Adeptos de todas as religiões buscam uma aproximação com o sagrado, segundo filósofo da religião, o romeno Mircea Eliade. Algumas crenças funcionam como uma espécie de portal entre o mundo profano e um mundo onde não há começo nem fim, eterno, invisível para muitos, mas tão real quanto o outro.
O professor Roberto Tavares, estudioso da Doutrina Espírita, lembra que em outras religiões, essa convergência se dá por meio do uso de ervas ou alimentos que podem ser comidos, bebidos, queimados e inalados de diversas formas.
No Brasil, a forma mais usada na busca pela congregação com o sagrado é a oração. Agostinho, o Bispo de Hipona, mais tarde reconhecido pela Igreja Católica como Santo Agostinho, orar nunca foi um monólogo, mas sim, um diálogo íntimo com Deus. Muitas religiões, cristãs ou não, utilizam do diálogo com o divino como forma de aproximarem-se Dele.
Para os espíritas, continua o professor Roberto Tavares, o caráter da prece (ou da oração ou ainda, da reza), é uma forma de enviar mensagens para os espíritos superiores. Para a maioria, a prece é um ato de adoração (expressão, a meu ver, inadequada, já que não é crível que Deus ou qualquer um de seus representantes queira ser “adorado” ...). Concordo plenamente, todavia, que fazer uma prece dirigida a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele.
As três coisas que nos propomos ao fazer uma prece: louvar, pedir, agradecer. O espiritismo, assim como outras doutrinas religiosas, vê o ato de orar como contato imediato com o sagrado. Fazer uma prece, oração, reza, nada mais são expressões diferentes para falar da mesma ação.
Rezar não quer só dizer proferir palavras elogiosas a Deus, mas sim, entender a importância do divino em nossas vidas e no mundo, o que faz entender melhor o nosso lugar, continua Roberto Tavares. A segunda ação quando rezamos é pedir. Quanto a isso, no espiritismo crê-se que podemos pedir por nós mesmos e pelos outros. O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal.
A prece que fazemos por ou para outra pessoa é um ato dessa vontade extracorpórea. Se for ardente e sincera, chamará os bons espíritos para auxiliar aqueles por quem oramos. Os bons espíritos virão sugerir bons pensamentos e dar a força que seu corpo e sua alma necessitam.
Aqui, cabe uma observação do professor Roberto Tavares. Os espíritos superiores nos falam que Jesus é o tipo mais perfeito que Deus nos ofereceu. Por isso, os espíritas seguem o arcabouço moral cristão. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é composto da interpretação das passagens evangélicas da Bíblia à luz do Doutrina dos Espíritos, destaca-se essa passagem do ensino de Jesus: “Ele nos recomenda que lhes esqueçamos as ofensas, que lhes perdoemos o mal que nos façam, que lhes paguemos com o bem esse mal”.
Durante uma prece temos que agradecer, pontua o professor Roberto Tavares. Se reconhecermos a ascendência da divindade sobre nós, se entendermos que somos seres imperfeitos e que precisamos da proteção, força e coragem, que façamos o uso da prece. É por meio da oração que chegamos até o sagrado.
Esse é o caminho natural, agradecendo não só pela ajuda alcançada, mas pela própria possibilidade de termos uma forma de contato com o Criador e demais espíritos de luz. Na verdade, para erguemos uma oração ao alto, não necessitamos de utensílios, não precisamos, necessariamente, estar em algum lugar. Não é preciso saber ler e nem escrever, não é preciso falar esse ou aquele idioma pois, como falam os espíritos superiores: “A forma nada vale, o pensamento é tudo. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração”.