Lucas de Sá morreu baleado no bar onde trabalhava em TuriaçuReprodução / Redes Sociais
'Acabaram com nossa família', diz irmão de homem morto em ataque a bar de Turiaçu
Lucas de Sousa de Sá, de 28 anos, tentou se esconder em uma câmara fria do estabelecimento, de acordo com relato do empresário Bruno Sousa
Rio - Lucas de Sousa de Sá, de 28 anos, uma das vítimas do ataque a tiros a um bar em Turiaçu, na Zona Norte, na madrugada deste sábado (31), foi assassinado enquanto trabalhava no estabelecimento. Outras três pessoas também morreram e cinco ficaram feridas.
Em relato nas redes sociais, Bruno Sousa, irmão da vítima e um dos donos do bar, contou que Lucas tentou se esconder na câmara fria, mas mesmo assim foi baleado pelos criminosos. De acordo com o empresário, o parente não tinha envolvimento com crime e estava trabalhando para seguir crescendo na vida.
"Acabaram com a nossa família e com o nosso sonho. A gente só tinha uma preocupação que era trabalhar pra vencer e pra obter nossos objetivos, sem pegar atalhos, sem tentar fazer ninguém de trampolim. O que aconteceu hoje eu nunca vou entender. Lucas nunca fez mal pra ninguém, nunca se envolveu com nada de errado, foi um dos caras mais corretos que eu conheci na vida. Pelo contrário, ele odiava os atalhos. Ele não aceitava nada que fosse corromper sua índole e seu caráter e olha o final que ele teve. Matar meu irmão que estava trabalhando atrás de um balcão, que tentou se defender, correr pra dentro da câmara fria e mesmo assim foi morto sem dor e sem piedade, por qual motivo? Qual explicação? Até quando vamos ter que conviver com isso? Até quando outras famílias vão ser destruídas sem motivos. Vão ter que morrer quantos Lucas de Sá pra gente ter uma resposta? Você foi um exemplo de homem do bem. Te amo, irmão. Seu legado jamais será esquecido", escreveu.
O ataque aconteceu na Whiskeria DG Mix, na Rua Silvio Tibiriçá, próximo à comunidade da Congonha, que é dominada pelo Comando Vermelho (CV). De acordo com moradores, o crime foi realizado por traficantes da comunidade da Serrinha, em Madureira, também na Zona Norte, controlada pelo Terceiro Comando Puro (TCP).
"Infelizmente, o nosso comércio é dentro da comunidade (logo no pé do morro). Quem conhece nossa trajetória sabe que a gente nunca teve vínculo e nem envolvimento com nada de errado, porém quem mora em comunidade sabe como é. A gente nasce, cresce e cada um segue seus caminhos. Nossa whiskeria é a referência da região, são mais de sete anos nessa luta e 99% que frequenta são pessoais do bem. Outra parte são a minoria que mora na comunidade e escolheu o lado errado da vida, mas nem por esse motivo essa guerra maldita de facção tem direito de simplesmente chegar um local que tem 99% de trabalhadores e simplesmente vir atirando", lamentou o empresário.
Lucas de Sá será sepultado às 14h deste domingo (1º) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte. O velório está previsto para começar às 10h.
Outras três pessoas também morreram baleadas: Denis da Silva Ventura, de 24 anos; Thiago de Mello Araújo, também de 24; e Alisson Henrique da Silva Lucena, de 41. Todos chegaram sem vida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rocha Miranda, também na Zona Norte. Ainda não há informações sobre seu sepultamentos.
Feridos
O ataque ainda deixou cinco pessoas feridas. O grupo deu entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte. Erick Patrick Pereira da Silva está internado em estado grave na unidade, enquanto Ryan da Silva Mascarenhas tem um quadro considerado estável. Ana Carolina Santoro, Tatiana Silvestre Filho e Luis Cláudio dos Santos receberam alta hospitalar na manhã deste sábado (31).
Lorraine Pereira da Silva, irmã de Erick, esteve no hospital e afirmou que o ataque aconteceu durante uma invasão de criminosos do Morro da Serrinha. Ela relatou que uma das vítimas teria pedido, sem sucesso, que os bandidos não atirassem, pois só havia trabalhadores no estabelecimento.
"Eles estavam em uma rua de acesso à comunidade, que é bem movimentada. Isso não é uma guerra que aconteceu pela primeira vez, já aconteceu diversas vezes. Quem sofre com isso somos nós moradores. Só quem sofreu, quem foi atingido, foram moradores", lamentou.
De acordo com a Polícia Militar, equipes do 9º BPM (Rocha Miranda) intensificaram o policiamento na região após o ataque.
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Segundo a Polícia Civil, diligências estão em andamento para apurar a autoria e a motivação do crime.
Comissão acompanha caso
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) atende, neste sábado (31), parentes das vítimas do ataque a tiros em um bar. Membros da CDDHC assistem as famílias e aguardam o final da perícia da Polícia Civil.
Para a deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da comissão, este episódio, que é mais um fruto da guerra entre facções, deixa explícito o colapso da política.
"Uma política de segurança que aposta no confronto armado há muitos anos acaba incentivando a entrada de armas nas áreas controladas por criminosos. Como não existem estratégias para enfraquecer economicamente essas organizações, elas continuam a se fortalecer e a se armar, colocando civis e policiais em risco. Esse perigo poderia ser evitado com planejamento e inteligência. Estamos acompanhando a situação dos feridos e nos solidarizamos com a família de Lucas", afirmou a parlamentar.
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