Até julho, o Brasil contabilizava 31.240 pessoas inscritas na fila por um transplante de córneaHFB/Divulgação
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta que a tendência de crescimento da fila deve se manter: nos seis primeiros meses deste ano, o indicador já estava 369 dias. “Esses números correspondem à média nacional consolidada, que pondera informações por volume de procedimentos, e não à simples média aritmética dos estados”, detalhou a entidade.
Os dados foram apresentados durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Curitiba (PR). Para o CBO, o cenário tem origem em múltiplos fatores, incluindo a falta de reajuste nos valores pagos pelos procedimentos e o impacto da pandemia de covid-19, que causou o represamento de pacientes, sobretudo entre 2020 a 2023.
“Além de repasses congelados durante anos e repercussão do coronavírus na regulação do sistema de saúde, os especialistas apontam a necessidade de contornar o problema enfrentado pelos bancos de olhos para sua manutenção frente aos custos dos insumos cotados em dólar”, destacou o CBO.
Outro ponto identificado pelo conselho trata do incremento nas exigências durante as fases de produção e processamento da córnea, como a necessidade de gestão de qualidade. “Essas causas alinhadas geram uma fatura que não fecha para o banco de olhos, que recebe a mesma coisa que há uma década, quando não existiam tantos requerimentos na legislação”.
Estados
Outros estados mostraram melhor desempenho e foram classificados pela entidade como “bons exemplos”, incluindo Ceará (58 dias), Santa Catarina (164 dias), Mato Grosso (227 dias), Amazonas (243 dias), São Paulo (247 dias) e Paraná (256 dias).
“Apesar de preocupantes, os especialistas do CBO ressaltam que o Brasil, em termos gerais, permanece muito bem avaliado em nível internacional, com um desempenho compatível com Canadá, Austrália e países da Europa. Na América Latina, é o grande destaque regional, bem à frente de Argentina, Chile, Colômbia e México.”
Pacientes
As mulheres são maioria na fila (55,7% dos pacientes). Já pessoas com 65 anos ou mais representam quase a metade dos que aguardam pelo transplante (47%) o que, segundo o CBO, reflete o envelhecimento da população e o aumento das doenças degenerativas da córnea.
Jovens também estão presentes na lista: 17% dos pacientes que aguardam um transplante de córnea têm entre 18 e 34 anos, casos provocados, em sua maioria, pelo ceratocone, doença que afeta a estrutura da córnea. Há ainda 458 crianças e adolescentes na lista de espera.
Desempenho
No período, o destaque foi São Paulo, com 52.913 procedimentos realizados — cinco vezes mais que o Ceará, segundo colocado no ranking, com 10.706 transplantes. Também apresentaram alto desempenho Minas Gerais (10.397), Paraná (9.726), Rio Grande do Sul (6.895) e Goiás (6.533). No extremo oposto, estão Acre (212), Tocantins (451) e Alagoas (866).
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