Ato aconteceu na curva do Calombo Pedro Teixeira / Agência O Dia

Rio – A ONG Rio de Paz realizou, neste sábado (4), um ato contra a ação da prefeitura de retirar o painel com fotos de 49 crianças mortas por balas perdidas em todo o estado, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio. A manifestação reuniu mães, pais e familiares das vítimas, que seguravam fotos dos seus filhos — em destaque uma faixa com os dizeres "A morte de crianças: a face mais hedionda da guerra". Os presentes também entoaram o nome de cada vítima e a palavra 'presente' e, ao final, houve salva de palmas.
O fundador da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirmou que familiares se sentiram desrespeitados pela decisão do município. "Nós achamos que houve alguma pressão que fez o prefeito retirar as placas. Agora, o que nos deixou profundamente indignados: o prefeito viu, na véspera, os pais chorando aqui, sob as fotos dos filhos. Essa imagem correu o Brasil inteiro. Em menos de 24 horas, eles tiraram sem ligar para os parentes, para a organização responsável, sem nos dar nenhuma satisfação. Ficamos sabendo por meio da imprensa. Para nós, um desrespeito ao sentimento dos familiares", disse.
Costa disse ainda que espera resolver o imbróglio em uma reunião com a prefeitura, por meio da secretária de Meio Ambiente e Clima, Tainá de Paula, na próxima quinta-feira (9).
Famílias contestam medida
Na ocasião da retirada, Paes se manifestou por nota. "Não dá para cada organização de cariocas indignados achar que vai fazer uma exposição em área pública do Rio de Janeiro, por mais justa que possa ser a homenagem e o registro, e instalar onde bem deseja na cidade. Também não acho boa, a também justa, homenagem aos PMs mortos e ela será reavaliada se pode permanecer ali. Mas como já está lá há muito tempo, não determinei a retirada", explicou.
Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius, morto no Complexo da Maré há seis anos, opinou que a intenção da prefeitura era omitir o protesto durante a virada de ano, quando a cidade recebe muitos turistas. "(O mural) Incomodou por causa do Réveillon. É muito gringo chegando e ele quer maquiar isso, mas quem mora é quem sabe, quem convive. Isso é uma forma de reparação. O prefeito fica falando que o problema da segurança pública não é do prefeito. Já que não é um problema da prefeitura, por que ele se incomodou com a foto dos nossos filhos?", protestou.
Muito emocionada, a cabeleireira Aline Moreira, mãe de Arthur, morto em 2023 aos 13 anos no Recreio, compartilhou a opinião. "Antes, só estava o cartaz preto com letras brancas e isso não chamava tanto a atenção. Quando apareceram as fotos com o sorriso das crianças, incomodou. Essas faixas passam desapercebidas, mas se você passasse aqui, quando estava a foto das crianças, impossível não chamar atenção, as pessoas não olharem e pararem para saber o que aconteceu. Essa é a realidade do Rio", desabafou.
Tamires Assis, mãe de Ester, vítima de um tiro na cabeça em Madureira, também repudiou a medida. "Foi uma afronta do prefeito com os pais. Uma falta de educação tremenda. É a única forma minha ou dos outros pais de pedirem ajuda ou justiça para os nossos filhos", disse.
A reportagem tentou contato com a prefeitura, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria. O espaço está aberto para manifestações.