Oruam foi preso em flagrante por abrigar foragido da JustiçaReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - A Polícia Civil cumpriu dois mandados de busca e apreensão, na manhã desta quarta-feira (26), em endereços ligados ao rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, de 23 anos. Na ação, o cantor foi preso em flagrante por favorecimento após o foragido da Justiça, Yuri Pereira Gonçalves, procurado por organização criminosa, ser encontrado dentro da sua casa, uma mansão localizada no Joá, na Zona Oeste do Rio. Apesar disso, ele foi liberado horas depois após assinar um termo circunstanciado, se comprometendo a comparecer ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).
Durante as buscas foram apreendidas diversas armas de airsoft, joias, celulares, rádios comunicadores, uma pistola 9mm, munições e um kit rajada. Segundo a Polícia Civil, a pistola foi encontrada no cômodo em que Yuri dormia. Na delegacia, o traficante assumiu a posse dos materiais ilícitos. Além do cumprimento do mandado, ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma.
Oruam chegou à Cidade da Polícia em um carro particular acompanhado do advogado. Ele é investigado por ter atirado, no dia 16 de dezembro do ano passado, no interior de um condomínio residencial localizado em Igaratá, em São Paulo. Segundo Moysés Santana, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), o rapper foi indiciado pela prática do crime de disparo de arma de fogo, após ter colocado em risco a integridade física de diversas pessoas.
"Ele estava numa casa em São Paulo, em uma espécie de festa, pegou uma arma de calibre 12 e fez um disparo. Era uma área residencial com várias pessoas, embora tenha atirado para o alto, a gente sabe que uma pessoa despreparada, sem conhecimento e manuseio de arma de fogo, poderia ter ocasionado um acidente e ferido diversas pessoas", explicou Santana.
Ainda segundo o delegado, a ação desta quarta (26) teve como objetivo localizar e apreender a arma utilizada por Oruam, além de outros materiais que ajudem a identificar o proprietário do armamento. Apesar disso, a pistola usada no crime não foi localizada. Dentre os materiais apreendidos, os agentes também encontraram um anel com indicação de urso e uma igreja do Complexo da Penha, na Zona Norte, dominada pelo traficante Edgar Alves de Andrade, conhecido como 'Doca' ou 'Urso'.
"Agora nós vamos tentar novamente localizar a arma e o proprietário, vamos fazer um trabalho de investigação sobre o Yuri e porque ele estava na casa do Oruam. Diversos celulares, joias, kit rajada, munição, rádios transmissores foram apreendidos e todo esse material será periciado. Já houve deferimento de quebra de sigilo desses telefones então também serão analisados", acrescentou.

Na operação, também foram cumpridos mandados em endereços da mãe do cantor, Márcia Nepomuceno. No entanto, ela não é alvo de investigação. As buscas ocorreram apenas por a residência também pertencer ao rapper.
Em depoimento, Oruam alegou não saber que Yuri estava foragido da Justiça. Contra o criminoso, havia um mandado de prisão em aberto desde 2020.
Oruam é filho de Marcinho VP, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho, que está preso desde 1996 por crimes como tráfico, formação de quadrilha e assassinato.
O que diz a defesa do cantor?

O advogado Fernando Henrique Cardoso, que representa Oruam, reforçou que o cantor não sabia da existência do mandado de prisão contra o amigo e nem da presença da pistola, que foi encontrada na sua casa.

"A casa dele foi alvo de busca e apreensão, ele recebeu a polícia normalmente, que entrou e buscou o que havia no mandado, só que ela encontrou uma pessoa que havia chegado na casa dele na segunda-feira. Eles são amigos de longa data, mas ele omitiu que tinha esse mandado em aberto. Essa pessoa admitiu que tinha esses itens e vai ter um processo próprio. Oruam também não sabia da existência dessa arma", disse o advogado.
Rapper detido por "manobra perigosa"
No última dia 20, Oruam foi detido durante uma blitz da Polícia Militar na Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca, Zona Oeste. O cantor acabou conduzido à 16ª DP (Barra) em uma viatura após fazer uma "manobra perigosa" na frente da PM e autuado em flagrante por direção perigosa. 
Na ocasião, o delegado da 16ª DP estabeleceu um valor de R$ 60 mil para a fiança, permitindo que o rapper respondesse ao processo em liberdade. Na distrital, a polícia verificou ainda que ele estava dirigindo com a carteira de habilitação vencida. Ele foi autuado também por este crime. 
Poucas horas após ser solto, Oruam lançou seu primeiro álbum, "Liberdade". O artista aproveitou as imagens da prisão para promover o novo trabalho e se manifestou nas redes sociais, afirmando que responderia às críticas por meio da música. Na capa do álbum, ele aparece ao lado de sua família, todos vestindo camisetas com o rosto do pai.
Saiba mais sobre o rapper
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido artisticamente como Oruam, foi criado na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. O nome artístico "Oruam" é "Mauro" escrito ao contrário.
No ano passado, ele provocou polêmica ao tatuar o rosto do pai no peito. "Olha o chefe, meu chefe, Marcinho: esse daqui é o meu pai", disse ao mostrar o desenho nas redes sociais. Além dele, o rapper também tem tatuado o traficante Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes.

A carreira musical de Oruam teve início em 2021, ganhando destaque com diversos hits. Em março de 2024, durante sua apresentação no festival Lollapalooza, o cantor chamou a atenção ao entrar no palco vestindo uma camisa com a palavra "liberdade" e a imagem de seu pai, preso há 20 anos.
No início de 2025, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo propôs um projeto de lei que visa proibir a contratação de artistas que façam apologia ao crime, apelidado de "Lei anti-Oruam". A proposta gerou debates acalorados e levou a vereadora a registrar boletim de ocorrência devido a ameaças recebidas por parte de fãs do rapper.
Além de sua carreira musical, Oruam mantém uma forte presença nas redes sociais. Em uma delas, ele conta com 9 milhões de seguidores.