Cariocas lotam o Museu Aeroespacial do Rio em celebração aos 151 anos de Santos DumontRenan Areias / Agência O Dia

Rio - O Museu Aeroespacial (Musal), no Campo dos Afonsos, Zona Oeste do Rio, recebeu centenas de cariocas no sábado (20) e no domingo (21) para celebrar os 151 anos de nascimento de Santos Dumont (1873-1932), o Pai da Aviação. O espaço, que é da Aeronáutica, promoveu um grande evento gratuito, com acrobacias aéreas, exposições, exibição de paraquedistas, balonismo, além de diversas atividades educativas.
Na parte interna do Musal, o destaque foi a exposição de antigas aeronaves, dentre elas, uma réplica do 14-Bis, modelo criado por Santos Dumont. Para receber os visitantes, o tenente Giovanni Augusto se caracterizou em homenagem ao Pai da Aviação. Um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal também atraiu a atenção do público.
A novidade da edição deste ano ficou por conta do robô humanoide 14-Bis, desenvolvido em 2016 pelo professor Joel Ramos com Inteligência Artificial, a partir de peças recicláveis e de motores comprados pela internet.
No sábado, o motorista de caminhão Fernando José, de 47 anos, levou o filho mais novo, Davi Martins, 12, para conhecer o espaço pela primeira vez. Em entrevista ao DIA, ele revelou que já participou de outros eventos no local e que ele e Davi tiveram uma "experiência sensacional".
"O que mais gostamos foi da atividade da Polícia Rodoviária Federal. Fomos atendidos pelo piloto de uma aeronave que nos deu muitas explicações, a maioria delas são relacionadas com a minha área e pude coletar informações importantes para meu trabalho. As acrobacias foram sensacionais e as explicações do museu, com peças do acervo, foram fantásticas. Sensacional!", disse.
Para Fernando, a visita ao museu foi muito mais do que uma atividade recreativa com a família. O caminhoneiro acredita que esse tipo de evento também motiva as crianças e adolescentes na escolha da carreira.
"O meu filho foi, pela primeira vez, e ficou muito impactado. Isso incentiva demais na escolha de carreira. Embora ele tenha apenas 12 anos, isso causa uma motivação muito grande para que ele enxergue um futuro bem melhor, tanto na carreira militar quanto na civil. Ele saiu daqui querendo ser paraquedista", completou.
Tenente da Força Aérea Brasileira e museólogo Giovanni Augusto, de 34 anos, avalia que evento o representa a "esperança". "Muito mais do que incentivar a carreira militar, esse evento incentiva a seguirem os sonhos. A carreira militar é uma consequência, tem gente que vai seguir e tem gente que não, mas ela tem um incentivo de criar e seguir os sonhos. O museu vem para mostrar que isso é possível, afinal, Santos Dumont sempre acreditou em seus sonhos", comentou.
Caracterizado de Santos Dumont, Giovanni recebeu os visitantes dentro de uma das exposições. Conterrâneo do Pai da Aviação, o mineiro afirmou ser uma satisfação interpretá-lo e levar ao público um pouco sobre sua história.
"Para mim é um orgulho não só por estar representando o Pai da Aviação, mas também por ser mineiro. Representar uma pessoa da minha terra, que tem grande importância para a viação brasileira e um dos maiores cientistas de todos os tempos, é um orgulho imenso, acho fantástico", reforçou.
Servindo como museólogo no Musal, o militar entende que essa homenagem é fundamental para ajudar a preservar história de um dos mais importantes nomes da história. 
"Santos Dumont é um orgulho para a pátria. Além de ser fundamental para a história do Brasil, ele representa a esperança, o sonho. Ele sempre teve a esperança de voar, de ir longe, de conectar as pessoas. Daí nós temos a criação do avião, que torna mais fácil isso. Hoje é muito mais fácil ir em outro país, conhecer outro estado, rever pessoas... tudo graças a essa invenção. Então é importante falar dela, ter essa preservação da história", exaltou Giovanni.
O servidor público Júlio César da Silva Oliveira, 53, também foi ao museu para participar do evento. Acompanhado de sua mulher, Michele Santos, 43, e do filho, Jhulio Lorenzzo, 8, o bibliotecário realizou um sonho.
"A celebração me impactou bastante, porque era um sonho de criança conhecer o museu e a história da aviação. Eu só senti falta de um guia que pudesse estar narrando os acontecimentos dentro da história, a evolução de cada aeronave. Mas nós gostamos bastante", comentou.
Além das exibições aéreas, Júlio contou que a parte histórica foi uma das coisas que que mais chamou a atenção da família.  
"Como nós somos pais atípicos de uma criança especial, nós temos duas opções. Ou ficar na obscuridade ou sair com ele para os lugares, que foi o que optamos. Estamos explorando coisas que possam dar para ele uma melhor qualidade de vida e a gente notou que ele interagiu bastante", contou.
De acordo com Júlio, seu filho, que tem paralisia cerebral, foi diagnosticado com cegueira. Durante o evento, no entanto, a família ganhou novas esperanças.
"Teve um momento que a recreadora jogou umas bolhas de sabão e ele ficou prestando atenção. Quando a bolha pegou nele, ele riu. Então nós tivemos a certeza que ele não só enxerga, mas também tem a percepção das coisas. Essa cena foi importante, porque para nós, porque qualquer evolução é uma vitória", comemorou.
O Museu Aeroespacial fica na Avenida Marechal Fontenelle 2000, no Campo dos Afonsos, e está aberto a visitações, de forma gratuita, de terça a domingo, das 9h às 17h.
Quem foi Santos Dumont
Alberto Santos Dumont nasceu em 20 de julho de 1873, na cidade de Palmira - hoje rebatizada como Santos Dumont -, em Minas Gerais, e desde pequeno manifestava seu interesse por máquinas. Enquanto jovem, ele fazia experiências com balões nas festas juninas, construía pipas exóticas e chegou a montar pequenas aeronaves movidas a elástico e hélice.
Em 1892, aos 19 anos, foi viver em Paris, na França, para desenvolver seu potencial. Estudando matemática, física, eletricidade e mecânica, ele conseguiu subir ao céu parisiense um balão dirigido pelo mecânico Machuron, em 23 de março de 1898.
No dia 7 de setembro de 1906, fez história na aviação mundial ao tentar realizar o primeiro voo de sua nova criação, o 14-Bis. Isso aconteceu no campo de Bagatelle, em Paris, e a data foi escolhida por ele para homenagear a independência do Brasil.
Pouco mais de um mês depois, no dia 23 de outubro de 1906, no mesmo local, Dumont conseguiu decolar com seu 14-Bis. Percorrendo uma distância de 60 metros em sete segundos, a uma altura de dois metros, este foi o primeiro voo de um avião mais pesado que o ar a conseguir decolar por seus próprios meios.
Ao menos outras oito inovações estão diretamente vinculadas ao brasileiro. Ele foi o inventor do motor de cilindros opostos, que são usados até hoje; o criador do relógio de pulso e a primeira pessoa a trazer ao Brasil um automóvel movido a petróleo.
Sofrendo de depressão profunda ao ver sua grande criação sendo utilizada em guerras pelo mundo, Alberto Santos Dumont morreu aos 59 anos, depois de se suicidar no Guarujá, São Paulo, em 23 de julho de 1932. Seis anos antes, ele havia enviado uma solicitação à Liga das Nações pedindo para que o avião fosse proibido em guerras, que não foi atendido.
 
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi com colaboração de Renan Areias, sob supervisão de Raphael Perucci