Casa Inês Etienne Romeu Reprodução

Cabo Frio - A Casa Inês Etienne Romeu, ocupação localizada na Avenida Julia Kubistchek, em Cabo Frio, cujo objetivo é o acolhimento de mulheres em situação de violência, amanheceu o último sábado (22) alvo de vandalismo, segundo denúncias. O local, que havia recebido a pintura de uma muralista voluntária, foi totalmente pintado de branco.

O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais. Segundo relatou Pétala Cormann, uma das coordenadoras da ocupação, em um vídeo compartilhado no perfil oficial da ocupação, o ataque apagou completamente a sinalização que identificava o imóvel. A arte tinha sido feita recentemente pintada pela artista Camila Santana.

Ainda de acordo com o relato de Pétala, esse ataque não foi único, se somando a outros incidentes ocorridos anteriormente, como a queima de banners, corte dos fios de luz e a danificação do cadeado da entrada. Ela afirmou, ainda, que, apesar dos atos de vandalismo, “a equipe não se deixará intimidar e continuará com seu trabalho”.
 
Já Chantal Campello, outra coordenadora da ocupação, reforçou a fala de Pétala. “A luta continua. Não são homens covardes que vão intimidar a luta das mulheres. Na verdade, isso só dá mais fôlego para a gente lutar pelos nossos direitos”, comentou, complementando: “Por isso, seguimos na luta pela cessão de uso do nosso espaço, pelo processo que está tramitando na prefeitura, para que a gente dê vida a esse espaço e transforme a vida e a realidade das mulheres”.

Por outro lado, um homem, que se denomina como “morador da localidade”, comentou que a população local pintou o muro da ocupação por “não apoiar a causa”. Ele chama o local de “invasão” e acusa a casa de ter feito um “gato de luz”.

“É uma vergonha essa invasão, fizeram até gato de luz no poste de iluminação pública. (…) Pintar o muro de branco agora é ataque? Ataque é o que vocês fizeram, invadindo essa casa e fazendo ‘gato de luz. (…) Se elas querem morar e fazer politicagem, ou qualquer tipo de projeto, tem que ser um aluguel legalizado, e não invadido. (…) Os moradores do bairro não são contra a luta das mulheres. Os moradores são contra a invasão, gato de luz e outras ilegalidades. (…) As mulheres e homens de bem do nosso bairro pontaram o muro de branco porque elas, invasoras, colocaram o nome delas no muro como se fossem donas do local. (…) Se fizerem desenhos ou colocarem qualquer nome no muro da casa invadida, será apagado novamente. Não vamos permitir nenhum tipo de invasão ilegal no nosso bairro”, disse o popular.

Medidas

Nesta segunda-feira (24), representantes da organização foram até a procuradoria municipal e, em seguida, efetuaram um boletim de ocorrência. Os comentários do suposto “morador local” serão utilizados como provas.
 
Cartaz  - Divulgação
Cartaz Divulgação
Além disso, após o ocorrido, foi convocada uma plenária para segunda, às 19h, com os apoiadores da causa, para mostrar que continuarão lutando pela cessão de uso do espaço, cujo processo está em tramitação na prefeitura. A reunião acontecerá na Avenida Julia Kubitschek, 126.

O Jornal O Dia entrou em contato com a prefeitura de Cabo Frio, questionando sobre a denúncia. O município informou o seguinte:

“A Prefeitura de Cabo Frio informa que existe um processo de cessão do espaço, o qual está em tramitação.

O governo municipal reforça que não realizou qualquer movimento de pintura, descaracterização ou desocupação do espaço”

Sobre a ocupação

Na madrugada de 25 de novembro de 2023, a Casa Inês Etienne Romeu, localizada em Cabo Frio, foi ocupada em um ato de denúncia à violência contra a mulher.

Segundo os organizadores, o imóvel, pertencente ao município, estava vazio e sem cumprir qualquer função social há mais de uma década. Agora, o local tem como objetivo ser uma casa de referência para atender, acolher e organizar mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência.