O Rio está enfrentando um aumento nos casos de coqueluche, popularmente conhecida como tosse comprida, seguindo uma tendência global que tem acendido um alerta para novos casos no Brasil e no mundo. Dados do sistema Tabnet, do Ministério da Saúde, revelam um crescimento de mais de 300% nas notificações da doença, com 34 confirmações até julho deste ano, em comparação com apenas oito casos em todo o ano passado. No município, o último caso notificado foi em agosto de 2021, mas, neste ano, já são 19 casos confirmados, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
A situação se reflete internacionalmente, o Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doenças (ECDC) alertou que o continente registrou 32 mil casos de coqueluche nos primeiros três meses de 2024, superando os 25 mil casos de todo o ano passado. Já na China, 32.380 casos e 13 óbitos foram contabilizados até fevereiro. Em resposta, o Ministério da Saúde do Brasil publicou uma nota técnica em junho, alertando sobre a possibilidade de um cenário similar no país.
O Brasil enfrentou seu último pico epidêmico de coqueluche em 2014, com 8.614 casos confirmados, e desde então, os números variaram entre 3.110 e 1.562 casos por ano, segundo dados do Ministério da Saúde.
Tosse é um dos principais sintomas da coqueluche
A coqueluche, conforme explica a pediatra Jessica Pinha, é uma doença bacteriana causada pela bactéria Bordetella pertussis. “Esta bactéria é transmitida através das gotículas de saliva de um portador, que pode transmitir a doença ao tossir ou ao ter contato direto com uma criança”, afirma a médica.
Tosse seca, falta de ar, febre e cansaço são alguns dos sintomas da doença. Pinha explica que a doença se desenvolve em três fases distintas: “Na primeira fase, chamada de fase catarral, os sintomas se assemelham a uma gripe, mas com mais secreção. A segunda fase é marcada por uma tosse intensa e piora dos sintomas respiratórios. Finalmente, a terceira fase, ou fase de convalescença, é quando a criança começa a se recuperar”, diz.
Para a pediatra e infectologista Flávia Gibara, os sintomas iniciais podem se assemelhar a um resfriado. Ela reforça ainda que a primeira fase, a catarral, é a fase menos sintomática da coqueluche e é a mais infectante da doença. Ela destaca os principais aspectos para o diagnóstico da doença: "Uma vez suspeitado o coqueluche, a confirmação do diagnóstico pode ser feita através de cultura ou de PCR da supressão obtida do paciente”, pontua.
Além disso, ela explica que “o indivíduo infectado pela coqueluche suscetível, a infecção, ele vai ter um período de uma semana, de 5 a 10 dias, em geral, de incubação até apresentá-lo em início de sintoma, porém, algumas vezes o período pode se estender até um mês, enfim, até seis semanas, mas isso é mais incomum", diz.
"É uma doença complexa e qualquer pessoa com tosse seca, não vacinada, pode ser considerada um caso suspeito, porque a principal medida de prevenção da coqueluche é a vacinação", alerta a médica. Geralmente, os sintomas duram entre seis e 10 semanas, podendo durar mais tempo, conforme o quadro clínico e a situação de cada caso.
A maioria das pessoas consegue se recuperar da doença sem maiores complicações ou sequelas. Contudo, nas formas mais graves, podem ocorrer quadros mais severos, com complicações como infecções de ouvido, pneumonia, parada respiratória, desidratação, convulsões, lesão cerebral e em alguns casos até a morte.
Tratamento e prevenção
Os grupos mais suscetíveis à coqueluche incluem recém-nascidos, lactentes, crianças imunossuprimidas e idosos. As complicações mais graves da coqueluche podem levar à insuficiência respiratória e, em casos severos, à necessidade de cuidados intensivos devido à hipóxia e ao risco de afogamento nas secreções. “Como é uma doença bacteriana, o tratamento da coqueluche envolve o uso de antibióticos da classe dos macrolídeos, como a claritromicina ou eritromicina, que ajudam a eliminar a bactéria causadora dos sintomas”, afirma a pediatra Jessica Pinha.
Gibara enfatiza a importância do suporte respiratório e da intervenção precoce:"O tratamento com antibiótico e muitas vezes internação, principalmente no caso das crianças pequenas porque a coqueluche nelas é mais grave, ele visa o suporte, a respiração, a ventilação desse paciente que pode estar muito acometido por conta de tosse, do esforço respiratório, das complicações”, acrescenta a pediatra e infectologista.
Portanto, a prevenção da coqueluche é possível por meio da vacinação, que é administrada em várias doses aos 2, 4, 6 meses, com reforços aos 15 meses e entre 4 e 6 anos. Além disso, é importante que gestantes, lactantes, cuidadores e profissionais de saúde também estejam vacinados para reduzir o risco de transmissão para crianças pequenas.
A proteção conferida pela vacinação vai além da proteção individual. Gibara afirma: "É sempre importante dizer que a proteção vacinal tem um efeito de proteção individual. A pessoa que já tem todas as doses completas e está com seus reforços em dia está protegida. Mas, quando se atinge as metas de cobertura vacinal e se tem muitas pessoas imunizadas, temos o que chamamos de imunidade de rebanho ou coletiva. Isso significa que, com menos casos e transmissão da doença, as pessoas que porventura não puderam se vacinar ou que estão com a imunidade baixa também estão protegidas”, afirma a infectologista e pediatra.
Embora a vacinação e a imunidade adquirida pela doença conferem proteção duradoura, essa proteção não é permanente. Gibara adverte: "A cada 10 anos, esses títulos de anticorpos podem cair e a pessoa pode apresentar a doença, mesmo estando vacinada e tendo tido a doença. Isso não é tão comum, mas pode ocorrer." No entanto, é importante lembrar que a coqueluche em adultos, longe dos extremos das idades, tende a ser menos grave do que nos bebês.
De acordo com a infectologista, as medidas de prevenção de ouro para a transmissão de qualquer infecção no inverno seja respiratória e qualquer infecção viral, bacteriana são as mesmas bastante faladas e desde a pandemia de Covid-19, como lavar as mãos com frequência, evitar aglomeração, evitar ambientes fechados, evitar levar as mãos aos olhos, boca, nariz sem higienizar previamente, evitar o contato com pessoas doentes e o uso de máscara por pessoas doentes que podem eliminar gotículas infecciosas são importantes.
No entanto, ela salienta que "a principal medida de prevenção da coqueluche, sem sombra de dúvida, é a vacina, que é amplamente difundida e utilizada há muitos anos e muito segura", pontua a médica.
Queda da cobertura vacinal
De acordo com o Ministério da Saúde, a queda nas coberturas vacinais é apontada como principal razão para a preocupação atual sobre a doença. A pediatra Jessica Pinha salienta que é crucial que os pais mantenham um acompanhamento médico regular para seus filhos e confiem nas orientações de seu pediatra, que pode ajudar a desmistificar informações incorretas sobre vacinas.
As secretarias de saúde estadual e municipal (SES-RJ) e (SMS), intensificaram as ações de prevenção da doença e reforçam que a imunização está disponível nas unidades de saúde com a vacina pentavalente, a DTP e a dTpa adulto, vacinas contempladas no Programa Nacional de Imunização.
“O aumento de casos de coqueluche e o retorno da doença apontam para a necessidade de intensificar as ações de vacinação. As coberturas vacinais ficaram muito abaixo da meta nos últimos anos. No ano de 2023 conseguimos voltar a ter um crescimento nas coberturas vacinais, mas muitas crianças ainda não tomaram as doses no período recomendado. Por isso é muito importante que os pais procurem uma unidade de saúde para atualizar a caderneta de vacinação das crianças”, afirma o secretário municipal de saúde, Daniel Soranz.
“Temos notado um aumento importante no número de casos de coqueluche, principalmente, em crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. Por isso, reforçamos a necessidade do público-alvo ser vacinado com todas as doses de reforço para garantir a imunização necessária contra a doença”, destacou a secretária de estado de Saúde, Claudia Mello.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.