A catarata é uma das principais causas de cegueira no mundo, atingindo cerca de 51%, representando 20 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, o especialista em cirurgia de catarata, Gustavo Bonfadini, explica que essa condição ocular se caracteriza pela opacificação do cristalino, a lente natural do olho que, com o tempo, se torna turva. Ele salienta que a doença é tratável e a cirurgia para remoção é uma das intervenções médicas mais realizadas e bem-sucedidas.
A doença é mais comum em pessoas idosas e, especialmente, acima dos 60 anos. Outros grupos com risco aumentado incluem pessoas com histórico familiar de catarata precoce, diabéticos, fumantes, pessoas com exposição prolongada à luz ultravioleta e usuários de medicamentos como corticoides, afirma a especialista em catarata e glaucoma, Dra. Jéssica Gonzaga.
Clélia Suzana Baptista Cabral, 78 anos, começou a perceber a vista ficar embaçada, o que já era um sinal da presença da catarata. Decidida a buscar tratamento, ela optou por realizar a cirurgia através do plano de saúde: "Eu tive medo, mas o médico que fez a cirurgia era muito competente e paciente", o que a ajudou a se sentir segura.
"A recuperação foi lenta, eu operei os dois olhos, um de cada vez. A minha visão após a cirurgia está perfeita. Vejo tudo, de perto e de longe sem usar óculos", relatou Clélia.
Marlene da Silva, de 62 anos, operou os dois olhos devido à catarata, ela conta: “A minha operação foi tranquila, graças a Deus, não teve nenhuma alteração. É uma coisa tão simples", disse. Antes de operar, Marlene já havia perdido a capacidade de enxergar claramente: “Quando eu fiz a cirurgia de catarata eu já nem enxergava mais e hoje em dia, eu enxergo”, afirmou. Após a cirurgia, sua visão melhorou, embora ela ainda enfrente algumas dificuldades devido à diabetes. Ela acredita que, se tivesse conseguido controlar melhor a diabetes, sua visão estaria ainda mais nítida.
Para ela, apesar das expectativas de medo e dor que o termo "operação" pode trazer à tona, a cirurgia de catarata é, na verdade, "necessária, fácil e muito importante", ressalta Marlene. Ela ainda pontua que o procedimento é indolor e sem sangramento, desmistificando o medo que muitas pessoas têm em relação a cirurgias. "Eu não tive medo nenhum, só assim, porque quando as pessoas escutam falar de uma operação, cria uma expectativa de sangue e dor, não é nada disso", afirma.
Assim como Marlene que realizou o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 2.043 pessoas foram regulados para a cirurgia de catarata através do Complexo Estadual de Regulação, de janeiro a julho deste ano, no estado do Rio, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES). No âmbito municipal, para a cirurgia de catarata, houve um aumento de 222% no mesmo período, saltando de 11.299 para 36.330 procedimentos realizados, informou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Neste ano, até o momento, já foram realizadas 20.528 cirurgias de catarata no município.
O oftalmologista e especialista em cirurgia de catarata, Gustavo Bonfadini explica que os sintomas mais comuns da catarata incluem visão embaçada ou turva, dificuldade para enxergar à noite, sensibilidade à luz e ao brilho, aumento da necessidade de luz para leitura, alteração na percepção das cores (que podem parecer desbotadas) e a formação de halos ao redor das luzes. Esses sintomas tendem a se desenvolver lentamente, e muitos pacientes podem não perceber a gravidade da situação até que a visão esteja significativamente comprometida. Sendo assim, para o diagnóstico é necessário fazer um exame oftalmológico completo, incluindo testes de acuidade visual e avaliação do cristalino com lâmpada de fenda.
Tipos de catarata
A especialista em catarata Dra. Jéssica Gonzaga, explica que existem diferentes tipos de catarata, cada uma com suas características e causas específicas. “Existem vários tipos como a catarata nuclear que acontece na parte central do cristalino, associada ao envelhecimento, sendo o tipo mais comum. A catarata cortical ocorre mais nas bordas do cristalino, em uma opacidade em forma de cunha. Já a catarata capsular posterior, é uma opacidade central, que se desenvolve de forma mais rápida e é mais comum em pacientes com diabetes ou que fazem uso prolongado de corticoides. Além disso, há também a catarata congênita, presente desde o nascimento ou que se desenvolve na infância devido a fatores genéticos ou infecções durante a gestação, e as cataratas secundárias, que podem surgir após outras condições como cirurgias oculares ou infecções”, explicou a especialista.
No entanto, “a cirurgia de catarata não deve ser indicada quando a catarata não está causando sintomas significativos ou não está afetando a qualidade de vida do paciente”, esclarece a especialista. Ela destaca a importância de considerar outras condições oculares ou de saúde do paciente antes de optar pela cirurgia. "Quando o paciente tem outras condições oculares graves, como infecção ativa ou retinopatia diabética proliferativa, elas devem ser tratadas primeiro. Além disso, a cirurgia pode ser contraindicada se a saúde geral do paciente não permitir uma intervenção segura, como em casos de doenças cardíacas ou condições médicas instáveis”, pontua.
“Cirurgia é segura e eficaz”
O tratamento geralmente envolve cirurgia, indicada quando a catarata interfere nas atividades diárias do paciente. O especialista explica que “a moderna cirurgia de catarata é feita com anestesia tópica (colírio), sem a necessidade de suturas, e consiste na remoção do cristalino opaco e sua substituição por uma lente intraocular artificial, com alta taxa de sucesso e recuperação rápida.”
A cirurgia deve ser considerada quando a catarata começa a afetar a qualidade de vida do paciente, como dificuldade para ler, dirigir ou realizar atividades cotidianas. Ele acrescenta que "não há um estágio específico que determine a necessidade de cirurgia; isso varia de pessoa para pessoa, e a decisão deve ser baseada na avaliação do médico oftalmologista e nas queixas do paciente", afirma.
Embora a cirurgia de catarata seja segura e eficaz, o especialista alerta que algumas condições podem complicar o procedimento, como infecções oculares ativas, doenças inflamatórias não controladas ou problemas de saúde que impeçam a anestesia. Por isso, "é fundamental que o paciente discuta seu histórico médico completo com o oftalmologista antes do procedimento", recomenda Bonfadini.
Apesar de ser considerada muito segura, a cirurgia de catarata também envolve riscos. As complicações potenciais incluem infecção, sangramento, descolamento da retina e opacificação da cápsula do cristalino, que pode exigir um segundo procedimento a laser feito no próprio consultório oftalmológico. O especialista enfatiza que "é importante que os pacientes discutam esses riscos com seu oftalmologista e sigam as orientações pós-operatórias para minimizar complicações", ressalta o oftalmologista.
Cuidados pós operatórios e recuperação
A recuperação após a cirurgia de catarata é geralmente rápida. "Muitos pacientes notam uma melhora significativa na visão dentro de algumas horas ou dias", afirma o Bonfadini. Durante o período de recuperação, é comum que o médico oftalmologista prescreva colírios para prevenir infecções e reduzir a inflamação”, afirma. Além disso, consultas de acompanhamento são essenciais para monitorar a recuperação e ajustar qualquer tratamento necessário.
Ele ainda destaca que, embora a catarata seja uma condição comum, com o tratamento adequado, a maioria das pessoas pode recuperar a visão e melhorar sua qualidade de vida.
A especialista em catarata e glaucoma Jéssica Gonzaga, recomenda no cuidado pós-operatório evitar esfregar ou pressionar o olho operado, usar colírios prescritos, evitar atividades extenuantes e proteger o olho de irritações como poeira e vento. Também é fundamental seguir rigorosamente as orientações do oftalmologista para o acompanhamento pós-operatório.
A médica ainda ressalta a importância da prevenção e do tratamento precoce das doenças oculares para manter uma boa visão e, assim, promover a segurança, independência e bem-estar geral. "A catarata é uma causa de cegueira reversível, então não deixe de ir ao seu oftalmologista de forma periódica para avaliação da sua visão e para indicação correta da cirurgia de catarata no momento certo", alerta a especialista.
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