Trama de 'O Agente Secreto' se passa no Recife de 1970, época em que o Brasil enfrentava a ditadura militarVictor Jucá/ Divulgação
O Brasil em cena: a força de um cinema em crescimento
Do reconhecimento internacional ao impacto econômico, a nova fase do cinema brasileiro mostra que contar nossas histórias é também projetar o país no mundo.
“O cinema é a maior máquina de empatia já inventada”, disse Roger Ebert. Talvez por isso algumas histórias nos acompanhem por semanas, meses — às vezes uma vida inteira. Há filmes que nos devolvem perguntas que já não fazíamos, há outros que nos devolvem coragem. E, de vez em quando, surge uma obra que faz um país inteiro se ver com mais nitidez. O Brasil tem experimentado cada vez mais desses momentos.
Nos últimos anos, nossa produção audiovisual venceu barreiras e chamou a atenção do mundo. O cinema brasileiro, tantas vezes subestimado, consolidou-se como um dos mais potentes do planeta — pela ousadia estética, pela capacidade de contar suas próprias dores e esperanças e, sobretudo, pela autenticidade. Não é coincidência que nossos filmes circulem em festivais internacionais como quem caminha em casa. E que, ao fazer isso, abram portas, criem pontes, movimentem economias. A sétima arte, afinal, não é feita só de sonhos: gera milhares de empregos, ativa cadeias produtivas inteiras e projeta o país lá fora, fortalecendo nosso soft power.
A novidade da vez é “O Agente Secreto”. O longa-metragem de Kleber Mendonça Filho acaba de receber três indicações ao Globo de Ouro 2026: Melhor Filme de Drama, Melhor Filme de Língua Não-Inglesa e Melhor Ator para Wagner Moura, cuja atuação tem arrancado elogios unânimes da crítica. O anúncio, feito na última segunda-feira (8), confirma aquilo que muitos já previam nos festivais recentes: o filme é uma obra que conversa com o mundo. Especialistas, aqui e lá fora, apontam que tanto o longa quanto Wagner Moura devem aparecer também entre os indicados ao Oscar 2026.
Essa conquista vem na esteira de outro feito histórico: em janeiro, Fernanda Torres levou o Globo de Ouro 2025 de Melhor Atriz em Filme de Drama por “Ainda Estou Aqui”. Em fevereiro, o filme que conta a história de Eunice Paiva garantiu ao Brasil seu primeiro Oscar, como Melhor Filme Internacional. A vitória abriu portas. Agora “O Agente Secreto” aprofunda essa trilha, mostrando que não estamos mais apenas visitando o tapete vermelho — estamos aprendendo a habitar seus espaços.
O cinema consegue ser, ao mesmo tempo, espelho e janela. Mostra quem somos e revela o que podemos ser. Quando um filme brasileiro chega tão longe, todos embarcamos na sua história. O mundo nos vê, nos escuta, nos leva a sério. E, entre uma sala escura e outra, descobrimos que contar nossas próprias histórias talvez seja o gesto mais revolucionário — e mais brasileiro — que podemos oferecer ao planeta. No fim das contas, Ebert tinha razão: a empatia move tudo isso. E, graças ao nosso cinema, o Brasil tem feito o mundo sentir — e pensar — um pouco mais.

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