Recém-nascido no berçáriofreepik
Casos recentes, como os de Sabrina Sato e Rafa Kalimann, trouxeram visibilidade a essa questão delicada. Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, essas situações ressaltam a importância de práticas humanizadas e de um suporte especializado para acolher as famílias que enfrentam esse tipo de perda.
Polli Abade viveu o que nenhuma mãe deveria enfrentar: a perda de sua filha, Teodora, durante a gestação. No momento mais difícil de sua vida, sentiu-se sozinha e desamparada, cercada por mães felizes e bebês saudáveis no ambiente hospitalar. “Minha ficha demorou para cair que aquilo era real. Eu estava ali, vivendo a pior dor que uma mãe pode sentir, mas parecia invisível. Não havia acolhimento, só o silêncio e a indiferença”, relembra Polli.
Sem espaço para processar sua dor, Polli enfrentou o impacto da perda praticamente sozinha. Frases como “vai passar” ou “foi melhor assim” apenas intensificaram seu sofrimento. “Não passa. Aprendemos a viver com ela, mas a dor está ali, sempre presente. O que precisamos é de acolhimento, de alguém que esteja disposto a ouvir sem tentar minimizar o que sentimos.”
Lei Teodora: um marco no acolhimento
Dessa dor e força nasceu a Lei Teodora, uma conquista importante na humanização do atendimento hospitalar. A lei determina que mulheres em luto não sejam colocadas em alas com mães e bebês recém-nascidos, garantindo um espaço separado e adequado para viverem o momento da perda.
“Ter esse acolhimento que me foi negado é essencial. Não alivia a dor, mas acalma e traz um pouco de dignidade. Estar em um lugar separado, sem o barulho e a alegria de recém-nascidos, já ajuda a entender o que está acontecendo”, explica Polli.
Para ela, a Lei Teodora é apenas o começo. Além de espaços adequados, é preciso educar profissionais e a sociedade para lidar com o luto perinatal de forma empática. “O que essas mães precisam é de respeito ao seu tempo e de apoio genuíno. Não é esquecer, porque não tem como esquecer. É aprender a viver com um amor saudoso que nunca vai embora.”
Ao transformar sua dor em ação, Polli não apenas homenageou a memória de Teodora, mas também abriu caminho para que outras mães encontrem acolhimento, respeito e empatia nos momentos mais difíceis de suas vidas.
O mais importante, segundo a psicóloga, é observar como essa tristeza interfere no cotidiano. Caso o luto dificulte atividades diárias, provoque isolamento prolongado ou pensamentos de desesperança, pode ser necessário buscar apoio especializado. Profissionais de saúde mental estão preparados para oferecer acolhimento e ajudar na superação desse processo.
Entre as práticas que auxiliam as famílias, está a validação das emoções, como tristeza ou culpa, que devem ser vividas sem repressão. Guardar lembranças do bebê, como roupas ou fotos, e participar de grupos de apoio também são maneiras importantes de transformar a dor em algo significativo.
No ambiente hospitalar, medidas humanizadas fazem a diferença. Permitir que os pais vejam e segurem o bebê, caso desejem, ou que tenham acesso a recordações, como a marca do pezinho, pode ajudar a dar sentido à despedida. Outra ação fundamental é separar mães que enfrentaram perdas das alas onde estão bebês recém-nascidos. “Essas práticas humanizadas aliviam o sofrimento e ajudam as famílias a viverem o luto de forma mais respeitosa”, explica Rafaela.
Falar sobre luto perinatal, como fizeram recentemente figuras públicas como Sabrina Sato e Rafa Kalimann, ajuda a romper o silêncio e os tabus em torno do tema. Discutir a questão é um passo essencial para incentivar práticas mais acolhedoras e validar o sofrimento das famílias que passam por essa experiência tão delicada.
“O pai, muitas vezes, é pressionado a ser ‘forte’ para apoiar a parceira, mas ele também vivencia a perda e necessita de espaço para expressar sua dor. Ignorar esse sofrimento pode prejudicar a recuperação de ambos”, explica Rafaela.
A especialista destaca que o apoio mútuo no casal é essencial para o fortalecimento da relação e para a superação do luto. “Quando o casal consegue se apoiar e compartilhar sua dor de maneira respeitosa, isso fortalece o vínculo e facilita o processo de cura”, afirma Rafaela.
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