Cesário Melantonio NetoDivulgação

O governo militar do Centrão deu o mais recente golpe na já erodida imagem brasileira no exterior. Esta associação pode nos levar ao fundo do poço e a um ponto crítico no relacionamento internacional. O governo e a política não inspiram respeitabilidade e confiança para a comunidade global. A sensação de viver em uma nação em declínio traz uma visão desalentadora do nosso futuro.
Boa parte da sociedade brasileira tem a sensação de que o país está falido e sem rumo. Os brasileiros têm uma percepção negativa muito acima da média mundial. Mais de dois terços (69%) da população entrevistada afirmam que o Brasil está em processo de falência sistêmica. Este índice só é superado pela Hungria (72%) e África do Sul (74%).
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A crítica às instituições políticas é generalizada no mundo, mas não de maneira tão acentuada quanto no Brasil. Hoje se percebe um sentimento em nosso país de decepção e de insegurança com o futuro a curto e médio prazo. A Economia está manipulada para favorecer os ricos e poderosos, segundo parcelas significativas da população brasileira. O melhor seria fortalecer as instituições e aumentar a participação popular nelas para encontrar soluções democráticas e que atendam ao interesse coletivo.
Essa divisão entre cidadãos comuns e a elite política e econômica é a receita certa para um Estado falido e uma nação sem perspectivas positivas. A população brasileira se sente muito desassistida e boa parte acredita que os que têm poder o usam apenas em benefício próprio e de seus familiares, ou seja, uma "filhocracia".
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O namoro do governo federal com o partido de extrema direita, AFD, da Alemanha, agrava a implosão da imagem brasileira na Europa e no mundo, identificando-nos com o que há de pior no panorama político europeu e mundial. Outro tema que fragiliza a reputação brasileira global são as constantes violações dos direitos humanos, que aumentam a preocupação da comunidade internacional em relação ao Brasil. Afinal, o governo protege atividades ilegais de garimpeiros, madeireiras, grileiros e fazendeiros.
A escalada da violência contra as comunidades indígenas, nesse contexto, viola normas e padrões internacionais. A contaminação de terras indígenas pelo mercúrio e a mineração crescente nas reservas indígenas demandam respostas por parte da diplomacia brasileira para explicitar o que o governo tem feito para evitar violência e ataques contra os nossos indígenas. O avanço do garimpo, da covid-19 e do desmatamento em terras indígenas afetam a saúde da população local.
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O atual governo é denunciado internacionalmente por descumprir convenções internacionais de que o Brasil é signatário com desacato à Constituição brasileira. A maneira temerosa com a qual foi tratada a pandemia por Brasília, como também os repetidos ataques a povos indígenas, violações de direitos humanos e criminalização de ativistas têm colocado o Brasil na contramão da história e do lado da barbárie contra a civilização. Desde o início da pandemia, a política negacionista da administração federal demonstrou desprezo pelas vidas humanas e pela saúde pública.
Outro segmento que impacta a nossa imagem negativamente no exterior é a falta de perspectivas para a juventude brasileira. Segundo levantamento do Banco Mundial, Unesco e OCDE, com 59 indicadores coletados nesses organismos, o Brasil aparece, desde 2019, como um dos cinco piores países para jovens no mundo pela degradação, nesse período, da Educação, Saúde, acesso a empregos, participação política, entre outros temas.
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Temos uma proporção muito alta de jovens que nem trabalham e nem estudam, ou seja, 27,1% dos jovens estão nessa situação e 70% têm dificuldades para encontrar um trabalho. Nunca antes tivemos uma juventude tão decepcionada, sem perspectiva de emprego e insatisfeita com a condução do país, segundo recente pesquisa da Fundação Getulio Vargas Social.
O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2021 não prevê nenhum investimento para a Promoção dos Direitos da Juventude e reflete um amanhã de incerteza aos jovens que constituem nossas mais auspiciosas promessas de futuro. Se nada for feito, vamos desperdiçar o potencial da juventude no Brasil em termos de conhecimento e de produtividade e afetar em grandes níveis o cenário econômico. O tempo deve ser de união das forças que possam influenciar positivamente essa triste realidade e debater soluções, mostrando às autoridades dos Três Poderes que a juventude brasileira precisa ter vez e voz.
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O sucesso nacional depende dessa decisão e saber se estamos dispostos a nos transformar para atrair os jovens ao trabalho, usando o enorme potencial da nossa juventude para alavancar o processo de crescimento econômico e atrair investimentos estrangeiros.
Para finalizar esta discussão sobre as razões da implosão da imagem brasileira no exterior, seria bom não esquecer a incúria do governo federal com a cultura do país, como mostra a recente destruição de parte relevante do acervo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, por incêndio devido à falta de manutenção.
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Como dizia Galileu Galilei: "De todos os ódios, nenhum supera o da ignorância contra o conhecimento".