O secretário municipal de Educação, César Benjamin - Divulgação / Prefeitura do Rio
O secretário municipal de Educação, César BenjaminDivulgação / Prefeitura do Rio
Por PAULO CAPPELLI

Rio - Chefe da Casa Civil do prefeito Marcelo Crivella (PRB), Paulo Messina (PRB) cobrou ontem retratação pública do secretário Cesar Benjamin, que comanda a pasta de Educação. No blog RioEduca.net, Benjamin abordou nota publicada pelo Informe sobre contratos emergenciais celebrados por sua secretaria. E jogou a culpa em Messina: "A Subsecretaria de Assuntos Compartilhados (órgão da Casa Civil) vem deixando de realizar licitações (...) Assim, a SME se vê forçada a fazer licitações emergenciais."

Procurado pela Coluna, Messina apresentou documento produzido pela Subsecretaria de Assuntos Compartilhados. No texto, consta que a Secretaria de Educação solicitou verba para 19 contratos sem licitação e sequer indicou os motivos para a dispensa de certame. Agora, o chefe da Casa Civil cobra do comandante da Educação uma retratação na internet. Caso o pedido de desculpa não saia ainda hoje, a prefeitura deverá ficar pequena demais para ambos.

PS: Após a nota publicada pelo Informe, Cesar Benjamin divulgou comunicado nas redes sociais, na manhã desta sexta-feira, pedindo demissão da Secretaria de Educação. Abaixo, a íntegra de seu texto:

COMUNICADO À SME

Depois de publicar notas apócrifas contra a SME, a Casa Civil agora decide declarar guerra aberta, nos jornais de hoje. Não consegue conviver com uma secretaria importante que ela não controla.

Por meio de ações e omissões, a Casa Civil, sob o comando de Paulo Messina, tem se dedicado a minar metodicamente as condições de governança da SME, uma instituição excepcionalmente complexa. Por motivos obscuros, lança as bases da desorganização e da instabilidade em uma área estratégica da administração, que está pacificada e dinâmica.

* * *

Tenho uma vida limpa, inteiramente dedicada às grandes causas do Brasil, entre elas a da educação. Não aceito ser destratado por um espertalhão, napoleão de hospício.

Educação, para mim, é fim. Para Paulo Messina, é meio. Rende votos.

Eis o problema de fundo: a poderosa Casa Civil, uma instância de articulação de todas as instâncias da Prefeitura, não pode ser ocupada por alguém cheio de ambições pessoais, que não reconhece limites e quer todo o poder.

Não desejo trabalhar em um ambiente contaminado por esperteza, cinismo, espionagem e intriga. Quero distância disso. Nunca, nem mesmo em situações excepcionalmente difíceis, negociei minha honra.

* * *

Com apoio do prefeito, administrei a SME sem nenhuma interferência espúria e nenhuma concessão ao fisiologismo. Trabalhei duramente, cercado por uma equipe de gente generosa e profissional. Cumpri meu dever. Essa rede heroica não merece ser emparedada pela politicagem.

Marcelo Crivella governa imerso em grandes dificuldades, que ele não criou. É um homem decente, bom, preocupado com nossas crianças e amigo da educação. Merece respeito. Saberá escolher alguém para me substituir.

Meu coração chora pelas várias dezenas de projetos em via de implantação, muitos deles ainda despercebidos, que prenunciam a possibilidade de uma revolução educacional em nossa cidade.

Será mais uma oportunidade perdida. É assim que se constrói o subdesenvolvimento.

* * *

Retorno aos meus afazeres profissionais e ao convívio da minha família. Deixo na SME uma legião de amigos e amigas, a quem admiro profundamente. A eles, minha gratidão.

Neste momento lembro-me de Darcy Ribeiro, que tinha orgulho de suas derrotas.

Atenciosamente,

Cesar Benjamin

***

Em nota, o prefeito Marcelo Crivella lamentou a saída de Benjamin e lembrou que em sua gestão a prefeitura "dobrou o valor destinado às creches conveniadas; convocou professores e agentes de apoio que esperavam ser chamados desde 2014".

"Fez parceria com a Cruz Vermelha, com o objetivo de preparar os profissionais de educação que atuam em áreas de conflito; lançou o programa Orquestra nas Escolas, que beneficiará 80 mil alunos da rede municipal até 2020. Outras iniciativas em curso representarão um salto de qualidade em nossas escolas, entre elas o investimento este ano de R$ 200 milhões na reforma de 128 unidades e a construção de mais 11; e o mutirão com mais de 2 mil alfabetizadores, o que acabará com o analfabetismo funcional entre os nossos alunos", explicou.

Foco em Brasília

Circulava ontem nos corredores da prefeitura a informação de que Crivella Filho (PRB) assumiria a Casa Civil no lugar de Messina. E que o último migraria para a Secretaria de Educação. À Coluna, o filho do prefeito negou: "Não vou assumir o cargo", disse ele, que deverá ser o puxador de votos do PRB à Câmara dos Deputados.

Ué...

O Ministério Público do Rio pagou R$ 1,115 milhão ao Terminal Garagem Menezes Côrtes S/A, em 2018, para alugar 170 vagas para carros de seus integrantes. Ocorre que o mesmo MP já gastou este ano R$ 7,607 milhões com... auxílio-transporte (média de R$ 1,901 milhão por mês). Qual é a lógica de se pagar estacionamento privativo a quem tem auxílio transporte à disposição? A verba do MP é oriunda de duodécimos — repasses obrigatórios do governo estadual.

Estacionado

O MP diz que as 170 vagas atendem a servidores das Procuradorias de Justiça e Promotorias de Justiça, que atuam em órgãos do Poder Judiciário que ficam próximos ao Terminal Menezes Côrtes. Afirma que o estacionamento privativo "contribui para a segurança dos integrantes do MP".

Sem irregularidade

O Tribunal de Contas do Estado decidiu ontem arquivar o processo que investigava a compra, pelo MP, de salas comerciais em Brasília. Sem licitação, pagou R$ 5 milhões pelos imóveis. Em seu voto, o conselheiro substituto Christiano Lacerda Ghuerren seguiu a análise do corpo instrutivo do TCE, que não detectou irregularidades no processo.

Voo duplo tucano?

A executiva nacional do PSDB se ouriçou com a possibilidade de o DEM de Rodrigo Maia apoiar Geraldo Alckmin à Presidência. Um aceno dos tucanos a Paes na disputa pelo governo do Rio é ensaiado.

Bem na foto

Depois de Rodrigo Maia, foi a vez de Paes começar uma dieta — o período nos EUA o deixara rechonchudo. Já perdeu 12 quilos. Quer perder mais oito.

Fla-Flu

Professor da rede estadual, Pedro Mara (Psol) foi convidado por Ciep em Itaboraí para participar de debate, dia 15, sobre o 'Escola sem partido', que acusa docentes de pregarem doutrina de esquerda. Alguns alunos, então, pediram a presença de Flávio Bolsonaro (PSL) como contraponto a Mara. O deputado não confirmou presença.

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