Na semana passada, escrevi aqui um artigo com o título "CANSEI DE MIM". Foi incrível a quantidade de manifestações que recebi a respeito. Muitas, com uma cortante lucidez, questionando, em razão das minhas críticas à elite brasileira, se existiria de fato elite no Brasil. Ou se ainda não somos sequer uma sociedade na qual se possa identificar uma elite. Várias mensagens, talvez impressionadas pelo título, conclamando a necessidade de não desistir, pois o país precisa, mais do que nunca, de ações afirmativas de todos nós. A maioria concordando com minha perplexidade pela mediocridade do momento brasileiro, com a angústia da volta do país ao mapa da fome da ONU, do qual tínhamos saído em 2012. E, claro, a quase totalidade dividindo comigo o constrangimento de termos, ainda no meio deste caos obscurantista, 30% dos brasileiros apoiando o governo fascista.
Penso que o tom de quase revolta e desabafo deu a sensação de um desânimo no meio do desastre pelo qual passa o Brasil em todas as áreas: cultura, saúde, economia, educação, segurança, tudo enfim. Mas, na verdade, o artigo é um libelo à resistência que pretende fazer um Brasil feliz de novo, em vencer o atraso, em afago e em afeto. Fala, na verdade, em conseguir aconchego no fundo do poço, em dar as mãos na beira do precipício e em não deixar ninguém sozinho. Para tentar reagir aos bárbaros, no entanto, é necessário revelar as atrocidades. Não há como enfrentar esses ratos que saem diariamente do esgoto sem se expor ao cheiro putrefato da turba.
Ainda nesta semana, a exemplo do deputado bolsomorista que foi à Ucrânia fazer turismo sexual, pois as ucranianas seriam "fáceis porque são pobres", outro escândalo ocorreu no seio do bolsonarismo raiz. Um vereador desse grupo, com 23 milhões de seguidores e o terceiro mais votado — 60.326 votos no Rio de Janeiro —, foi filmado aparentemente aliciando uma menor em troca de um sanduíche. O mesmo vereador que é acusado de assédio moral e sexual por ex-funcionários. Tudo merece apuração, claro.
Ao mesmo tempo, o ministro da Educação caiu por corrupção depois de o Presidente afirmar que "botava a cara no fogo" pelo infeliz. Mas Bolsonaro não cumpriu a promessa, pois, como a cara dele é de pau, teria virado cinzas. Por isso alertei para esquecermos da ideia do brasileiro cordial. É necessário encarar de frente, e com vigor, esses hipócritas e canalhas. É preciso nos lembrar do acinte de ter o ex-ministro Milton Ribeiro autorizando a distribuição de bíblias com fotos dele. Não existem limites para esse grupo!
Mas, na verdade, o que ficou das centenas de manifestações que recebi foi uma sensação que nos domina: é chegada a hora de termos o Brasil de volta. Um país que acolha a todos e que nos faça ter a certeza de que vale a pena lutar por um mundo melhor. Das mensagens que me abraçaram e me deram a certeza de que vale a pena continuar na luta, destaco a do meu grande amigo e líder, o professor Boaventura Sousa Santos:
"Grande artigo. Brilhante. CANSEI DE MIM escrito por alguém que, desmentindo o título, continua incansável a lutar por um Brasil mais feliz e digno."