Policiais federais, militares e civis realizaram varredura na sede da OAB-RJ, no Centro do RioReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A sede da Seccional Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na Avenida Marechal Câmara, no Centro, foi reaberta, no início da tarde desta quinta-feira (3) após uma ameaça de atentado. Equipes das polícias Federal, Militar e Civil realizaram uma varredura no local, mas não encontraram artefato explosivo.
Na noite desta quarta-feira (2), a OAB anunciou o cancelamento de todas as atividades previstas para a manhã do dia seguinte, por orientação das autoridades de segurança pública, por causa de uma ameaça relacionada a "grupos extremistas".
"Estamos em contato direto com as autoridades de segurança pública, atentos aos fatos e às apurações, acompanhando tudo com muita cautela. A segurança de advogados, advogadas, funcionários e de todos os que circulam diariamente pela sede da OAB-RJ é nossa prioridade", disse Ana Tereza Basílio, presidente da Seccional, no anúncio do fechamento da sede.
Na manhã desta quinta (3), cerca de 50 policiais, com auxílio de 12 cães, realizaram uma varredura em todos os andares do local, mas não identificaram ameaça, liberando o prédio em segurança, às 12h, para um representante da Ordem.
Atuaram no edifício: agentes do Esquadrão Antibomba da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil; do Batalhão de Ações com Cães (BAC), da Polícia Militar; da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), órgão vinculado ao Ministério de Justiça e Segurança Pública (MJSP); e da Polícia Federal.
“Eu gostaria de agradecer a Polícia Federal, que teve uma atuação impecável, sendo eficiente e rápida, evitando a possibilidade de um atentado. Não seremos intimidados por ameaças e não recuaremos em nenhuma das bandeiras institucionais e democráticas da OAB-RJ. A advocacia segue forte e unida”, disse Basílio.
A PF investiga o caso.
Segurança
Ao DIA, o advogado Álvaro Quintão, ex-secretário-geral da OAB-RJ e ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Seccional, destacou que a classe vem sofrendo nos últimos anos com um aumento no número de violência.
"Existem vários grupos, não sei se poderiam ser chamados de extremistas, que veem a advocacia como uma ameaça. Sempre tivemos uma postura de enfrentar a injustiça. Há quem não aceita isso, quem quer calar e intimidar a advocacia. Quando eu fui presidente da Comissão de Direitos Humanos recebia ameaças diárias porque a comissão se posicionava em defesa de quem precisava. Esse tipo de ameaça não é algo novo, não é surpresa que grupos estariam se organizando para isso. A advocacia tem tomado um cuidado extra até mesmo quando vai visitar delegacias e presídios. Há pessoas que tentam nos silenciar", afirmou.
Segundo Quintão, a localização da sede da OAB-RJ acaba deixando os advogados mais vulneráveis, pois se trata de uma região deserta e com pouco policiamento.
"Tem sido um local de muitos furtos e assaltos nos últimos anos e é natural que aconteçam outros tipos de violência. Nós saímos às 19h, 20h, e já estava deserto. Passar por ali sozinho é sempre um risco e nos organizávamos para sair em grupo. Várias vezes a Ordem solicitou providências, presença da ordem pública e em algumas vezes até tinha. Não tem uma efetividade da segurança. Isso é um fato e vem acontecendo nos últimos anos", completou.
Questionada sobre o policiamento, a PM retornou com uma nota mencionando apenas a atuação nesta quinta: "O Batalhão de Ações com Cães (BAC) foi acionado e realizou uma varredura no prédio com cães farejadores de detecção de explosivos". A corporação ainda reforçou que a PF investiga o caso de ameaça de atentado.
Casos semelhantes
Em fevereiro de 2023, uma carta deixada em alguns banheiros do sétimo andar do prédio informou sobre a existência de uma bomba no local. Durante a descoberta do aviso, ocorria uma solenidade para entrega da carteira de advogados aprovados no concurso da Ordem. Por conta da ameaça, todos os eventos do dia foram suspensos.
Na época, equipes do Esquadrão Antibombas da Polícia Civil não encontraram artefatos explosivos no local. A falsa ameaça, contudo, causou pânico a advogados, funcionários e visitantes que estavam no prédio, que foi evacuado às pressas.
A investigação identificou que o responsável por disseminar a informação falsa sobre a existência de uma bomba foi o advogado José Raimundo Rabêlo Muniz, que estava insatisfeito com um processo disciplinar aberto contra ele na Comissão de Ética e Disciplina. Ele foi suspenso por seis meses das atividades advocatícias, acusado de apropriação indevida de dinheiro de um cliente.
Em fevereiro de 2024, o advogado Rodrigo Marinho Crespo foi morto a tiros próximo ao prédio. Segundo relatos, a vítima teria sido alvo de, ao menos, oito tiros por um homem que estava dentro de um carro, usando uma touca para tampar o rosto. Em 26 de abril do mesmo ano, o Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou três homens, entre eles um policial militar, pelo homicídio qualificado. O processo aponta que os denunciados participaram do monitoramento do advogado e estiveram juntos antes e depois do crime. Os réus estão presos preventivamente e passarão por júri popular.