Cesário Melantonio Neto: O aparelhamento do Estado
O uso das instituições estatais para fins e lucros privados está se tornando prática diária do Planalto. Como se vê, não faz sentido o Ministério da Economia criar uma "fábrica de e estudos" pois ela já existe no IBGE e no Ipea
A criação da Secretaria Especial de Estudos Econômicos, no Ministério da Economia, visa o esvaziamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). O desmonte dessas instituições corresponde ao plano de alterar os dados da realidade para 2022, com fins eleitorais. Essa nova secretaria vai abrigar o IBGE e o Ipea.
A intenção do Planalto é intervir diretamente nos dois institutos, hoje duas usinas de más notícias para o Ministério da Economia. Se há dados negativos para esse ministério é porque o próprio Executivo federal os produz de forma abundante. Pouco a pouco estão transformando órgãos do Estado e de governo em estruturas adaptadas ao atendimento de interesses particulares.
Foi assim com a Procuradoria Geral da República, com a Polícia Federal e com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). No próximo ano, esse aparelhamento do Estado deve continuar e se intensificar com a pressão eleitoral.
O uso das instituições estatais para fins e lucros privados está se tornando prática diária do Planalto. Como se vê, não faz sentido o Ministério da Economia criar uma “fábrica de e estudos" pois ela já existe no IBGE e no Ipea. O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai fechar o seu escritório no Brasil porque suas projeções desagradaram o grupo do poder em Brasília. "Estamos dispensando missão do FMI e dissemos para eles fazerem previsão em outro lugar” disse o titular do Ministério da Economia.
Pelo jeito a briga contra as estatísticas e os fatos faz parte da estratégia eleitoral do atual Executivo Federal. Não adianta querer enganar os outros. Os fatos negam as mentiras como o aparelhamento por militares dos órgãos de controle do meio ambiente. Nesse contexto o Brasil de hoje optou no momento por querer estar isolado no mundo.
O Brasil abriu mão de estar presente nos múltiplos tabuleiros internacionais. Na conferência COP 26 do clima, por exemplo, não adianta fazer um discurso falso porque o discurso tem de corresponder minimamente à realidade. O discurso não pode ser totalmente discrepante dos fatos e das estatísticas. O desmatamento é monitorado por satélites, por exemplo, e não adianta tentar enganar outros países pelo aparelhamento das nossas instituições estatais.
A realidade no terreno mostra que o Planalto desmantelou o aparelho fiscalizatório e regulatório do meio ambiente. Essa política da falsidade faz o país ser visto como mentiroso. Não é mais possível, no mundo de hoje, esconder a sujeira debaixo do tapete. Atualmente, o Brasil não consegue se colocar nem em evidência e nem em relevância.
Só com a reconstrução dos aparelhos estatais vamos recuperar o prestígio e a confiança internacionais. Em 2022, a marcha de destruição das nossas instituições vai continuar sem sombra de dúvida. O quadro inspira cuidados e demanda clareza e coragem do conjunto das forças de oposição democrática. Trata-se, afinal, de uma agenda de reconstrução democrática do Brasil.
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