Juliana se emocionou no momento em que saiu da unidade de saúde em CaxiasPedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - A família da estudante de enfermagem Juliana Leite Rangel, de 26 anos, baleada por agentes da PRF e que ficou internada por 44 dias, vai conseguir, enfim, comemorar o Natal e o Ano Novo após a alta. Segundo o pai da jovem, Alexandre Rangel, toda a celebração marcada para o período de festas entre os parentes teve de ser cancelada, já que Juliana foi baleada na noite da véspera do Natal.

"Agora vamos celebrar, mas com um presente ainda maior, que é a vida da Juliana. É uma alegria imensa. Foi um milagre. Não tem explicação. Foi só alegria", disse o mecânico, que garantiu uma celebração com tudo que se espera de uma ceia de Natal.

"Ninguém teve Natal, ninguém teve Ano Novo. Acabou o Natal, Ano Novo da família toda. Ninguém comemorou nada. As coisas estragaram. Acabou tudo. A família toda ficou em função disso. Todos preocupados com a melhora dela. Nossa ideia é fazer o Natal que ela e ninguém da família teve. Com direito a rabanada, chester e tudo mais", detalhou.

O pai de Juliana conta que ela ainda sente algumas dores, mas que sua recuperação surpreendeu a todos no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, de onde ela recebeu alta nesta quinta-feira (6).

"Ela ainda sente algumas dores, é claro. Na orelha, onde fez uma cirurgia de reconstrução. Até comprei um remédio para ela. E tem a questão da vista, que ela disse não estar enxergando muito bem. Nunca teve problema de visão, então é até estranho. Pode ser que precise operar, mas ainda não sabemos. Independente disso, no geral, ela está bem. Temos fé que essas coisas vão dar certo. Tenho muita fé mesmo. Não falta não", afirmou.

De acordo com Alexandre, a filha está passando por esse período de recuperação na casa da irmã, em Itaipu, para onde a família iria quando o caso aconteceu, na véspera do Natal passado. "Ela está lá com a irmã, a mãe e o restante da família. Lá fica um pouco melhor nesse período", contou.

O pai disse ainda que a saída da filha no hospital em Caxias foi marcada por emoção e desencontro. Alexandre explicou que ele, o irmão, sobrinhos e outros membros da família não conseguiram encontrar com Juliana no momento da saída dela. "Nós preparamos uma camisa em homenagem a ela, fizemos tudo, mas acabaram saindo antes. Não deu tempo. Quando chegamos lá, é que descobrimos que ela tinha acabado de sair de ambulância", contou.

"Tinha até um carro da PRF esperando para levá-la, mas acho que por conta do trauma, ela preferiu não ir com eles e o hospital conseguiu esse transporte de ambulância", explicou.
44 dias de internação
A estudante foi atingida na parte de trás da cabeça e, logo que chegou á unidade de saúde em Caxias, passou por uma cirurgia para retirada do projétil. Após o procedimento, ela foi colocada em coma induzido e permaneceu sedada por uma semana, tendo recobrado a consciência no dia 1º de janeiro. No mesmo dia, Juliana já teve as primeiras interações com familiares.
Uma semana depois, a estudante voltou a respirar sem a ajuda de aparelhos, mas ainda seguia internada em leito de CTI. A transferência para um leito de enfermaria aconteceu somente no último dia 26 de janeiro. Na última terça-feira (4), Juliana fez a retirada da cânula de traqueostomia e, já nesta quinta-feira (6), recebeu alta hospitalar. Ao todo, a jovem passou por 44 dias de internação. 
Ela ainda passará por acompanhamento médico e precisará fazer sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. Juliana não deverá ter sequelas.
O caso
Juliana, os pais, o irmão e a namorada dele, seguiam de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde a família vive, para a casa da irmã, em Itaipu, Região Oceânica de Niterói, na noite da véspera de Natal. Na casa em questão, seria celebrada a ceia de Natal da família.

Quando o carro dirigido por Alexandre passava pela Rodovia Washington Luiz (BR-040), na altura de Duque de Caxias, agentes da PRF dispararam contra o veículo. Um desses tiros perfurou a traseira do veículo e atingiu Juliana e o pai dela na mão direita. Três agentes envolvidos no incidente são alvo de um procedimento interno da PRF, além de um inquérito aberto pelo Ministério Público Federal.