PM realiza ação no Morro dos Macacos para prender criminosos e apreender armasReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Depois de quatro noites seguidas de confrontos, a Polícia Militar realiza uma operação no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte, na manhã desta quinta-feira (12). A comunidade voltou a registrar troca de tiros entre criminosos rivais, na noite desta quarta-feira (11), em mais um episódio de violência da guerra entre facções. Além de provocar pânico nos moradores, a escola de samba Unidos de Vila Isabel cancelou o ensaio de rua que aconteceria ontem, por conta do tiroteio.


Segundo relatos, o confronto teve início por volta das 19h30, nas proximidades das Ruas Silva Pinto e Senador Nabuco, em mais uma tentativa de invasão de traficantes do Morro São João, no Engenho Novo, também na Zona Norte, ligados ao Comando Vermelho, ao Morro dos Macacos, controlado pelo Terceiro Comando Puro.
Na madrugada de quarta-feira, os criminosos que estiveram na comunidade picharam diversos muros com as iniciais da facção. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram a intensa troca de tiros e presença viaturas e veículos blindados da Polícia Militar na região, na noite de ontem. Confira abaixo. A guerra na região já provocou, pelo menos, dez mortes, entre os meses de agosto e novembro deste ano.

De acordo com a Polícia Militar, equipes do Comando de Operações Especiais (COE) atuam no Morro dos Macacos nesta quinta-feira. O objetivo da ação é prender criminosos e apreender armas de fogo. Até o momento, não há registro de prisões, apreensões ou feridos.
Apesar da operação, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que na região da comunidade, as unidades escolares atendem presencialmente. As unidades de saúde municipais também estão funcionando normalmente, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). 
A reportagem de O DIA voltou aos acessos do Morro dos Macacos, nesta quinta-feira, onde encontrou novamente ruas pouco movimentadas. Há ainda um veículo blindado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), viaturas e PMs do Grupamento Intervenção Tática (GIT) atuando no policiamento da comunidade. 
Confronto impacta rotina e leva pânico a moradores

Além da troca de tiros entre os traficantes na noite de ontem, segundo a PM, um grupo de criminosos disparou contra equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e fugiu para uma área de mata. Por conta do tiroteio, a Unidos de Vila Isabel cancelou o ensaio de rua, já que, além da insegurança, muitos componentes da agremiação moram no Morro dos Macacos. 
"No nosso samba, a maioria é do Morro, então, como você vai para o samba sem saber se pode voltar? É muito difícil ser cerceado do seu direito de ir e vir. Está uma coisa assombrosa (…) A cultura mais uma vez abalada. A escola de samba é um momento muito nosso, tanto do bairro, quanto do Morro, é uma coisa que nos alegra, é livre, é um ensaio na rua. O comércio, os vendedores, as barriquinhas, todo mundo perdeu", lamentou a vocalista e integrante da Unidos de Vila Isabel, Analimar Ventapane, filha de Martinho da Vila. 
De acordo com Analimar, 60, que mora em Vila Isabel, a principal preocupação é com moradores do Morro dos Macacos que, por muitas vezes, não conseguem voltar para casa depois de um dia de trabalho. A vocalista relatou que em algumas situações de tiroteio, chega a receber amigos do filho em sua casa, para que eles possam se abrigar até conseguirem entrar na comunidade.
"A gente fica muito apreensivo com as pessoas que a gente conhece. Desde o feirante, que tem que sair de casa de madrugada, aos amigos que moram no Morro e fazem parte da escola, todo mundo que está sem direito de ir e vir, fora todo o assombro que é ter dinamite sendo explodida no seu quintal. Eu me preocupo muito com todos os amigos do Macaco, porque a gente costuma ver que eles não conseguem voltar para casa, a praça fica cheia à noite, porque a pessoa não pode ir para casa".
Moradora de Vila Isabel há mais de 45 anos, Marlene Marques, de 75 anos, conta que vizinhos estão com medo de sair de casa, já que os tiroteios têm começado cada vez mais cedo na comunidade. Para a advogada aposentada, a sensação é de estar vivendo uma verdadeira guerra e à deriva, enquanto espera por uma solução. 
"Tem sido terrível, não podemos nos deslocar.  Agora tenho uma ideia do que se passa nos países em guerra. Ontem o tiroteio começou à noite, cedo para o habitual, que é na madrugada. Armamento pesado, armamento de guerra, creio eu. Estamos apavorados com o que está se passando num bairro boêmio como é a minha Vila Isabel. Estamos ilhados e à deriva,esperando uma solução do poder público", afirmou Marlene, que disse já ter pensado em deixar a cidade. 
"A violência tem acabado com a Vila Isabel. Por ser um bairro boêmio e de pessoas mais velhas, algumas pessoas têm se mudado, outras não saem mais à noite. Eu mesma estou pensando em sair da cidade, pois o que está acontecendo aqui, infelizmente acontece em toda a Zona Norte. Muito triste que um dos poucos bairros que ainda resistia à passagem do tempo perdeu seu charme", desabafou. 
*Colaborou Reginaldo Pimenta