Salas de aula no CE Dom Helder Câmara, no Engenho de Dentro, estão sem climatizaçãoReprodução/Google Maps

Rio - Com a volta às aulas, alunos e professores da rede estadual do Rio de Janeiro enfrentam uma realidade já conhecida por eles: a ausência de climatização em meio ao forte calor. Um relatório produzido no ano passado pela equipe de Educação do deputado estadual Flávio Serafini (Psol) revelou que, do total de 110 escolas visitadas em 32 municípios, 43% não possuem nenhum tipo de climatização.
Em janeiro, antes do retorno das aulas, o grupo entrou em contato com 80 colégios da lista para verificar se houve a instalação dos equipamentos neste período. Em 77 unidades, nenhuma mudança foi realizada. Sem ar-condicionado ou ventilação adequada, as salas de aula se transformaram em verdadeiras estufas. Aproximadamente 26,8% das escolas visitadas nunca foram climatizadas.
O levantamento aponta que o problema não se resume apenas à aquisição e instalação de aparelhos. Um dos principais desafios estruturais identificados é a capacidade elétrica das escolas. "O processo de climatização não se encerra na instalação de aparelhos nas salas. A utilização desses equipamentos pode gerar uma demanda de energia superior à capacidade elétrica das unidades", destaca um trecho do relatório.
Entre as escolas visitadas, 33 precisam de reforma da estrutura elétrica e também de aquisição dos aparelhos. Esse é o caso do Colégio Estadual Dom Helder Câmara, no Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio. A direção da escola solicitou os equipamentos em 2023, mas até agora não recebeu retorno.
"Esse é um exemplo claro do desencontro no planejamento da educação no estado. Há escolas onde os aparelhos vencem a validade por falta de adequação elétrica, enquanto outras já têm a estrutura elétrica pronta, mas aguardam os equipamentos. Climatização não é luxo, é uma necessidade para garantir o conforto térmico mínimo, permitindo que as aulas aconteçam, os alunos aprendam e os profissionais da educação tenham condições dignas de trabalho", disse o deputado Flávio Serafini nesta sexta-feira (7).
O professor Odilson Albuquerque desabafou sobre a situação crítica enfrentada nas escolas. "O CE Dom Helder Câmara fica próximo à Regional III e já está sem climatização. Imagine uma escola mais afastada, como a que está em frente ao BRT de Deodoro, também sem ar-condicionado? Convivemos diariamente com o barulho dos ônibus e um calor insuportável", disse.
Uma profissional da área educação, que preferiu não ser identificada, denunciou ao DIA que o Colégio Estadual Dôrval Ferreira da Cunha, em Rio do Ouro, São Gonçalo, enfrenta o mesmo problema. "Nem todos os aparelhos funcionam, e não há ventiladores nas salas. Os novos equipamentos estão nas caixas, mas, para instalá-los, é necessário adaptar a instalação elétrica", afirmou.
A situação também preocupa pais de alunos. A contadora Juçara Andrade, de 34 anos, teme pela saúde de sua filha, que estuda no Colégio Estadual General Dutra, em Campos dos Goytacazes. "Na escola da minha filha não tem ar-condicionado. As aulas nem deveriam começar nesse calor insuportável, é um risco de algum aluno passar mal. Fico com medo que isso aconteça com ela", desabafou.
O deputado disse que vai enviar uma cópia do relatório à Secretaria de Estado de Educação do Rio (Seeduc) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Além disso, o parlamentar propôs a criação de um grupo de trabalho entre o MPRJ, Comissão Permanente de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), e Seeduc para elaborar um estudo aprofundado sobre a infraestrutura das 1.223 escolas estaduais.
Procurada pela reportagem, a Seeduc disse que tem trabalhado para climatizar toda a rede estadual no menor tempo possível. Confira a nota na íntegra:
"É importante esclarecer que os dados do relatório apresentado pelo deputado têm como base uma quantidade ínfima de escolas. A Secretaria de Educação informa que a rede estadual possui 1.234 escolas com, aproximadamente 90% das salas de aula equipadas com aparelhos de ar-condicionado.
A Seeduc tem trabalhado para climatizar toda a rede estadual no menor tempo possível. Já foram mapeadas todas as unidades que ainda não foram climatizadas, que necessitam de aumento de carga, adequação da rede elétrica junto às concessionárias e (ou) obras maiores de adaptação. Todas as providências estão sendo tomadas e a pasta tem trabalhado para climatizar toda a rede no menor tempo possível."