Chico Águia treina e se prepara para maratonas Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Envelhecimento ativo e a importância do exercício físico na terceira idade
Mais disposição, socialização e fortalecimento da musculatura estão entre os benefícios da atividade física
Viver com dinamismo, continuando ativo enquanto envelhece, parece difícil ao considerar as limitações impostas pela idade no decorrer dos anos. No entanto, a fórmula para uma vida longa e saudável pode estar em uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos. Como é o caso de Francisco e Marlene que, após os 60 anos, redescobriram a qualidade de vida e o bem-estar por meio da atividade física.
Francisco de Assis Soares de Melo, conhecido como Chico Águia, é um exemplo de vitalidade e determinação. Aos 83 anos, ele mantém uma disposição que impressiona a todos que o conhecem. Além de competir em provas de rua, ele chama a atenção por correr descalço, inclusive nos 42 quilômetros das maratonas que participa. "Sinto melhor as passadas, o que ajuda no meu desempenho", diz Chico, explicando sua escolha incomum.
O apelido "Águia" não foi dado por acaso. A águia é um símbolo de renascimento e agilidade, características que Chico também possui. Ele explica que se identifica com a ave pela sua capacidade de renovação: "Quando ela chega em idade bem avançada, ela se afasta para um lugar alto, onde encontra um local para se recuperar, tirar suas penas, unhas, bico, jogar tudo fora, colocar no lugar e ficar esperando, renascer. Ele vê a corrida como um processo semelhante: "Foi o que aconteceu comigo. Eu escolhi a águia por eu ter renascido com a corrida aos 62 anos quando comecei a correr na Meia Maratona. Para mim, eu sinto como se ainda tivesse 18 anos", diz.
Para Chico, a corrida não é apenas uma atividade física; é uma fonte de alegria e bem-estar, que se reflete em sua vida cotidiana, inclusive no trabalho como zelador. "A corrida me trouxe tudo de bom, me trouxe alegria. Faz muito bem. Para quem tem problema de pressão e quer fazer, não precisa sair para correr não, igual a mim não, sai andando e caminhando, e vai ajudar com a doença", aconselha ele, sempre incentivando os outros a adotarem um estilo de vida mais ativo.
Ele relembra com orgulho uma das muitas maratonas percorridas, a Corrida Soldado do Bope, em que percorreu o trajeto descalço, enfrentando terrenos variados, incluindo lama, ladeiras e superfícies escorregadias: "Estava correndo na chuva e era noite. Caramba! Eu estava sentindo dificuldade, mas não me entreguei", disse.
Para Chico Águia, a corrida é mais do que um esporte, é um meio de mostrar às pessoas que a vida continua e que é possível manter a vitalidade e a disposição, independentemente da idade. "O que me faz continuar é poder mostrar ao povo que a gente que é idoso não morreu, estamos vivos. As pessoas olham para mim e se inspiram para correr, até os mais jovens", afirma.
Já a aposentada Marlene Avelar, de 70 anos, começa seu dia bem cedo, às 6h, indo à academia, onde segue uma rotina que inclui musculação, pilates e natação. Essa jornada pelo exercício começou por recomendação médica, mas rapidamente ela tomou gosto pela atividade.
Para ela, as atividades não só melhoraram a saúde física, como também trouxeram benefícios para sua saúde mental, além de proporcionar momentos de socialização com pessoas de diferentes idades. "Eu melhorei a minha saúde toda. Para a minha saúde mental também foi bom por poder conviver com outras pessoas de outras idades, os mais jovens e os mais velhos. Com a atividade física eu percebi que fiquei mais dinâmica. Para caminhar é melhor, fiquei mais animada e até consigo abaixar para pegar alguma coisa que caiu no chão sem dificuldade", conta.
Marlene reflete sobre a importância de não ficar parada: "A gente vai ficando mais idoso e tem que fazer alguma coisa. Se eu ficar parada em casa não dá", desabafa. Ela enfatiza que a idade não é um obstáculo para continuar ativa: "A minha idade não me limita, eu faço tudo que eu quero. Dentro do que eu posso!", diz a aposentada.
Segundo o educador físico da Casa de Repouso Rede Sênior, Marcelo Marques, “Os exercícios mais adequados para essa faixa etária incluem caminhada, natação, hidroginástica, musculação, alongamento e dança”, recomenda.
Marques enfatiza a importância de realizar essas atividades em grupos, preferencialmente em ambientes naturais, o que potencializa a experiência e torna o exercício mais prazeroso. Ele também destaca que a regularidade e a adaptação da intensidade dos exercícios são fundamentais: “Exercite-se ao ritmo apropriado, sem pressa para não se esforçar demasiado, e sempre com o uso de calçado adequado. É essencial que o idoso esteja sempre acompanhado por profissional adequado como um educador físico.”
O fortalecimento muscular é outro ponto crucial apontado pelo profissional, pois ajuda no aumento da massa magra, na força muscular, na mobilidade funcional e no equilíbrio. Para garantir a segurança e a eficácia das atividades, ele recomenda que os idosos passem por exames e avaliações médicas antes de iniciar uma rotina de exercícios. Além disso, é importante que os exercícios escolhidos sejam agradáveis para o idoso, facilitando a adesão a uma rotina saudável. "Começar aos poucos, preferencialmente em grupos, e definir uma rotina é fundamental para o sucesso da prática", pontua o educador físico.
Sempre é tempo para começar
O médico e gerontólogo Alexandre Kalache observa que a expectativa de vida no Brasil aumentou consideravelmente nas últimas décadas, o que torna ainda mais crucial preparar a população para envelhecer com qualidade de vida.
Ele destaca o crescimento acelerado da população com mais de 60 anos, que, segundo projeções, passará de 16% em 2023 para cerca de 31% até 2050. Isso significa que uma pessoa com 35 anos hoje terá 60 anos em apenas 25 anos. Portanto, é essencial garantir que a população idosa do futuro tenha uma alta qualidade de vida, o que começa com a manutenção da boa saúde.
"Temos que fazer todo o esforço possível para que essa população de pessoas idosas de amanhã e que já estão adultas, elas possam chegar com um nível mais alto possível de qualidade de vida.
Nesse contexto, o médico explica que a atividade física em idosos proporciona três benefícios principais: Primeiro, fortalece a musculatura, o que é vital, já que a perda de massa muscular é comum com o envelhecimento. Sem exercício, a pessoa pode se tornar debilitada, possivelmente até incapaz de se levantar da cama. Segundo benefício, a atividade física melhora a saúde física geral, beneficiando o sistema cardiovascular, respiratório e as articulações. E um último aspecto importante é que a atividade física proporciona oportunidades de você se socializar, especialmente quando praticada em grupos, ajudando a combater a solidão, um dos grandes desafios do envelhecimento", afirma o gerontólogo.
Além dos benefícios físicos, a atividade física também combate a depressão, um problema comum entre os idosos. Kalache reforça que: "quanto mais cedo se inicia a prática de atividades físicas, melhor". A continuidade ao longo dos anos é fundamental para colher os benefícios do envelhecimento.
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