Rio - No último mês de julho, o Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares (USSL) finalizou um ciclo de dois anos marcado por grandes realizações e atividades que contribuíram para o fortalecimento das regiões lagunares. Ao longo desses 24 meses, valorizou a cultura e o modo de vida da pesca artesanal lagunar, além de promover o aumento da renda direta e indireta nas áreas de pesca e em seu entorno imediato.
Gerido pelo Instituto Onda Azul, com financiamento do edital da Petrobras Socioambiental e em parceria com instituições acadêmicas como a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o projeto contou também com a colaboração e o apoio de entidades como a Cardume Socioambiental & Comunicação, o Instituto Planett, a Associação dos Pescadores Artesanais da Praia da Baleia, a Colônia Z-4, a Colônia Z-24 e a Associação de Pescadores do Bairro de Itapeba. O USSL analisou as pescarias lagunares sob uma perspectiva ecossistêmica mais ampla e integrada, considerando tanto as espécies exploradas quanto os componentes econômicos e sociais.
A iniciativa atuou na inserção dos pescadores e comunidades como agentes transformadores na busca por sistemas de gestão mais eficientes, que asseguram a utilização dos recursos naturais de forma sustentável. Nesse sentido, o projeto USSL foi desenvolvido em cinco comunidades de quatro municípios do estado do Rio de Janeiro (Amendoeira e Itapeba – Maricá; Mombaça – Saquarema; Baleia – São Pedro da Aldeia; e Siqueira – Cabo Frio).
Desenvolvido em três eixos (Pesca Sustentável e Qualidade de Vida, Turismo de Base Comunitária e Desenvolvimento Econômico, e Fortalecimento Comunitário), o Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares deixa como legado para os trabalhadores da pesca a melhoria da qualidade de vida lagunar, fornecendo informações relevantes sobre a produção pesqueira e os aspectos da história de vida das principais espécies de peixes e crustáceos, bem como do monitoramento participativo e assistido da pesca artesanal sustentável, em parceria com os laboratórios Ecopesca/UFF e BioPesca/UFRRJ. Todo esse processo foi construído com base na saúde, nas relações sociais e de trabalho, nas metas pessoais, e na percepção direta que o pescador tem de seu ofício.
"Graças ao monitoramento da pesca aqui na Mombaça pelo projeto USSL, foi possível ter noção da quantidade de peixe e siri que a gente pesca. É uma contribuição muito grande para a cidade de Saquarema", revela Olenio Nazareth, pescador da Mombaça.
Dentre as diversas realizações do Projeto USSL, destaca-se o Turismo de Base Comunitária, que se baseia na ciência cidadã para o desenvolvimento de territórios por meio de um turismo sustentavelmente responsável. A importância dessas ações reside no protagonismo das comunidades desde a concepção até a gestão e a operação do turismo local, valorizando e resgatando seus costumes e tradições.
Com a realização de cinco oficinas, o Turismo de Base Comunitária envolveu mais de 120 participantes e formou 40 condutores, proporcionando aos agentes envolvidos uma oportunidade de oferta turística, uma herança construída pelos próprios moradores locais. Todo esse trabalho e esforço foi desenvolvido em parceria com as prefeituras dos municípios envolvidos, fortalecendo a colaboração social do projeto.
"O Curso de Formação de Condutores é importante porque fortalece o Turismo de Base Comunitária, que é o que acreditamos, gerando renda para a comunidade", afirma Chico Pescador, presidente da Associação de Pescadores da Praia da Pitória, em São Pedro da Aldeia.
Para além da pesca artesanal, o Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares trabalhou diretamente na formação de educação ambiental e no desenvolvimento econômico. Foram realizadas diversas ações para amplificar as vozes das populações pesqueiras e oferecer alternativas sustentáveis de complemento de renda, como culinária, empreendedorismo social e beneficiamento do pescado. Também foram implementadas atividades específicas para empoderar, valorizar e ampliar as vozes femininas nas regiões lagunares.
Ocorreram cursos, encontros e rodas de conversa promovidas e voltadas para mulheres nas cinco comunidades pesqueiras abrangidas pelo Projeto USSL, resultando na criação da 'Rede das Mulheres Lagunares Fluminense'. A ação promoveu, ainda, capacitação em inclusão digital, a fim de alavancar a economia local ao permitir a divulgação de seus trabalhos além das fronteiras de suas comunidades. Mais de 270 pessoas foram qualificadas em um total de 14 oficinas, com rodas de conversa que envolveram mais de 95 mulheres.
"O projeto tem sido de grande importância para toda a comunidade no que diz respeito ao conhecimento, ao oferecer cursos, oficinas e despertar em nós o interesse em investir no turismo, artesanato, culinária local e comercialização do nosso pescado. Enquanto fomos motivados a buscar uma renda extra, nos conscientizamos sobre a importância de cada um de nós. Estávamos precisando desse pontapé inicial. O USSL foi de grande valia em nossas vidas, só temos a agradecer", conta Silvane Costa, moradora de São Pedro da Aldeia.
Ricardo Farias, diretor de Projetos do Instituto Onda Azul, faz um balanço positivo sobre o encerramento dessa fase inicial e destaca as realizações e conquistas. "Após dois anos de execução, encerramos agora em julho de 2024 o Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares, em parceria com a Petrobras Socioambiental, que deixou uma grande herança para as comunidades. Mais de 3 mil pessoas participaram diretamente do projeto, conquistamos mais de 20 mil pessoas como público das atividades e eventos e realizamos mais de 20 atividades ao longo do processo. Um dos legados importantes deixados na Praia da Siqueira, em Cabo Frio, foi a reforma da Capatazia, em parceria com a Colônia local. E as realizações não param por aí. Nas próximas semanas, lançaremos um livro que documenta as ações realizadas, e em breve, estrearemos um documentário que retrata todo o histórico e as atividades do projeto", destaca.
O Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares deixa, em cada comunidade onde atuou, diversas ações que contribuíram direta ou indiretamente para o fortalecimento econômico local, a educação ambiental, o monitoramento detalhado da saúde lagunar e o controle dos pescados de cada região. Além disso, o projeto USSL promoveu parcerias com associações e colônias de pescadores locais, com o poder público e com toda a sociedade civil comprometida com as suas ações.
"Desde o início, pensamos o Projeto Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares como uma iniciativa voltada para a consolidação de resultados, legados e geração de renda. Sabemos que todo projeto tem início, meio e fim determinados, mas ele pode perdurar além do término das nossas atividades. Essa é uma perspectiva positiva para que algumas dessas ações se transformem em políticas públicas, conectando o poder público local aos resultados alcançados, garantindo a sustentabilidade necessária para o projeto. Acreditamos que essa semente plantada pode trazer exatamente isso, e sentimos que, embora o projeto esteja no fim do seu primeiro ciclo, as ações que semeamos continuarão a dar frutos. Conseguimos consolidar, através das ações dos eixos de Pesca Sustentável e Qualidade de Vida, Turismo de Base Comunitária, Desenvolvimento Econômico e Fortalecimento Comunitário, um mosaico de atividades que contribuiu de forma permanente e positiva para todas as localidades atingidas. Isso nos deixa satisfeitos e com a sensação de dever cumprido", diz André Esteves, diretor-executivo do Instituto Onda Azul.
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