Novo presidente da Biblioteca Nogueira, Rafael Nogueira - Ester Lima
Novo presidente da Biblioteca Nogueira, Rafael NogueiraEster Lima
Por O Dia

Rio - Recém-nomeado presidente da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, 36, o mais novo a exercer o cargo em uma das instituições mais importantes do Brasil, afirmou que, assim que possível, vai criar espaço permanente de debates sobre livros.

E que o principal objetivo de sua gestão será resolver os problemas identificados por ele. Nogueira informou em entrevista à coluna que será preciso lançar um concurso público para suprir a demanda de
servidores que estão se aposentando.
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Outro ponto destacado é em relação a furtos e falta de espaço para novos livros que chegam à biblioteca.

O DIA - Como foi receber o convite do secretário especial de cultura, Roberto Alvim, para ser o novo presidente da Biblioteca Nacional?

Rafael Nogueira - O convite foi mais de uma sensação de peso e responsabilidade. Algumas pessoas pensam que foi uma enorme alegria ou pensamento de vaidade. Mas, à princípio, pensei que era uma grande honra porque o secretário e o presidente confiaram em mim. Nunca tinha sonhado com um cargo público dessa forma.

O que os frequentadores da Biblioteca Nacional podem esperar daqui para frente?

Podem ficar tranquilos que a Biblioteca continuará com seus serviços ligados à segurança e seus acervos. Também criaremos, assim que possível, um espaço permanente de debate sobre livros.

Qual o principal objetivo da sua gestão?

Quero resolver os problemas mais sérios que já identifiquei. Muitas pessoas estão se aposentando. Então, precisamos lançar um concurso público. Outro problema são os furtos e (falta de) espaço para os novos livros que chegam.

E qual o maior desafio do cargo?

É ser o presidente mais novo. Diante de pessoas muito sábias, é aprender qual é o meu lugar. Por um lado de presidente e também de ouvinte. Essa é uma grande dificuldade.

No cenário da polarização política que vivemos, qual o seu principal papel dentro da Biblioteca Nacional?

Acho que a Biblioteca tem uma posição privilegiada. Ela não é de nenhum partido, de nenhum governo. Ela vem desde a monarquia e precisamos entregá-la para daqui a séculos. Não trago para cá uma visão ideológica e nem pretendo que ela seja tomada por quem deseja que ela seja transformada em uma espécie de arma ideológica ao seu favor. Tenho que tomar cuidado para impedir quem quer fazer isso. A Biblioteca está acima da polarização. Ela não é de governo, ela é do Brasil. As pessoas que querem transformá-la em palanque político são minoria.

Os servidores da Biblioteca fizeram um ato contra a sua nomeação. Eles questionam se o senhor reúne as qualificações técnicas para o cargo...

Todo mundo pode protestar. Mas num segundo momento eu vou discutir isso nas instâncias devidas, se necessário. Porque eu tenho bastante experiência em qualificações. O mestrado, motivo do protesto dos servidores, é um tópico alternativo. Tem pessoas que questionam qualificação com medo de um mal caminho na gestão. E há aquelas pessoas que estão contra o governo, querem me prejudicar para prejudicar o governo. Estão politizando as coisas. Você pode ter cumprido um mestrado na área, funções políticas na área ou experiências parecidas. Eu sou bacharel licenciado em Filosofia, trabalhei na Academia Brasileira de Letras e com livros durante mais de 10 anos. Fiz mestrado em Direito Internacional, mas não concluí por não conseguir conciliar estudos e trabalho. Não foi um bom arranjo para minha saúde.

Como o senhor conheceu o Roberto Alvim?

Ele me conheceu por vídeos e me chamou para conversar. Depois disso, falou que meus vídeos estimularam o amor pela pátria. Esse sentimento me destinou à cultura.

A Biblioteca Nacional é o oitavo maior acervo literário do mundo. Qual será o seu papel na conservação deste importante patrimônio?

Vai ser muito importante, porque vou manter o que a Biblioteca já faz, que é preservar e conservar.

O senhor não tem medo de que a sua nomeação seja suspensa como aconteceu com a presidência do Iphan e da Fundação Palmares?

Não. A minha nomeação está tranquila e adequada juridicamente. Se for o melhor para o Brasil eu sair daqui, saio tranquilamente. O que aconteceu com o Iphan e Fundação Palmares foram situações específicas. Na Fundação, o juiz entendeu que o presidente estava em desacordo com a missão da organização. O segundo caso foi uma questão política que o ministro do Turismo nomeou para o cultura sem consultar o secretário da pasta, o Roberto Alvim.

Olavo de Carvalho é uma das suas referências. Você o considera um mentor?

Não. Ele é um professor e um grande amigo. Esse eu conheço pessoalmente. O Bolsonaro não, apesar de ter votado nele e ter um imenso respeito. Tive aulas presenciais com ele em São Paulo e em Virgínia. O Olavo me estimulou a pensar com mais liberdade, sem amarras.

O que você aprendeu com Olavo?

A sinceridade. Ele ensina moralmente o aluno a ser sincero. A não temer as consequências do que vai falar quando é o certo. Ele tem o pensamento próprio, ele é original.

Mas Olavo defende teorias como o terraplanismo. O senhor acha que isso contribui com o país de alguma forma?

Eu acho que ele não defende. Eu não tenho nada a ver com isso.

O senhor acha que o Brasil vive alguma guerra ideológica?

Sim, isso existe. Os questionamentos à minha qualificação, por exemplo, são mais ideológicos do que técnicos. Mas espero sair ileso dessas brigas. Querem politizar o que não é político.

O que é a guerra ideológica para você?

É uma transformação de todos os instrumentos em política. É como se eu chegasse aqui e estivesse preocupado somente com o uso desse espaço para transformar as pessoas em eleitores, militantes. Não quero criar militantes. A militância pode existir, mas ela tem o seu espaço. A luta política pode acontecer em espaços públicos, no jornalismo, em debates bem montados nas universidades, em livros. Mas, em uma instituição pública, não.

Mas o senhor não acha que a sua nomeação foi política, pela sua afinidade conservadora?

Claro, isso é necessário. O cargo é político, de confiança. Isso é da natureza política. O conservador tem o talento maior para entender uma biblioteca como essa porque ele vai enxergar que precisa do legado das direções passadas para transmitir para as outras gerações. Eu acredito no cinema não político, na pintura não política, no livro não político.

 

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