Talvez seja esse o segredo da maternidade, o enlace eterno de um cordão imaginário que ninguém pode cortarArquivo Pessoal

Amanhã faz exatamente um mês que você foi para não mais voltar.
Sabe, mãe, quando tudo aconteceu, eu quis o silêncio. Falar e ouvir sobre o assunto fazia ficar mais verdade o que eu não queria aceitar.
Aqui ainda era o único meio de comunicação em que eu ainda não tinha falado sobre isso. Talvez tenha sido até algo que não fiz inconscientemente já que o jornal impresso é algo que fica mais ainda documentado; um fato. Na Internet some e na TV e no rádio também: são palavras faladas, mas aqui documentadas.
Mas de onde estiver, eu quero que saiba: o carinho vem de todas as partes, principalmente de seguidores, ouvintes, telespectadores e também leitores, que te conheciam. Já que te citava em tudo, até aqui algumas vezes.
Com a sua partida, reaprendi a contar o tempo. Tem horas que parece que são anos; em outras, que foi ontem. Em alguns momentos de ilusão, parece que isso nunca aconteceu.
Você iria se surpreender, ou não, com a forma como estou lidando. Você, por ter engravidado mais velha de mim, sempre disse que a motivação de ficar viva era me criar. Quem te disse que eu estava pronta? Aprendi que ninguém está.
Mas estou sobrevivendo, com você aqui dentro. Quando vejo que vou desmoronar penso na sua voz: "Vivemos e nos amamos muito e tudo tem o seu tempo de chegar e ir embora". Experiência de quem tinha perdido muita gente já ou sabedoria de uma matriarca que preparou sua "raspa do tacho" desde cedo para não ter medo.
Mas uma coisa te confesso: fui invadida por uma solidão gigante, mesmo cercada de tanta gente. Eu me pego ligando na volta para casa. Quem atende agora é o nosso espanhol, mais calmo, acredita? Infelizmente tudo que você mais pedia, paciência, só quem trouxe foi a dor, com a separação que ele temeu a vida toda.
Você foi no dia que mais amava, a segunda-feira, saiu pela porta dos fundos literalmente para não mais voltar.
A casa, que já era grande, ficou enorme e parece outro lugar. Ele não deixa ninguém tirar nada do lugar, mesmo assim sua presença era tão gigante que a ausência é uma imensidão.
Confesso que ele não viu e eu "furtei" seu perfume. Quando dói muito, muito, eu fecho os olhos e sinto seu cheiro. Borrifei em todo o meu armário, quero carregar você comigo, dentro de mim, como um dia eu já morei dentro de você.
A sensação é que meu passado foi enterrado, não consigo ainda pensar na minha infância, na adolescência, nos últimos anos até um mês atrás.
Fiquei agora com a sensação só de futuro olhando para ele e por ele, meu filho, nosso Dudu. Talvez seja esse o segredo da maternidade, o enlace eterno de um cordão imaginário que ninguém pode cortar, o elo mais forte que a vida e a morte, o amor mais verdadeiro do mundo.
Te amo, te honro e sigo aqui firme, um pouco mais com você viva só dentro de mim.