Criança Divulgação
“A gente passa pela neuropediatra com a criança, ela passa um monte de terapia pra gente. Quem tem condições, paga as terapias particulares, quem não, tem fica à mercê. A APAE de Cabo Frio está super lotada, também está sem profissionais. O CAPS da cidade também está sem profissionais, tem alguns psicólogos, mas tem gente na fila de espera. Então, quer dizer, a gente está sem nada. As crianças especiais estão abandonadas pela cidade de Cabo Frio”, declarou Maria Aparecida.
Maria Goreti, mãe da Beatriz Alves, também de 3 anos, enfrenta os mesmos problemas. Bia tem hidrocefalia e foi diagnosticada com autismo grau 3. A mãe conta que, desde que ela foi diagnosticada, começou a luta por terapias, médicos, remédios, mas Cabo Frio não tem suporte nenhum para as crianças neurodivergentes.
“Paguei por mais de ano neuropediatra, saindo se Cabo Frio e indo a Rio das Ostras e pagando R$ 400 de consulta, pois coloquei pedido pelo SUS e só consegui final do ano passado. Isso por intermédio de uma médica conhecida minha. Estou na luta ainda com pedido de fonoaudiólogo e do exame Bera por mais de ano e nada. Minha filha precisa de várias terapias, mas não tenho condições de pagar, pois parei de trabalhar para ficar com ela. É tudo muito difícil, pois não temos um suporte para nossos filhos. Hoje ela está apenas na APAE com uma psicóloga, psicopedagoga e fisioterapeuta fazendo terapia em grupo com outras crianças, mas minha filha já vai ficar sem agora no final do ano, pois fui avisada que seria só por 2 anos, então minha filha vai ficar sem suporte nenhum e eu já não sei mais o que fazer ou a quem recorrer”, lamentou Maria Goreti.
Com toda essa dificuldade, as mães acabam desenvolvendo também desgaste emocional.
“Eu estou super esgotada, cansada psicologicamente e mentalmente. Precisando também de um suporte emocional pois não é fácil. Temos que nos humilhar por algo que nossos filhos têm direito, mas não conseguimos dar esse suporte”, desabafou.
No caso do Gaell, de 5 anos, a mãe Jhuliet Maia conseguiu algumas terapias pelo plano de saúde, mas vem enfrentando problemas com o mesmo, que passou a negar o tratamento. Para o menino não perder todo o avanço na fala, ela está se desdobrando para conseguir dinheiro para arcar por conta própria através de vaquinhas. Confira o desabafo:
“O Estado determinou que todo lugar tenha uma sala de recurso, nós temos uma sala de recurso no Evaldo Salles, não foi suficiente, abriram mais uma na Etelvina, só que a professora estava tendo que atender duas crianças de vez, a professora não deu conta, a primeira saiu, a segunda entrou e também já estava querendo sair, e agora eles prometeram que vão colocar mais uma professora, só que a divulgação nunca é clara, não existe uma colocação clara para a gente, a gente fica esperando, esperando, esperando, esperando e não tem uma comunicação clara com a gente, eu estou até para ir de novo na secretaria de Educação para verificar a informação de perto, porque a minha filha já está indo para quase um mês sem ir também para a sala de recurso, e eu não estou vendo a prefeitura tentando resolver o problema”, disse Maria Aparecida.
Crianças autistas podem apresentar sensibilidade ou agitação durante os procedimentos e a falta de dentistas que trabalhem com sedação e de especialistas em crianças com necessidades especiais também é motivo de reclamação. A única dentista que atendia pelo município está com a cadeira quebrada desde fevereiro, segundo o relato.
“Minha filha precisou de sedação do início, não precisaria porque ela estava com uma cárie bem pequenininha, mas enrolaram de janeiro até agora para depois, por último, encaminhar para o TFD (Tratamento Fora de Domicílio)”, contou a mãe da Laura.
As mães criticam ainda, a falta de comunicação clara e transparente por parte da prefeitura, o que torna a busca por informações um processo árduo.
“Eu estive na ouvidoria, fiz uma reclamação sobre a questão da cadeira da dentista, de estar quebrada há mais de seis meses. Fui também e reclamei sobre a questão da falta do fonoaudiólogo, da psicóloga. Reclamei, peguei a reclamação, amanhã eu vou ter que, de novo, levar a minha guia da minha filha pra deixar no TFD pra consultar, mas eu pedi urgência, porque a minha filha tá sentindo dor agora, porque o que era uma cárie pequena, virou um canal. Demora e nós estamos assim, de mãos atadas e pés amarrados, não podendo fazer nada. E a prefeitura não olha pra gente”, completou.
A redação do Jornal O Dia entrou em contato com a prefeitura, mas não obteve retorno até o encerramento da matéria.
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