Rio - A tradição centenária de receber as bênçãos na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, Zona Norte do Rio, se renova nesta primeira sexta-feira do ano, 3 de janeiro. Milhares de fiéis participaram da festa no Santuário Basílica de São Sebastião. As missas, de hora em hora, estiveram lotadas desde as 5h. A última será celebrada às 19h.
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A estimativa é de que 50 mil pessoas participem da celebração durante todo o dia. Guardião da fraternidade da Igreja, Frei Reinaldo revela as virtudes mais pedidas pelos fiéis: saúde e trabalho. Muitas das famílias não deixam os animais de estimação em casa e os levam de diferentes cantos da cidade para receber as bênçãos.
O casal Luis Carlos Jesus e Ana Lúcia levou o "neto de quatro patas", Duke, de Del Castilho, na Zona Norte, para a Basílica. "A gente sempre vem. Pedimos, principalmente paz interior, que a gente tanto precisa, segurança e harmonia da família, além de muita saúde. E o Duke faz parte da família, né? É a primeira vez que ele vem", conta a professora.
Moradora da Tijuca, Inês Miguez trouxe a filha Beatriz e o pet Bolt para conhecerem a tradição. "Pedi muita saúde e paz para todo mundo. E proteção, né? Porque a violência está grande", conta a professora aposentada.
Frei Reinaldo explica o propósito do evento procurado por tanta gente: "É começar um ano com a bênção de Deus. Não é para tirar mau olhado nem para tirar a urucubaca de ninguém. É para levar o fiel à consciência de que cada um de nós deve ser bênção na vida do outro", conta o sacerdote.
Os fiéis, além de receberem a água benta, também levam itens para serem abençoados, como velas e águas. Vestindo o vermelho de São Sebastião, João Paulo, 43, veio de Campo Grande, na Zona Oeste, para fazer valer a tradição da família. Quando pequeno, o pai o trouxe com a mãe para a Igreja dos Capuchinhos. Emocionado, ele conta que o pai faleceu e a mãe está idosa, com dificuldade de locomoção, e por isso ele segue participando da festa representando a família.
"Meu pai sempre me trouxe aqui, eu e minha mãe. Acontece que ele faleceu e eu continuei vindo com minha mãe. Mas ela já está idosa, com 82 anos, e a gente mora muito distante. Toda primeira sexta-feira do ano eu venho em homenagem a ele e a ela", conta o auxiliar administrativo.
Aldaíde Mendonça, 83, é moradora do Estácio, na Região Central, e também foi levada pela mãe para participar do festejo. "Eu sempre venho. Peço muito por mim, por meus filhos, netos e bisnetos. Fazia muito isso com a minha mãezinha que já foi embora, mas continuo para proteger a saúde". Aldaíde conta que sofreu um derrame e agradece por estar recuperada.
No pátio da Basílica, além das bênçãos distribuídas individualmente por cinco freis, barraquinhas vendem comes e bebes, além de artigos religiosos.
Patrimônio Cultural Carioca, a tradição teve início em 1886, quando o frei Fidélis D’ávila, devoto de Nossa Senhora de Lourdes, foi curado de uma grave doença. Ele atribuiu a cura à água benta e mandou construir uma gruta dedicada à santa, ao lado da então Igreja de São Sebastião, localizada no Morro do Castelo, no Centro do Rio. A partir de então, os freis franciscanos Capuchinhos passaram a dar a benção sempre na primeira sexta-feira de cada mês.
Com o passar dos anos, o número de fiéis foi aumentando juntamente com a crença de se começar bem o novo ano. A Igreja do Morro do Castelo foi transferida para a Rua Haddock Lobo, na Tijuca, em 1931, onde passou a ser dada a bênção no Santuário Basílica de São Sebastião.
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