Vereador Renato Cinco (PSOL) - Divulgação/Clarice Lissovsky
Vereador Renato Cinco (PSOL)Divulgação/Clarice Lissovsky
Por MARIA LUISA MELO

Aos 45 anos, o vereador Renato Cinco está em seu segundo mandato. Um dos pré-candidatos da bancada do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) à reeleição na Câmara Municipal é contrário à aliança de sua sigla com o PT para a eleição do ano que vem. Sobre a tentativa de Marcelo Freixo, seu correligionário e pré-candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, de angariar o apoio de Lula, ele ataca: "Sou contra. O PT faz parte do problema, não da solução", diz. Militante pela descriminalização das drogas, diz que o Supremo Tribunal Federal (STF) está acovardado.

O DIA: Há quanto tempo o senhor está na vida pública?

Renato Cinco: Comecei aos 13 anos, no movimento estudantil, e depois fui para o movimento de legalização da maconha até me eleger vereador. Hoje estou com 45 anos.

O senhor virou uma referência na luta pela legalização da maconha, sobretudo por ter se tornado o autor de uma representação que defendia a liberação das marchas da maconha. Como foi esse processo até conseguir a liberação do STF para as marchas, em 2011?

Foi um momento em que estávamos com uma procuradora da República interina, a Débora Duprat. Ela já tinha entrado com uma representação a favor do aborto dos anencéfalos e com outra representação a favor do casamento LGBT. Como ela estava fazendo essas duas ações a gente achou que ela toparia a briga pela legalidade da marcha da maconha. A gente representou na esperança de ela comprar a nossa briga e acertamos. Acho que nosso grande mérito foi reconhecer a grande oportunidade naquele momento. Assim surgiu a ADPF 187, aprovada pelo STF por unanimidade.

O senhor se colocou como pré-candidato do PSOL, mesmo o deputado federal Marcelo Freixo também já ter se declarado pré-candidato. Por quê?

Eu entendo os partidos políticos semelhantes às universidades. Uma universidade que não tem debate está morta. Os períodos de escolha de candidato dos partidos políticos do mundo inteiro são momentos de debate. A gente não acompanha as eleições dos Estados Unidos? As prévias dos partidos? A minha candidatura não é porque eu me considere o melhor candidato que existe. A gente quer promover alguns debates dentro do PSOL. O principal deles é se nós acreditamos ou não na possibilidade de domesticar o capitalismo brasileiro. Eu não acredito.

O senhor vê chances de a maconha ser descriminalizada no Brasil?

Depende do STF, que está acovardado. Não querem votar a descriminalização para não desagradar a opinião pública. A legalização que dependeria do Congresso está totalmente descartada. Acho que a gente pode ter avanços quanto ao uso medicinal. A Anvisa já autorizou milhares de pessoas a fazerem importação dos medicamentos, além de estar discutindo a regulamentação da produção dos remédios. Acho que a Anvisa está com uma boa proposta comparando a maconha a outros fitoterápicos. Mas, na regulamentação do plantio, estão fazendo algo que só interessa ao grande capital. Criaram uma regulamentação que diz que não pode desviar o produto medicinal para o uso social. Para garantir isso, colocam exigências que só quem tem muitos recursos vai poder cumprir. Quem cultivar não poderá vender para o usuário final, vai ter que vender para a indústria farmacêutica para que ela produza o remédio e distribua. É um retrocesso porque uma das grandes vantagens da maconha como remédio é a oportunidade de ser um remédio de baixo custo que pode até ser em alguns casos produzido pelo próprio paciente.

O senhor acha que Lula apoiará Freixo nas eleições municipais do ano que vem?

O PT tem dado sinais contraditórios a todo momento. Eu acho que é possível que o PT busque antigos aliados no Rio.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) vai se juntar ao PSOL, caso o apoio de Lula venha para Freixo?

Eu não gosto da Benedita. Quando foi uma governadora do Rio, ela adotou táticas de criminalização dos moradores das favelas. Quando ocorreu a morte do Tim Lopes (jornalista), ela pediu um mandado de busca coletiva no Complexo do Alemão. Acho que a Benedita é a ex-Benedita e espero que não tenha nenhuma conversa com o PSOL. Sou contra a aliança do PSOL com o PT, independentemente de quem venha do PT.

Mas não seria um reforço importante para o PSOL?

O PT faz parte do problema, não da solução. Eles governaram o Brasil durante mais de 12 anos, não aplicaram nenhuma fórmula da esquerda reformista e aderiram a uma política liberal. Lula representou o quê? Vamos manter uma política liberal implementada pelo governo do Fernando Henrique! E vamos dar migalhas para os pobres. Não houve mudanças estruturais no país. Tanto que quando acabou o ciclo de valorização das commodities, tudo que, em tese, tinha sido conquistado esfacelou no ar rapidamente. A situação do povo brasileiro ficou pior do que era antes. Eu quero uma esquerda que tenha coragem de defender as mudanças estruturais na sociedade brasileira. A esquerda para manter o Brasil do jeito que é e dar esmola para os pobres resulta no quê? No que estamos vivendo hoje: a desmoralização do projeto de esquerda no país e o crescimento da direita. Isso aconteceu porque o governo do PT não foi um governo de esquerda, foi um governo liberal, com esmolas.

 

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