Lorraine Pereira da Silva (camiseta listrada na horizontal), irmã de Erick, esteve no hospitalPedro Teixeira / Agência O Dia

Rio - Um ataque a tiros deixou quatro mortos e cinco feridos, na madrugada deste sábado (31), em um bar em Turiaçu, na Zona Norte. Segundo moradores da região, integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP), da comunidade da Serrinha, teriam invadido a comunidade da Congonha, dominada pelo Comando Vermelho (CV), para atacar bandidos que atuam no tráfico de drogas local.
Em nota, a Polícia Militar informou que quatro pessoas deram entrada já mortas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rocha Miranda, também na Zona Norte: Lucas de Sousa de Sá, de 28 anos, que trabalhava no estabelecimento; Denis da Silva Ventura, de 24; Thiago de Mello Araújo, também de 24; e Alisson Henrique da Silva Lucena, de 41 anos.
Outros cinco feridos feridos foram encaminhados ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Erick Patrick Pereira da Silva está internado em estado grave na unidade, enquanto Ryan da Silva Mascarenhas tem um quadro considerado estável. Ana Carolina Santoro, Tatiana Silvestre Filho e Luis Cláudio dos Santos receberam alta hospitalar na manhã deste sábado (31).
Lorraine Pereira da Silva, irmã de Erick, esteve no hospital e afirmou que o ataque aconteceu durante uma invasão de criminosos do Morro da Serrinha. Ela relatou que uma das vítimas teria pedido, sem sucesso, que os bandidos não atirassem, pois só havia trabalhadores no estabelecimento.
"Eles estavam em uma rua de acesso à comunidade, que é bem movimentada. Isso não é uma guerra que aconteceu pela primeira vez, já aconteceu diversas vezes. Quem sofre com isso somos nós moradores. Só quem sofreu, quem foi atingido, foram moradores", lamentou.
De acordo com a PM, equipes do 9º BPM (Rocha Miranda) intensificaram o policiamento na região após o ataque.
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Segundo a Polícia Civil, diligências estão em andamento para apurar a autoria e a motivação do crime.
Vítima trabalhava no bar
O ataque aconteceu na Whiskeria DG Mix, na Rua Silvio Tibiriçá. Lucas de Sá, uma das vítimas fatais, estava trabalhando no bar no momento que o ataque aconteceu. Bruno Sousa, um dos donos do estabelecimento e irmão da vítima, usou as suas redes sociais para lamentar a perda. Segundo o relato, o homem tentou se proteger na câmara fria. 
"Acabaram com nossa família e com o nosso sonho. Hoje, a família Mix está totalmente destruída. A gente só tinha uma preocupação que era trabalhar pra vencer e pra obter nossos objetivos, sem pegar atalhos, sem tentar fazer ninguém de trampolim. A gente simplesmente trabalhava, e muito de segunda a segunda! O que aconteceu hoje eu nunca vou entender. Lucas nunca fez mal pra ninguém, nunca se envolveu com nada de errado, foi um dos caras mais corretos que eu conheci na vida. Pelo contrário, ele odiava os atalhos. Ele não aceitava nada que fosse corromper sua índole e seu caráter e olha o final que ele teve. Matar meu irmão que estava trabalhando atrás de um balcão, que tentou se defender, correr pra dentro da câmera fria e mesmo assim foi morto sem dor e sem piedade, por qual motivo? Qual explicação? Até quando vamos ter que conviver com isso? Até quando outras famílias vão ser destruídas sem motivos. Vão ter que morrer quantos Lucas de Sá pra gente ter uma resposta? Você foi um exemplo de homem do bem. Te amo, irmão. Seu legado jamais será esquecido", escreveu.
Bruno ainda comentou sobre a situação em que a comunidade vive, no meio de uma guerra entre duas facções rivais.
"Infelizmente, o nosso comércio é dentro da comunidade (logo no pé do morro). Quem conhece nossa trajetória sabe que a gente nunca teve vínculo e nem envolvimento com nada de errado, porém quem mora em comunidade sabe como é. A gente nasce, cresce e cada um segue seus caminhos. Nossa whiskeria é a referência da região, são mais de sete anos nessa luta e 99% que frequenta são pessoais do bem. Outra parte são a minoria que mora na comunidade e escolheu o lado errado da vida, mas nem por esse motivo essa guerra maldita de facção tem direito de simplesmente chegar um local que tem 99% de trabalhadores e simplesmente vir atirando", completou.
Lucas de Sá será sepultado às 14h deste domingo (1º) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte. O velório está previsto para começar às 10h.
Ainda não há informações sobre o enterro das outras vítimas.
Comissão acompanha caso
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) atende, neste sábado (31), parentes das vítimas do ataque a tiros em um bar. Membros da CDDHC assistem as famílias e aguardam o final da perícia da Polícia Civil.
Para a deputada Dani Monteiro, presidente da comissão, este episódio, que é mais um fruto da guerra entre facções, deixa explícito o colapso da política.
"Uma política de segurança que aposta no confronto armado há muitos anos acaba incentivando a entrada de armas nas áreas controladas por criminosos. Como não existem estratégias para enfraquecer economicamente essas organizações, elas continuam a se fortalecer e a se armar, colocando civis e policiais em risco. Esse perigo poderia ser evitado com planejamento e inteligência. Estamos acompanhando a situação dos feridos e nos solidarizamos com a família de Lucas", afirmou a parlamentar.
* Colaborou Pedro Teixeira