Policiamento foi reforçado na Avenida Brasil desde a tarde de quinta-feira, após tiroteio no Complexo de Israel Reginaldo Pimenta
População tenta retomar rotina após dia de terror na Avenida Brasil
Tiroteio no Complexo de Israel fechou a via, provocou mortes, afetou transportes, escolas e unidades de saúde
Rio - A populção do Rio tenta retomar a rotina após uma manhã de terror provocada por um intenso confronto no Complexo de Israel, na Zona Norte, que fechou a Avenida Brasil, deixou três pessoas mortas e outras três feridas. Nesta sexta-feira (25), segundo a Polícia Militar, o policiamento permanece reforçado em vários pontos da via expressa, bem como da Linha Vermelha e da Linha Amarela.
O tiroteio teve início na manhã de quinta-feira (24), durante uma ação da PM nas comunidades da Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, quando bandidos passaram a atirar em direção à Avenida Brasil. A principal via expressa do Rio chegou a ficar interditada nos dois sentidos, por cerca de duas horas, e passageiros e motoristas abandonaram os veículos e ficaram abaixados para se protegerem dos disparos. A troca de tiros também impactou o transporte público.
Nesta sexta-feira, os ônibus municipais e o BRT circulam normalmente, depois que 35 linhas e três serviços do corredor Transbrasil foram afetados pelo fechamento da Avenida Brasil. O ramal Saracuruna dos trens também opera com todas as estações abertas e de acordo com os intervalos médios previstos, de 15 minutos da Central a Gramacho, e de 30 minutos de Gramacho a Saracuruna. A interrupção que ocorreu na quinta-feira fechou sete estações e prejudicou cerca de 9,1 mil passageiros.
Além da mobilidade urbana, o confronto impactou o funcionamento de 16 escolas da rede municipal e uma da rede estadual, nas comunidades da Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-Pau. A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que as unidades escolares na região estão em funcionamento presencial na manhã de hoje, enquanto a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) disse que, até o momento, nenhuma escola precisou ser fechada.
A operação ainda deixou dois Centros Municipais de Saúde (CMS) e a Clínica da Família Heitor dos Prazeres, na região de Brás de Pina, fechados. A unidade voltou a atender a população na manhã de hoje, mas continua com as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, suspensas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Tiroteio deixa três mortos
O motorista de aplicativo Paulo Roberto Souza, de 60 anos, o passageiro de um ônibus, Renato Oliveira, 48, e o motorista de caminhão, Geneilson Eustaque Ribeiro, 49, são as vítimas fatais dos intenso tiroteio entre policiais militares e criminosos, no Complexo de Israel. Ainda não há informações sobre os sepultamentos das vítimas. Além deles, outros dois homens não identificados, e uma mulher, também foram baleados.
A primeira morte provocada pelo confronto ocorreu ainda na manhã de quinta-feira. Paulo Roberto sofreu uma perfuração no crânio e chegou ao Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo (HMMRC), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem vida. O motorista de aplicativo estava com um passageiro em seu carro, que tentou o socorrer quando ele foi atingido. O idoso deixa filhos, netos e a mulher.
No início da tarde, o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte, confirmou a morte de Renato Oliveira. A vítima estava dentro de um ônibus da Transportadora Tinguá, que fazia a linha 493 (Ponto Chic x Central), quando acabou baleado na cabeça. De acordo com um amigo da vítima, eles vinham de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para trabalhar no Rio, quando o coletivo em que estavam foi atingido por disparos. Segundo a unidade, Renato tinha o quadro grave, chegou a passar por cirurgia e estava sendo assistido pela equipe clínica e cirúrgica, inclusive de neurocirurgia, mas não resistiu.
Ainda durante a tarde, a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, informou a morte de Geneilson Eustaque. O motorista de caminhão também havia sido socorrido para o HMMRC, depois de ser baleado na cabeça. Ele precisou ser entubado e transferido para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), também na cidade. O homem foi encaminhado diretamente ao centro cirúrgico para procedimento de craniectomia descompressiva, mas devido a gravidade do ferimento, não resistiu.
Também foi socorrida para o Hospital Moacyr do Carmo, Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos. A jovem foi atingida na coxa direita, com lesão superficial, e recebeu alta médica ainda na quinta-feira. Já no Hospital Federal de Bonsucesso, um homem ferido na região glútea segue internado na ortopedia, com quadro estável, e um terceiro baleado, no antebraço, foi atendido e liberado ontem.
PM diz que tropas não tinham dados de inteligência para reagir
A tenente-coronel Claudia Moraes, disse que a Polícia Militar não tinha dados de inteligência para enfrentar a reação violenta dos criminosos, no Complexo de Israel, e que as equipes encontraram um cenário que não havia sido visto anteriormente pelas forças de segurança do Estado. Apesar dos impactos causados pelo tiroteio, a porta-voz declarou que não se poderia falar em erro da corporação.
"A gente não pode falar que foi um erro, foi uma operação da Polícia Militar necessária por conta de todas essas realidades que a gente enfrenta no Rio de Janeiro (...) Estávamos em um cenário onde tivemos uma viatura do BVPE alvejada com mais de 20 tiros. Tivemos a reação desses criminosos atirando contra vias de grande circulação e vindo atingir pessoas no momento do transporte. Quando analisamos o contexto, a primeira decisão operacional, e ela é esperada, é que faça o recuo estratégico para a maior prioridade que é restabelecer a segurança das pessoas".
Em coletiva de impresa no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul, o governador do Rio definiu o intenso confronto como um "ato de terrorismo". Cláudio Castro afirmou que as mortes não aconteceram em decorrência de uma troca de tiros envolvendo policiais militares, mas porque criminosos atacaram pessoas inocentes deliberadamente para afastar os agentes.
"Foi uma operação de inteligência, uma operação que a Polícia sabia o que estava fazendo. Infelizmente, tivemos uma reação por parte do tráfico muito desproporcional. O que a gente viu foi um ato de terrorismo. Não dá para classificar de outra forma (...) Esses criminosos atiraram a esmo para acertar pessoas de bem, que estavam indo trabalhar", declarou Castro, que disse ainda que informações de inteligência indicam que as equipes chegaram próximo ao líder do Terceiro Comando Puro (TCP), Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, que segue foragido.
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