Cesário Melantonio NetoDivulgação

Como é possível que um chefe de Estado, ao receber representantes de outra nação, afirme que mantém a sua convicção de que o derrotado nas eleições presidenciais deste país foi vítima de uma fraude eleitoral? Essas declarações no Planalto causaram estupor para o enviado do presidente Joe Biden, em Brasília, que manifestou apoio à preservação da democracia brasileira.

Mas o atual ocupante do Executivo Federal não mudou nada em sua narrativa de adesão às falsas denúncias de fraude nas eleições dos Estados Unidos em 2020 e persistiu nessas acusações com o enviado do presidente norte-americano. Só um país em vias de subdesenvolvimento mental, político e diplomático pode viver esse tipo de escândalo promovido pelo próprio ocupante do Palácio do Planalto.

A possibilidade de interagir com o atual governo brasileiro foi afastada de vez por Washington após esta agressão verbal, gratuita e desmedida pelo chefe de Estado brasileiro. Como se essa catástrofe diplomática não fosse pouco, o morador no momento do Alvorada, foi denunciado no Tribunal Penal Internacional de Haia pela articulação das Terras Indígenas do Brasil pela morte de 1.162 índios, de 163 povos, durante a pandemia da covid-19.

O documento de 148 páginas acusa o presidente da República de genocídio e também de uma série de ações e omissões na gestão ambiental. O texto afirma que a desmontagem das estruturas públicas de proteção socioambiental promoveu invasões a terras indígenas, desmatamento e incêndios nos biomas.
A entidade vai pedir ao Tribunal Penal Internacional o enquadramento por ecocídio, na tipificação de crime contra a humanidade, sobretudo contra o planeta e o meio ambiente. Segundo o Estatuto de Roma, texto que criou o Tribunal, os condenados por tais acusações podem sofrer medidas cautelares e até prisões preventivas.

Os prejuízos ao meio ambiente, patrimônio nacional e aos indígenas brasileiros nesses 31 meses de desgoverno correspondem a meio século de atraso e perdas enormes de direitos conquistados. Essa marcha em direção ao subdesenvolvimento pela destruição ambiental é muito perigosa para o Brasil e para todo o planeta.

O desfile militar de uma República das Bananas, como disse o jornal britânico The Guardian, só fez agravar a já combalida imagem brasileira no exterior pelo destempero verbal e emocional de Bolsonaro. De nada adiantam os esforços do Itamaraty para projetar uma imagem internacional positiva se o Planalto torpedeia diariamente esses esforços.

A escala do embate entre Jair Messias e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foi acompanhada com atenção pela comunidade internacional. A crise institucional que o Brasil enfrenta como resultado da crise entre os Poderes é razão de preocupação para quem acompanha as oscilações do mercado financeiro e também na definição do papel que o país ocupa no cenário global.

Assim, após o desgoverno, teremos de reconstruir o Brasil e corrigir os erros cometidos na atual administração. Políticas ativas para reduzir a desigualdade de oportunidades vão ser cruciais para retomar o caminho do desenvolvimento econômico. A questão distributiva tem que ocupar posição de relevo. Vamos precisar de uma reforma tributária decente que seja progressiva, horizontal e que diminua as distorções existentes no atual momento político.

O Brasil evoluiu em alguns aspectos nas últimas décadas, mas teremos de corrigir nossos erros para conseguir crescer novamente com justiça social. Para retomarmos o processo de desenvolvimento econômico, teremos de retornar ao estado do bem-estar social destruído pelos atuais ocupantes do Executivo Federal.
Para onde se olha no Brasil, existe ineficiência, retrocesso e destruição. Uma guerra aberta contra os pobres e miseráveis. Há riscos diários às políticas públicas, aos recursos naturais e às instituições democráticas, ou seja, um desgoverno de lesa-pátria. Em 31 meses, o Brasil passou de oitava a décima segunda Economia mundial, uma nação em vias de subdesenvolvimento.

Pelo currículo atual do ocupante do Planalto, já se podia prever a tragédia, mas o estrago é maior do que se poderia imaginar em 2019. O enfrentamento pífio à mais grave crise sanitária em um século tornou ainda pior a situação brasileira.

Os efeitos dramáticos, interna e externamente, da política deliberada de destruição da Amazônia e do Planalto afastam do Brasil investidores estrangeiros, grandes bancos, o empresariado responsável e os parlamentares europeus. Comunidade indígenas e organizações quilombolas, apelaram a entidades multilaterais para denunciar o genocídio dos povos tradicionais. O Tribunal Penal Internacional será o provável destino do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid.

O Brasil se mostrou ineficaz no controle da disseminação da doença causada pela covid-19 e por isso, se verifica uma forte crise econômica em razão da sabotagem promovida pelo Planalto que evitou uma série de medidas sanitárias retardando a compra de vacinas sem conter a crise social e permitindo a morte de mais de 575 mil brasileiros e brasileiras.

Como disse Sartre, todas as palavras têm consequências, mas todo o silêncio também!
Cesário Melantonio Neto