Patrícia Amieiro foi morta após seu carro ser alvo de disparos dados por policiais militares, de acordo com o MPReprodução

Rio - A família da engenheira Patrícia Amieiro, assassinada há mais de 16 anos, recebeu com surpresa a informação do novo adiamento do júri popular dos quatro policiais militares envolvidos no homicídio. Após a mudança de data, Adryano Amieiro, irmão da vítima, disse em entrevista ao DIA que já pensou até mesmo em desistir e está revoltado com a decisão desta segunda-feira (10).
"Muitas das vezes, a família pensa em desistir. Ainda mais nessa situação. Chega na véspera do júri popular e a Justiça não quis ouvir uma testemunha. A gente chegou em um ponto que não temos mais o que fazer, não depende de nós. A Justiça não quer fazer justiça. Chegou a um ponto inacreditável. A gente está muito exausto com tudo isso. Chega a ser revoltante, chegamos no nosso limite. Essa situação toda foi o limite. Não tinha porquê fazer isso", desabafou o empresário de 41 anos, que tinha 25 na época do crime.
O adiamento foi tomado por causa de uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) que impede a inclusão do depoimento de um taxista, considerado pela defesa testemunha-chave. Segundo o recurso do Ministério Público do Rio (MPRJ), a falta da oitiva causaria um "enorme prejuízo" ao processo.
No documento, o órgão ressalta que, em janeiro deste ano, o TJ pediu para que o MPRJ fornecesse os dados do taxista para que ele fosse intimado para depor. De acordo com o Ministério Público, isso mostra que o depoimento já estava determinado pelo juízo. Somente no dia 7 de fevereiro, três dias antes do julgamento, o Juízo vetou a presença da testemunha na audiência.
"A gente luta, mas a Justiça não está fazendo justiça. É como se a nossa família estivesse lutando contra tudo e contra todos. O Ministério Público, graças a Deus, está ao nosso lado para fazer o que é certo. É assim que a gente espera, mas não não era para esse júri ser adiado. A gente sabe tudo o que aconteceu. A Justiça tem que cumprir o papel dela, o inquérito está todo ali", lamentou Adryano.
Segundo o TJ, o caso será analisado pela 8ª Câmara Criminal, que deve marcar uma nova data. Esse é o segundo adiamento do júri popular. O primeiro aconteceu em junho do ano passado, quando o crime completou 16 anos. À época, o motivo para a remarcação era justamente o surgimento da nova testemunha, o taxista que garantiu ter presenciado o crime dos PMs contra Patrícia. O relato chegou à acusação em 2020. 
"Nunca acreditaria em uma situação em que a Justiça não quer ouvir uma testemunha ocular. Achamos muito inacreditável essa situação toda. Essa testemunha já está anexada há três anos, mais ou menos, e nunca teve nada nesse sentido. Aí, em cima da hora, acontece tudo isso. Ficamos sem entender. O papel da família foi muito além, 99% das autoridades que passaram por esse processo não quiseram resolver nada. Todo mundo empurrou e nossa família teve que correr atrás de tudo. Só 1% dos delegados que correu atrás. O resto não quis, porque se tratava de policiais militares. A verdade é essa", destacou o irmão de Patrícia.
São réus os PMs Marcos Paulo Nogueira Maranhão e Willian Luís Nascimento, que respondem por tentativa de homicídio. Além deles, os policiais Márcio Oliveira dos Santos e Fábio Silveira Santana serão julgados por fraude processual.
Marcos Paulo e Willian já haviam sido condenados em 2019, no primeiro julgamento do caso, pelo crime de fraude processual, mas inocentados das acusações de tentativa de homicídio. A pena deles foi de três anos e 60 dias de prisão pelos sete jurados que participaram do Conselho de Sentença do 1º Tribunal do Júri da Capital.
Relembre o caso
Patrícia Amieiro foi considerada desaparecida em junho de 2008, quando tinha 24 anos. Na ocasião, ela voltava de carro de uma festa no Morro da Urca, na Zona Sul. A engenheira seguia para casa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, quando, na saída do Túnel do Joá, o veículo dela teria sido confundido com o de um traficante e os PMs atiraram.
O automóvel foi encontrado a poucos metros de distância no Canal de Marapendi. Para o Ministério Público estadual (MPRJ), que acusa os PMs, o corpo da engenheira foi retirado do veículo e foi jogado no canal pelos policiais para encobrir o crime. Ela foi declarada morta em 2011.
O caso foi tratado, inicialmente, como acidente de carro com desaparecimento do corpo, mas passou a ser visto como homicídio após peritos encontrarem marcas de tiros no automóvel.