Coordenador do programa estadual RJ Transplantes, Alexandre CauduroDivulgação

Rio - O programa estadual RJ Transplantes, vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, alcançou um impressionante aumento de 25% no número de transplantes realizados nos primeiros seis meses deste ano, comparado ao mesmo período de 2023. Para Alexandre Cauduro, cardiologista e coordenador da iniciativa, a melhoria nos resultados é diretamente atribuída à capacitação humanizada das equipes responsáveis pela abordagem das famílias enlutadas. Cauduro destaca que, apesar de a doação de órgãos ser altruísta e sem compensação financeira, a verdadeira recompensa é saber que se está contribuindo para a vida de outra pessoa. No primeiro semestre de 2024, 486 pessoas já foram beneficiadas pelo Programa. 

O programa RJ Transplantes vem batendo recordes na captação e na realização de cirurgias. O que tem contribuído para esse sucesso?

Alexandre Cauduro - Este trabalho é de todos os profissionais de saúde. A população carioca e fluminense é bastante solidária e entende a importância da doação de órgãos. Se você pesquisar ou perguntar nas ruas se as pessoas são a favor da doação de órgãos, a grande maioria é a favor. O problema é você poder, naquele momento que é da perda, talvez o mais triste da vida daquelas pessoas, fazer com que a família entenda e realize um ato de solidariedade, um ato altruísta, ao doar os órgãos de um familiar. Então, é preciso ter capacitação, você precisa ter equipes preparadas para acolher a família.

Quais são as ações implementadas no Rio de Janeiro?

Alexandre Cauduro - O que a Secretaria de Estado de Saúde tem feito no Rio de Janeiro é qualificar as equipes das Comissões Intrahospitalares de Doação de Órgãos. Os hospitais de emergência grandes ou pequenos precisam ter essas comissões. O que acontecia antes? Os profissionais de saúde ficavam divididos entre diferentes tarefas no CTI e na emergência. Pesquisamos como era feito em outros estados e até em outros países e constatamos que o diferencial é humanizar o acolhimento da doação de órgãos. A partir daí, passamos a capacitar esses profissionais para que eles possam prestar um melhor acolhimento à família. A doação é uma consequência do acolhimento.

Os números comprovam que a experiência deu resultado, certo?
Alexandre Cauduro - Nossas equipes vêm ajudando muito a ampliar as doações de órgãos. O Rio de Janeiro tinha uma demanda reprimida de doação. Tínhamos 19 doadores por milhão de habitantes em 2019, que era o nosso recorde, e hoje estamos com 27 doadores por milhão de habitantes. Aumentamos em 50% em três anos. O Brasil como um todo aumentou a doação, mas o Rio de Janeiro foi o que mais acelerou esse aumento.

Como funciona o RJ Transplates?

Alexandre Cauduro - A Central Estadual de Transplantes é o local onde as notificações dos potenciais doadores chegam. Uma das nossas principais atribuições é checar se o processo de diagnóstico de morte encefálica foi feito adequadamente. É preciso ter um exame de imagem coerente com o quadro clínico, sendo necessário também um método complementar. Também é preciso ter dois médicos para atestar o diagnóstico de morte encefálica, porque a doação de órgãos só é possível após o consentimento da família, mas, principalmente, com o diagnóstico de morte encefálica confirmado. A partir dessa checagem e se todas as etapas do processo foram bem cumpridas, partimos para a distribuição desses órgãos. Organizamos a logística de captação e depois a distribuição dos órgãos, ou seja, para quais receptores esses órgãos irão. Todo o sistema é eletrônico, não existem escolhas pessoais para a destinação do órgão.

Quais são as próximas etapas?

Alexandre Cauduro - Uma vez decididos quais serão os órgãos captados ou não, precisamos organizar as equipes de captação. Hoje, a captação de rim, por exemplo, é provida pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Central de Transplantes. O fígado, o coração e o pulmão são captados pelas equipes transplantadoras, ou seja, aquela equipe que irá transplantar o órgão é a mesma que irá captá-lo. No caso do rim, a dinâmica é diferente porque a lista é muito grande. E os testes de compatibilidade precisam ser feitos para decidir exatamente o destino do órgão. A partir do momento em que organizamos a logística, temos um apoio importante junto à Superintendência de Operações Aéreas (SOAer) da SES-RJ, que nos confere agilidade.

Como funciona essa parceria com SOAer?

Alexandre Cauduro - Por exemplo, se temos órgãos em Itaperuna, o helicóptero é acionado para levar a equipe, que consegue captá-los e trazê-los para a nossa Central o mais rápido possível. Daí, distribuímos para quem vai receber. Ou seja, é um processo complexo que envolve desde a notificação do órgão, a completa checagem para atestar se o processo está em conformidade com as regras, além da organização de uma logística.

Quem pode ser doador ou doadora?
Alexandre Cauduro – O doador tem que ter entre 7 dias de vida e menos de 90 anos. Precisa ter havido o diagnóstico de morte encefálica confirmado para órgãos sólidos. Na morte circulatória, ou seja, quando o coração já parou, também pode ser doados tecidos, córnea, pele, músculo esquelético e músculos tendões. Existem alguns critérios mais técnicos em relação às infecções, que podem limitar aquele órgão, impedindo seu aproveitamento.


É preciso ter autorização da família?
Alexandre Cauduro – Tivemos, recentemente, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça sobre a AEDO (Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos). Basta preencher um cadastro na internet, autorizando a doação e depois registrar no cartório. O processo é gratuito e entra em um banco de dados. Então, hoje no Brasil, é uma iniciativa importante porque criamos um cadastro positivo de doação de órgãos.