Cesário Melantonio NetoDivulgação

Por Cesário Melantonio Neto
A queda de Netanyahu acentua o isolamento brasileiro depois de Matteo Salvini, Maurício Macri e Donald Trump. Yair Lapid, novo chanceler e principal personagem do novo governo israelense já afirmara que se chegasse ao poder manteria distância de personagens de extrema-direita e se aproximaria de lideranças mundiais mais moderadas como Joe Biden e Emmanuel Macron.
A subserviência do Brasil a Netanyahu ficou patente com uma série de visitas a Israel culminando com a recente viagem para ver um spray nasal contra o novo coronavírus. Como em um jogo de cartas, apostamos todas as fichas nos naipes errados e não seremos bem recebidos nem em Washington, nem em Tel-Aviv.
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Neste momento, o Brasil está mais marginalizado do que nunca na América Latina, na África, no Oriente Médio, na Europa, na Ásia e na América do Norte. Dezoito meses parecem pouco tempo para mudar essa situação, sem ser impossível, caso haja vontade política. Mas essa decisão teria de vir do Planalto, que dá a impressão de que não se importa com a crescente marginalização internacional.
Na declaração final da recente reunião do G7 houve uma aparente reconversão do grupo em direção da democracia social e da luta contra a desigualdade, em contraposição às atitudes do Executivo brasileiro. Nessa mesma reunião foi dada grande prioridade à conservação do meio ambiente, no exato momento em que aumenta a devastação da Amazônia e do Pantanal. No encontro do G7, o Brasil se viu mais isolado do que nunca visto que Joe Biden, Angela Merkel, Boris Johnson, Macron e Justin Trudeau nutrem pouca simpatia pelo atual governo brasileiro visto como negacionista ambiental e pandêmico.
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A China vê as declarações de Brasília sinofóbicas como hostis, e na América do Sul não temos nenhum aliado. A Rússia apoia a Venezuela, Israel deve distanciar-se, e nos países árabes e africanos deixamos a impressão de pouco interesse por um relacionamento diplomático mais estreito. As declarações do anterior titular do Itamaraty, de que não se importava em ser pária, confirmam que o Brasil, infelizmente, nunca foi tão pária internacional como no momento atual.
Notícias como a exportação de gado de fazendas com desmatamento ilegal e trabalho escravo, em nada contribuem para melhorar a nossa reputação e inserção internacionais. Madeireiras suspeitas de exportação ilegal para os Estados Unidos e Europa continuam a atuar livremente, sem controle por parte do Ministério do Meio Ambiente, com a suposta participação do então ministro e do presidente do Ibama.
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Nesse contexto tóxico, os esforços do Itamaraty para recuperar o terreno perdido, podem cair no vazio. A nossa competente diplomacia busca meios e modos de reverter essa situação inaudita, mas outros órgãos do Executivo federal persistem nos erros sem demonstrar desejo de mudanças positivas. No caso do Mercosul, as discrepâncias crescem enfraquecendo o processo de integração regional e faz com que o Mercosul perca importância no comércio exterior brasileiro.
A recuperação da imagem e da inserção internacionais do Brasil passa, igualmente, pela eliminação do caráter racista e antidemocrático de algumas autoridades dos Executivos federal e estaduais. O ano de 2020 foi marcado, tristemente, pela morte de 947 pessoas por policiais no Estado do Rio de Janeiro. Essa atitude desses policiais demonstra, claramente, o caráter bárbaro, racista e antidemocrático da estratégia violentíssima de combate ao crime, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu qualquer operação policial nas favelas durante a pandemia, com exceção de casos absolutamente excepcionais.
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Violações frequentes dos direitos humanos e das minorias pelo aparelho policial afetam com gravidade a percepção sobre a realidade brasileira no exterior. O Itamaraty pode recuperar o seu papel relevante na construção do Brasil - na frase exemplar do embaixador Rubens Ricúpero - caso possa liberar-se da ostensiva ideologia professada pelo anterior titular da Chancelaria.