Patrícia com Oswaldinho: tutora de três gatos, ela nunca abre mão da segurança e instalou redes de proteção nas janelas do apartamentoDivulgação

Gatos são conhecidos por sua curiosidade e espírito aventureiro. Muitos tutores acreditam que permitir que o pet "dê uma voltinha" pelo quintal ou até mesmo pela rua é algo inofensivo, já que os felinos são ágeis e independentes. Mas será que essa prática é realmente segura? Quais são os mitos e verdades sobre deixar gatos domésticos saírem para explorar o mundo exterior? Para esclarecer essas questões, conversamos com especialistas e tutores que adotam diferentes medidas de segurança.
O mito da liberdade felina
De acordo com a médica veterinária Dra. Nathaly Ituassú, a ideia de que os gatos precisam sair para serem felizes é um equívoco. "Os gatos são territorialistas e, ao contrário do que muitos pensam, não precisam sair de casa para terem uma vida plena. O ambiente externo apresenta diversos perigos, como atropelamentos, brigas com outros animais, envenenamentos e doenças infecciosas", alerta.
Além disso, a Dra. Nathaly destaca que os gatos podem se adaptar muito bem à vida dentro de casa, desde que tenham estímulos suficientes. "Brinquedos interativos, arranhadores, prateleiras para escalada e enriquecimento ambiental são formas de garantir que o gato se exercite e mantenha sua saúde mental equilibrada", explica.
Redes de proteção fazem a diferença
A designer Patrícia Marins, tutora de três gatos, nunca abre mão da segurança e instalou redes de proteção em todas as janelas do apartamento. "Quando adotei meus gatinhos, fiz questão de garantir que não corresse riscos. Com as redes, eles pode tomar sol na janela sem perigo de cair ou fugir", conta.
Patrícia acredita que as redes não limitam a liberdade dos gatos, pelo contrário. "Eles têm um espaço seguro onde podem observar a rua, sem se expor a perigos. Além disso, criei um ambiente enriquecedor dentro de casa, com brinquedos e locais para ela se esconder e explorar", diz.
Cuidados essenciais em casa
Criar gatos dentro de casa pode ser um desafio, mas também é a melhor forma de garantir sua segurança e bem-estar. Bruna Aranha, 29 anos, assistente administrativa e moradora da comunidade da Penha, no Rio de Janeiro, tem experiência de sobra quando o assunto é cuidar de felinos. Extremamente apaixonada por gatos, ela já chegou a ter 30 dentro de casa – todos resgatados na própria comunidade – e hoje convive com dez.
Apesar de não ter telas em casa, Bruna garante que seus gatos não saem para a rua. "Aqui é uma comunidade, então sei dos perigos. Já vi gato envenenado, gente jogando água quente, cachorro atacando… Eu morro de medo", conta. Para evitar qualquer risco, sua casa está sempre fechada, e o ambiente foi adaptado para oferecer conforto e segurança aos felinos.
Além de cuidar dos próprios gatos, Bruna participa de um projeto que resgata e cuida de gatos abandonados. Com toda essa experiência, ela compartilha algumas dicas valiosas para quem quer criar um gato doméstico de forma responsável:
1. Segurança em primeiro lugar
Gatos são curiosos por natureza e podem se meter em situações perigosas. "Se o gato sai para a rua, ele pode brigar com outros gatos, encontrar cachorros, ingerir veneno ou até pegar doenças como esporotricose", alerta Bruna. Por isso, manter o gato dentro de casa é essencial.
2. Ambiente adequado
Mesmo sem acesso à rua, os gatos precisam de um espaço confortável. Bruna garante que o segredo é oferecer um ambiente amplo e bem arejado. "Aqui em casa eles têm bastante espaço para brincar, subir e se movimentar. Isso ajuda a evitar o estresse", explica.
3. Alimentação balanceada
Nada de comida humana ou restos de comida. "Meus gatos não mexem no lixo nem pedem comida na cozinha porque só comem ração", conta. Além de manter a saúde em dia, uma alimentação adequada evita intoxicações e problemas digestivos.
4. Enriquecimento ambiental
Brinquedos, arranhadores e locais para se esconder são essenciais para manter os gatos entretidos. "Gato precisa de estímulo, senão ele fica entediado e pode até desenvolver comportamentos destrutivos", diz Bruna.
Os riscos da vida ao ar livre
A veterinária Dra. Nathaly Ituassú reforça que mesmo os gatos que parecem acostumados a sair correm riscos sérios. "Além dos perigos óbvios, como atropelamentos e ataques de cães, há doenças como FIV e FeLV (as chamadas 'AIDS e leucemia felina'), que são transmitidas pelo contato com outros gatos infectados. Sem falar na possibilidade de envenenamento, que infelizmente é mais comum do que se imagina", alerta.
Ela também ressalta que a falta de redes de proteção pode ser fatal. "Muitos tutores acham que gatos sempre caem de pé, mas quedas de grandes alturas, o chamado 'síndrome do gato paraquedista', podem causar fraturas e até a morte", diz.
Embora muitos tutores acreditem que os gatos conseguem se cuidar sozinhos ao sair de casa, a verdade é que o ambiente externo esconde diversos perigos. A seguir, listamos alguns dos principais riscos enfrentados pelos felinos que têm acesso irrestrito à rua:
1. Atropelamentos
Gatos não têm noção de trânsito e podem ser atropelados ao atravessar ruas movimentadas. Mesmo em bairros mais tranquilos, o risco existe, pois motoristas podem não enxergar o animal a tempo de frear. Além do trauma do impacto, um atropelamento pode resultar em fraturas graves ou até a morte do felino.
2. Brigas com outros gatos e animais
Ao sair para explorar o território, os gatos podem se envolver em brigas com outros felinos ou até mesmo com cães. Essas disputas podem causar ferimentos profundos, infecções e a transmissão de doenças sérias, como FIV (AIDS felina) e FeLV (leucemia felina).
3. Envenenamento intencional ou acidental
Infelizmente, ainda há pessoas que envenenam animais de rua, e um gato doméstico que sai sem supervisão pode ser uma vítima. Além disso, o felino pode ingerir substâncias tóxicas acidentalmente, como produtos químicos, veneno para ratos ou até plantas venenosas.
4. Doenças infecciosas
Gatos que saem sem controle estão expostos a uma série de doenças contagiosas, como:

• FIV (AIDS felina): Transmitida principalmente por mordidas de outros gatos infectados.
• FeLV (leucemia felina): Passada pelo contato com saliva e secreções de gatos doentes.
• Esporotricose: Uma doença fúngica grave que pode ser transmitida para humanos.
5. Parasitas e infestação de pulgas e carrapatos
O contato com outros animais ou com ambientes sujos pode fazer com que o gato traga para casa parasitas externos, como pulgas, carrapatos e ácaros, além de vermes internos. Isso pode causar problemas de pele, anemia e outras complicações de saúde.
6. Risco de maus-tratos e sequestro
Gatos domésticos que passeiam sem supervisão podem ser vítimas de maus-tratos. Algumas pessoas enxotam os animais de forma violenta ou até praticam crueldades intencionais. Além disso, há casos de gatos sendo roubados, especialmente se forem de raças caras ou de aparência exótica.
Por que castrar?
A castração reduz significativamente o risco de doenças reprodutivas, como tumores mamários e infecções uterinas nas fêmeas, além de diminuir a chance de câncer testicular e comportamentos agressivos nos machos. Segundo a veterinária Nathaly Ituassú, o procedimento também tem um impacto direto no comportamento dos felinos.
"Machos não castrados tendem a marcar território urinando pela casa e podem se tornar mais agressivos. Já as fêmeas entram no cio várias vezes ao ano, o que causa estresse tanto para elas quanto para os tutores, além do risco de gestações indesejadas. A castração é a melhor forma de evitar esses problemas", explica.
CRIME
Maus-tratos a animais são considerados crime no Brasil. De acordo com a Lei nº 14.064/2020, a pena para quem maltrata cães e gatos pode variar de 3 a 5 anos de reclusão, além de multa e proibição da guarda do animal.