O ex-ministro da Fazenda e candidato à Presidência em 2018, Ciro Gomes - Reprodução
O ex-ministro da Fazenda e candidato à Presidência em 2018, Ciro GomesReprodução
Por PAULO CAPPELLI

Rio - Conhecido pelo temperamento forte, Ciro Gomes será o candidato do PDT à presidência da República. Ministro da Integração Nacional no governo Lula e ex-governador do Ceará, faz elogios ao ex-presidente, mas diz que seu projeto para o Brasil "é muito diferente do do PT". Afiado, afirma que Jair Bolsonaro (PSL) "é um balão que já furou" e que Marina Silva parece a Copa do Mundo, pois "só acontece de quatro em quatro anos".

O Dia: Caso Lula (PT) possa se candidatar e pedisse para você ser o vice dele, aceitaria?

Ciro Gomes: Eu sou candidato à Presidência. O projeto que defendo para o Brasil é muito diferente do do PT. Aliás, analisando os governos Lula e Dilma fica flagrantemente revelado que o PT não tinha projeto. Aproveitou um quadro favorável no cenário internacional, preços de commodities altos, para fazer, principalmente o Lula, coisas muito boas para o povo brasileiro, especialmente para os mais pobres.

E as diferenças?

A diferença é que o PT não tem projeto. Ao mesmo tempo que coisas boas aconteceram, o país aprofundou a sua desindustrialização. A opção foi sempre pelo estímulo à democratização do consumo, quando o que o Brasil precisa dramaticamente é um esforço de industrialização do país.

Como analisa o crescimento da extrema-direita no mundo, vide Trump, e parcela significativa de intenção de votos em Jair Bolsonaro (PSL)?

Não vejo similitude nenhuma entre o Trump, o fenômeno da direita internacional ascendente, e o Bolsonaro aqui. O Trump soube interpretar a repulsa que o eleitorado americano branco e pobre tem com essa política neo-liberal. No Brasil não há elevação da direita. O Bolsonaro é um fenômeno artificial que surfou numa onda que mistura a anticorrupção e um medo generalizado do povo brasileiro com a violência urbana. É um voto que expressa muito mais protesto do que escolha para o futuro.

Ele pode crescer?

Não. Acho que já foi ao máximo e que o balão furou. Evidentemente há espaço para uma direita hidrófoba, mas para a nossa sorte ele é o pior intérprete disso. Um cara que usava a verba de moradia da Câmara ao mesmo tempo em que mantinha um apartamento e explica isso dizendo que era para "comer gente"... fica difícil a própria direita se sentir liderada por ele.

E uma eventual candidatura de Luciano Huck?

Esse parte mais forte, porque tem notoriedade, uma inorganicidade ao mundo político e evidentemente é um cara que sabe se posicionar. Mas acho difícil que, a partir de um certo patamar, ele evolua. Tem um teto.

E Marina Silva (Rede). Assim como você, representa parte do eleitorado de esquerda descontente com o PT. A candidatura dela te atrapalharia?

Não. A Marina é uma pessoa honrada, digna, não duvido do espírito público. Pesa contra ela uma certa omissão em relação ao debate nacional. Parece assim uma Copa do Mundo, algo que acontece de quatro em quatro anos. Parece, não estou dizendo que é verdade.

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