Familiares, amigos e colegas de trabalho pediram justiça por Daniel VitórioRenan Areias / Agência O Dia
'Mais um trabalhador morto por erro da polícia': jovem baleado na Pedreira é enterrado
Daniel Vitorio do Nascimento Moreira, de 21 anos, era funcionário terceirizado da Águas do Rio e estava saindo para cortar o cabelo no momento em que foi atingido
Rio - "Mais um trabalhador morto por erro da polícia". A frase entoada por parentes e amigos no enterro do funcionário terceirizado da Águas do Rio Daniel Vitorio do Nascimento Moreira, de 21 anos, na tarde desta segunda-feira (13), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, reflete o sentimento por justiça. Ele morreu ao ser baleado durante troca de tiros entre policiais e criminosos no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, no sábado (11).
"A bala tinha direção sim, não era perdida. O policial afirmou que deu os oito tiros em cima do rapaz que estava na moto. Na hora, ele disse que não viu se tinha arma. Aí, depois, apareceu uma arma, que estava lá com o outro que morreu do outro lado", alegou o pai de Daniel, Anderson de Oliveira, que durante o cortejo ao corpo do filho carregou uma faixa pedindo Justiça. Ainda segundo ele, o jovem é mais um que "pagou seus impostos e o troco que recebeu foi bala".
A sogra de Daniel, Verônica Claudino, de 48 anos, falou sobre a revolta da família ao ver o jovem tratado como se fosse um criminoso. "Os amigos de trabalho dele estão aqui. Se fosse um bandido, não teria. Ele saiu para cortar o cabelo e, infelizmente, aconteceu isso. Aconteceu essa tragédia. Ele era uma pessoa maravilhosa, trabalhadora. Costumava ir mesmo quando estava doente. Infelizmente, a violência em Costa Barros está demais. A gente vai na rua, está tudo bem e do nada começa o tiroteio. O morador fica refém e a gente precisa ir na rua. A criança precisa ir na escola, a gente precisa sair para comprar uma coisa, sair de casa", lamentou.
Daniel morava com a companheira na casa da sogra, onde há pouco tempo conseguiu construir um kitnet no segundo andar. "Daniel morreu por uma guerra que ele não tinha nada a ver. Minha filha está lá dentro sofrendo. A família dele está sofrendo muito. Está difícil e vamos ver como vai ficar a situação. Acusar um trabalhador é fácil. Socorrer um bandido é fácil, mas o trabalhador fica lá estirado", disse Verônica.
Parte dos parentes usava uma camisa em homenagem ao funcionário terceirizado da Águas do Rio. "Combati o bom combate, terminei a carreira. Guardei a fé. Descanse em paz, Daniel. Jamais será esquecido. Te amamos muito", diz a mensagem.
Os colegas de trabalho de Daniel, que levaram balões brancos e flores pedindo paz, também soltaram fogos em protesto pela morte do trabalhador. Após a colocação do caixão na sepultura, os presentes fizeram uma oração e deram uma salva de palmas para a vítima.
"Ele foi criado pela minha mãe. Ela cuidou dele até a idade que tem hoje. O mais novo da gente é ele. Queremos saber quem deu o tiro? De onde partiu? Quem tirou a vida do meu sobrinho tão novo? Um menino trabalhador. Ele era um menino tão novo, tão bom de coração, tão trabalhador e amado por todos da comunidade. A gente só quer pedir Justiça. Quantas mais pessoas que vivem em comunidade vamos ver morrer por policiais que chegam atirando?", pediu Kelly Cristina, tia do jovem.
Daniel foi baleado durante o confronto entre militares e criminosos no Complexo da Pedreira. Ele chegou a ser socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, onde passou por cirurgia, mas não resistiu.
De acordo com o comando do 41º BPM (Irajá), PMs patrulhavam a Estrada de Botafogo quando viram dois homens armados em uma moto, que atiraram nos militares e houve confronto. A dupla escapou e usou dois ônibus para bloquear a via — os veículos foram removidos pelos agentes.
Na ação, um policial ficou ferido, recebeu atendimento médico e foi liberado em seguida. Um suspeito baleado foi levado para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, e morreu na unidade. Posteriormente, a PM recebeu a informação de que um funcionário terceirizado da Águas do Rio havia dado entrada no Hospital Souza Aguiar.
A concessionária disse que foi informada pela empresa Rio Service que o funcionário terceirizado, baleado no Complexo da Pedreira, faleceu. "O funcionário não estava prestando serviço para a concessionária no momento do incidente. A empresa lamenta o ocorrido e se solidariza com parentes e amigos", comunicou.
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