Rio - A Igreja Imaculado Coração de Maria, carinhosamente conhecida como a "joinha do Méier", localizada na Rua Coração de Maria, na Zona Norte, comemora 60 anos da elevação à condição de Basílica Menor e da coroação da imagem do Imaculado Coração de Maria, neste domingo (25). A ascensão à basílica é um título exclusivamente dado por um papa a imóveis de rara beleza e importância histórica.
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O título é fruto de decreto realizado pelo então papa e hoje santo, João XXIIII, em 1964. O templo é um dos poucos edifícios de rito religioso no Brasil construído em estilo moçárabe, gênero artístico denominado alto-medieval. No Rio, apenas o prédio da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, também na Zona Norte, possui semelhança.
A basílica, inaugurada em dezembro de 1917, foi projetada a pedido de religiosos claretianos, congregação fundada por Santo Antônio Maria Claret. Os fiéis buscaram, na Espanha, uma inspiração nos movimentos arquitetônicos, que revitalizaram estilos medievais, de forma particular o moçárabe, que possui suas características voltadas para a arte árabe.
"Nossos fiéis estão orgulhosos e eufóricos com este jubileu, que vem sendo preparado com empolgação e muita fé há anos. São pouquíssimas imagens coroadas por decretos papais no Brasil. E o nosso estilo moçarábico é único também no país. Não temos notícias de outro templo com esse estilo, com tanta natureza e riqueza de detalhes", disse o pároco Júlio César Melo Miranda.
Neste domingo (25), os festejos começam cedo, às 7h, e se estendem por toda a manhã. Haverá momento cívico, missa concelebrada por bispos e pelo cardeal dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, e coroação simbólica da imagem de Maria pelas crianças da catequese.
Neste dia, extraordinariamente, não haverá missa às 9h e às 11h, mas a das 18h, como de costume, está mantida. A capacidade da basílica, que conta com diversas pastorais e oferece até consultas médicas regulares na secretaria paroquial, é de mil pessoas - 900 delas, sentadas.
Importância para os fiéis
Histórias de dedicação, amor e devoção ao Imaculado Coração de Maria, formam os féis que comparecem à basílica. Consuelo Tenuto, de 83 anos, moradora do Méier, começou a frequentar o templo em 1951. No local, ela conheceu o marido, se casou e batizou os filhos, que também celebraram seus casamentos. Atualmente, a idosa é uma das organistas nas missas e ministra da Eucaristia e da Comunhão. Consuelo esteve presente na elevação da igreja à basílica em 1964.
"Eu tinha 23 anos e já participava ativamente da igreja, onde iniciei minha caminhada bem antes, ainda criança, em 1951. Aqui eu conheci meu marido, me casei, batizei meus filhos, que se casaram também aqui. Estou muito feliz, porque essas coisas todas me trazem grandes lembranças desses anos todos. Eu venho todos os dias com maior prazer. Quando não venho, me sinto muito frustrada", comentou.
O administrador Sinésio Moreira de Carvalho Júnior, de 41 anos, frequenta missas no local todos os dias há três anos. Oito meses atrás, ele descobriu um tumor maligno na cabeça. Segundo o homem, após orações, a doença foi curada.
"Nossa Senhora é uma coisa linda e muito profunda na vida da gente. Aquela oração diária que a gente faz desde a hora que acorda até a hora que vai dormir. Eu fiz uma cirurgia, operei minha cabeça, pois apareceu um tumor maligno há oito meses. Fiz a cirurgia, tirei uma parte da doença pra fazer o exame e precisaria fazer uma nova cirurgia dois meses depois. Nesse período que fiquei aguardando, foi solicitado pelo médico uma nova ressonância e quando veio o resultado não tinha mais nada. A fé em Cristo me deu essa cura", destacou.
Formato arquitetônico
Inaugurado em 8 de dezembro de 1917 e tombado como patrimônio histórico pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), em 2009, o templo tem formato arquitetônico exuberante concebido por meios dos traços do arquiteto, urbanista e professor espanhol, Adolfo Morales de los Rios y García de Pimentel. Entre outras características, a basílica tem altar reservado ao Papa ou a cardeais e cardeais-arcebispos.
Com uma imponente nave central, de 64 metros de comprimento e 24 de largura, e torre de 34 metros de altura, o que equivale a um prédio de quase 12 andares, o templo se destaca não apenas por sua grandiosidade, mas também por sua rica história e significado para a comunidade católica carioca.
Se por fora a basílica encanta, internamente os detalhes inspirados no estilo neoárabe, presentes na arquitetura eclética brasileira entre o final do século XIX e o início do século XX, também deslumbram fiéis e visitantes. A "joinha do Méier" foi eleita, em 2012, um dos cartões-postais da série "Olhos de Ver", do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
A parte interna e externa abrigam peças raras, com entalhes e relevos arabescos, favos de mel e rendilhados. Esses detalhes estão presentes na maioria das edificações existentes na Andaluzia, como as de Alhambra e Córdoba. O xodó da basílica é a imagem da padroeira em destaque no altar-mor. A imagem do Imaculado Coração de Maria possui 1,80 metro de altura e foi esculpida em madeira policromada e com detalhes em aplicação de ouro, trazida pelo padre Florentino Simón da cidade de Olot, na Espanha.
Todos os objetos são vigiados por câmeras, alarmes e grades.
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