Jacqueline Muniz, em participação de programa no SBTReprodução / SBT

Rio – A Universidade Federal Fluminense (UFF) divulgou, neste domingo (2), uma nota em apoio à professora e pesquisadora de segurança pública Jacqueline Muniz. A docente vem sendo alvo de ataques de internautas após analisar a megaoperação nos complexos da Penha e Alemão, que registraram 121 mortos na última terça-feira (28).
"Com uma trajetória acadêmica e profissional reconhecida, com ampla experiência em pesquisa e formulação de políticas públicas na área de segurança, a professora tem contribuído de forma qualificada para o debate democrático sobre temas sensíveis da sociedade, como a recente megaoperação no Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortes", afirma o comunicado.
A instituição destacou que acompanha "com preocupação" perseguições e discursos de ódio direcionados à pesquisadora nas redes sociais e por parte de parlamentares. A UFF também reiterou "seu repúdio a qualquer forma de intimidação ou tentativa de silenciar vozes comprometidas com o conhecimento e a defesa dos Direitos Humanos".
Por fim, a universidade expressou seu "total apoio e solidariedade à professora Jacqueline Muniz" e ressaltou "que estará ao seu lado para garantir todo o suporte necessário".
Trajetória
Jacqueline Muniz é antropóloga, gestora pública e professora do Departamento de Segurança Pública da UFF. Já teve cargos no Ministério da Justiça e no Governo do Rio, participando, inclusive, da elaboração do Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), entre outras funções desde a sua graduação em ciências sociais, em 1986.
A estudiosa participou do telejornal "SBT Rio" na terça-feira, dia da megaoperação, e deu nota três à ação, que, segundo Jacqueline, "não cumpriu os requisitos e protocolos de operações policiais, segundo a própria doutrina das polícias Militar e Civil do Rio". Desde então, ela se tornou alvo de ataques por seus posicionamentos.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez uma postagem no Instagram com uma imagem da professora e a legenda: "Está aberta a temporada dos 'especialistas' em segurança". A publicação foi respondida pela própria pesquisadora.
"Olha, um menino chamado Nikolas pedindo para fazer prova oral em polícia e ENEM de segurança pública comigo? Sou professora e não recuso aluno, sobretudo carente e com deficiências formativas e de aprendizagem", disparou, no X, antigo Twitter, na quarta-feira (29).
Dias depois, na sexta-feira (31), ela participou de uma transmissão ao vivo no canal do apresentador Paulo Mathias no YouTube e protagonizou um bate-boca com o deputado federal Delegado Palumbo (MDB-SP). Ele afirmou que Jacqueline não tem experiência no combate armado.
Denúncias
A professora vem denunciando ataques sofridos por internautas. Uma mulher publicou, nas redes sociais, uma foto dela almoçando, com a legenda: "Acabo de ter o desprazer de encontrar esse ser humano no meu almoço". A pesquisadora printou esse post e repostou em sua própria conta.
"Esta senhora deste perfil está incitando manifestações de violência contra mim. Fica aqui registrado para futuro desdobramento legal", escreveu.
Secretário se manifesta
O delegado Felipe Curi, secretário de Estado de Polícia Civil, publicou, neste domingo, uma mensagem em que criticou a postura de alguns estudiosos em segurança, sem citar nominalmente Jacqueline. 
"A atividade de segurança pública é uma função de Estado, exercida exclusivamente pelos profissionais previstos no artigo 144 da Constituição Federal. Entre esses profissionais, alguns, ao longo do tempo, se destacam pela dedicação, pelo estudo e pela experiência prática - tornando-se verdadeiros especialistas em segurança pública. Fora desse círculo, todos os demais são apenas palpiteiros", disse.
Sobre a megaoperação
A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão se tornou a ação mais letal da história do Brasil, com 121 óbitos, incluindo quatro policiais.
Até o momento, 109 mortos já foram identificados. Deste total, 78 apresentavam histórico de crimes graves, o que representa cerca de 80%. Além disso, 54 são de outros estados (15 do Pará, 11 da Bahia, nove do Amazonas, sete de Goiás, quatro do Ceará, quatro do Espírito Santo, dois da Paraíba, um do Mato Grosso e um de São Paulo).
As autoridades destacaram que foram mortos líderes do tráfico de outros estados, como "Russo", de Vitória, no Espírito Santo; "Chico Rato", chefe de Manaus, capital do Amazonas; "Gringo", também de Manaus; "PP", do Pará; "Mazola", líder do crime organizado em Feira de Santana, na Bahia, entre outros.
Além dos mortos, o governo divulgou que 113 pessoas foram presas (54 com anotações criminais), sendo 33 de outros estados, além de dez adolescentes apreendidos. As equipes apreenderam, ainda, 91 fuzis, 26 pistolas, um revólver, 14 artefatos explosivos, centenas de cartuchos e toneladas de drogas.