Projéteis nos acessos ao Morro dos Macacos, após madrugada de confronto entre CV e TCPReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Os frequentes confrontos entre o Morro do São João e o Morro dos Macacos, comunidades vizinhas na Zona Norte, entre o Engenho Novo e Vila Isabel, evidenciam mais uma sangrenta tentativa de expansão do Comando Vermelho (CV) no estado. Esses conflitos também expõem o alto poder de armamento nas mãos dos traficantes e preocupam as autoridades.
Sob o domínio do Terceiro Comando Puro (TCP), o Morro dos Macacos, que abriga cerca de 5 mil pessoas, de acordo com o Instituto Pereira Passos, está situado na parte alta da Vila Isabel. A favela é caracterizada por ruas íngremes e becos estreitos, de difícil acesso. A principal liderança do grupo é o criminoso Leandro Nunes Botelho, conhecido como Scooby Doo, de 47 anos. Já o Morro do São João está localizado no Engenho Novo. A principal liderança do grupo é Willian Souza Guedes, conhecido como Corolla, que foi preso em julho deste ano no Jacarezinho, na Zona Norte. No entanto, a prisão do chefe do tráfico não impediu os planos de expansão da facção.
A distância entre as duas comunidades é de aproximadamente 4 km, o que facilita a mobilização de traficantes em tentativas de invasões e ações violentas. Este fato fica evidente quando olhamos para o número de tiroteios registrados no Morro dos Macacos. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, foram 68 confrontos em 2024, até hoje (12), que deixaram 11 mortos e 9 feridos. Já entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2023 o Instituto registrou 17 ocorrências de tiros no Morro dos Macacos, com o total de uma pessoa morta e nenhum ferido.
Modus operandi do CV
O CV vem adotando o mesmo modus operandi durante as incursões. Os criminosos costumam esperar o anoitecer para sair do Morro São João e entrar no Morro dos Macacos. Os confrontos acontecem, em sua maioria, na parte alta da comunidade, nas extremidades.
Foi assim que se deu o último confronto, iniciado por volta das 21h de quarta-feira (11). Na ocasião, equipes da Polícia Militar estiveram no local para interceptar a ação criminosa. O último confronto ocorreu por volta das 21h de quarta-feira (11), quando equipes da Polícia Militar foram acionadas para interceptar a ação criminosa.
Na manhã do mesmo dia, a equipe de reportagem de O DIA visitou os acessos ao Morro dos Macacos e encontrou diversos projéteis espalhados pelo chão, ruas desertas e lojas fechadas. No local, foram encontradas pichações em vermelho com as iniciais "C.V.", que, de acordo com um morador, foram deixadas pelos criminosos durante uma tentativa de invasão da facção. Até esta quinta-feira (12), equipes do Comando de Operações Especiais (COE) atuavam na comunidade.
Embora esteja em evidência devido aos frequentes tiroteios, essa guerra teve início há cerca de 15 anos, em 2009, quando o Morro dos Macacos, então sob o controle da facção Amigos dos Amigos (ADA), entrou em confronto com o Morro São João, dominado pelo CV. Na tentativa de invasão daquele ano, o CV atacou o território rival, e um helicóptero da Polícia Militar foi derrubado pelos traficantes. Na ocasião, três policiais que viajavam na aeronave morreram.
Em setembro de 2022, o 3º Tribunal do Júri da Comarca da Capital condenou os traficantes Magno Fernando Soeiro Tatagiba de Souza, o Magno da Mangueira, e Leandro Domingos Berçot, o Lacoste de Manguinhos, a 193 anos, um mês e dez dias de prisão por três homicídios qualificados e seis tentativas de homicídio após quase 13 anos do crime. 
Moradores dizem que a situação está insustentável
Ao DIA, a Associação dos Moradores de Vila Isabel descreveu o cenário de violência como "insustentável". "Essa guerra não é de hoje, só que do ano passado para cá o que estava ruim ficou insustentável. Vemos traçante do morro em direção aos prédios, está tudo muito assustador. Além disso, o índice de roubos aumentou muito", disse um representante da instituição.
A Associação também recebe denúncias que refletem a desordem na região. "Vemos o fechamento de ruas, instalação e barricadas. Eles [criminosos] descem às ruas para cobrar "impostos". Estamos cercados. A Vila Isabel é formada por um povo calmo, boêmio, mas acabou o nosso descanso. A qualquer momento pode chegar uma bala perdida em casa".
Expansão do CV
As autoridades têm intensificado as operações na região, mas a dificuldade em conter a violência evidencia a complexidade do problema, que envolve não apenas disputas locais, mas também redes nacionais de criminalidade. De acordo com o relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen), publicado neste ano, o Comando Vermelho atua em 23 estados, três a mais que em 2023. Entraram para a lista os estados do Amapá, Pernambuco e Espírito Santo.
Ainda segundo o órgão, a maior facção do Rio só não possui representantes no Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e São Paulo.
O que dizem as autoridades
A PM informou que agentes da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), da UPP local e do 6º BPM (Tijuca) têm "atuado constantemente na Comunidade dos Macacos e em seu perímetro para estabilizar a região, assim como para prender os envolvidos em uma disputa territorial entre grupos de criminosos rivais".
Ainda segundo a Corporação, as tropas do Comando de Operações Especiais (COE) da corporação também atuam na região através de operações planejadas. O policiamento segue intensificado na comunidade.
A Polícia Civil diz que suas delegacias especializadas e distritais investigam a ação de grupos criminosos na região. "Agentes realizam diligências para identificar e responsabilizar criminalmente todos os envolvidos", disse por meio de nota.