, afetando a rotina diária, as relações interpessoais e outros aspectos importantes”.
Para lidar com ela, existem muitas técnicas que podem ser utilizadas durante uma crise. No entanto, ela ressalta que elas funcionam dentro de um combo, e não de formas isoladas.
Aqui estão algumas sugestões que, em momentos de crise, podem ajudar a reduzir esse sentimento: a respiração diafragmática, relaxamento muscular progressivo, atividades prazerosas na rotina e a técnica dos 5 sentidos.
A técnica da respiração diafragmática consiste em inspirar lentamente pelo nariz, segurar a respiração por alguns segundos e depois expirar lentamente pela boca. Outra técnica útil é
o relaxamento muscular progressivo, onde diferentes grupos musculares do corpo são tensionados e relaxados, reduzindo a tensão física e mental.
Além disso, a prática regular de atividade física, a inclusão de atividades prazerosas na rotina
e a manutenção de uma rotina diária também podem ajudar a diminuir a sensação de incerteza e a ansiedade. 
Uma técnica considerada fundamental é a dos 5 sentidos, que é uma estratégia usada para ajudar a acalmar a mente e reduzir a ansiedade, trazendo a pessoa de volta ao momento presente, que envolve focar nos cinco sentidos para diminuir o impacto de pensamentos ansiosos: visão, tato, audição, olfato e paladar.
"Alimentação balanceada é fundamental para o manejo da ansiedade"
Para o médico Rodrigo Schröder, nutrólogo especialista em performance, a relação entre alimentação e ansiedade é intrínseca, conforme explica:"Os alimentos fornecem os nutrientes que funcionam como substratos para a síntese de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que são essenciais para regular nosso humor e resposta ao estresse. Uma dieta inadequada pode levar a deficiências nutricionais que afetam esses neurotransmissores, aumentando os níveis de ansiedade”, explica.
Ele ainda salienta que uma alimentação balanceada é fundamental para o manejo da ansiedade: “Consumir uma variedade de nutrientes ajuda a manter a estabilidade química do cérebro e fortalece o sistema nervoso. Além disso, certos alimentos têm propriedades que podem acalmar a mente e o corpo, reduzindo os sintomas de ansiedade. Uma nutrição adequada não só melhora a saúde física, mas também tem um impacto direto na saúde mental", afirma.
Os nutrientes mais importantes para ajudar a reduzir a ansiedade incluem:
Magnésio: Essencial para a função nervosa, encontrado em alimentos como espinafre, sementes de abóbora e amêndoas.
Ácidos graxos ômega-3: Anti-inflamatórios naturais, presentes em peixes gordurosos como salmão e sardinha
Vitaminas do complexo B: Particularmente B6 e B12, que ajudam na formação de neurotransmissores, disponíveis em carnes, ovos e leguminosas
Triptofano: Um precursor da serotonina, encontrado em alimentos como peru, nozes e queijo