Zaca sugere suspensão até que reforma seja regulamentada - Divulgação
Zaca sugere suspensão até que reforma seja regulamentadaDivulgação
Por Alexandre Braz

Com mais de 20 anos dedicados à Polícia Militar, o deputado estadual Renato Zaca (PSL) conhece bem as dificuldades pelas quais passam os membros da corporação no Rio de Janeiro. Parlamentar de primeiro mandato na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ele levantou pontos importantes a serem discutidos sobre uma das profissões mais pressionadas e criticadas pela sociedade. Zaca destaca que a polícia precisa se modernizar em suas práticas internas e valorizar o agente. "O estatuto Polícia Militar é mais antigo que a Constituição Federal. Muita coisa que acontecia lá atrás, não acontece hoje. Muita coisa mudou. Então, a Polícia Militar é muito arcaica nesse sentido", afirma. Confira abaixo outros trechos da entrevista.

Quais projetos de lei o senhor fez e poderia destacar?
Um dos nossos projetos é o da reinclusão dos cadeirantes, os policiais que foram vitimados, que possam voltar ao trabalho, se quiserem e tiverem condições. Porque o agente fica dentro de casa, acaba caindo na depressão. Apesar de uma deficiência, eles não podem e não devem ser tratados como inválidos. Eles têm a cabeça boa, podem trabalhar, estudar, botar a cabeça para funcionar.

Qual o número de policiais que estão esperando por uma promoção hoje no Rio?
Se abrisse um curso de aperfeiçoamento de 3 mil vagas para os mais antigos, solucionaria o problema. Eles já teriam tido tempo para fazer o curso. Não que o agente não queira fazer. Não queremos acabar com o curso. O PM tem que estudar, se aprimorar, cada dia mais entender de leis para lidar com a população, que merece uma polícia de respeito. Mas a culpa não é do agente, é da própria instituição que não abriu os cursos. Não parece, mas isso causa muito estresse e ansiedade na tropa. Daqui a pouco, o policial está com depressão porque não recebe. Trabalha, trabalha e não tem nem o direito de ser promovido. A instituição consegue adoecer o policial militar mais rápido.

Muitos agentes reclamam das prisões disciplinares. Como elas funcionam e qual a opinião do senhor a respeito delas?
Nós já entramos com uma indicação legislativa para o governador Wilson Witzel (PSC) para que seja confeccionado um novo estatuto, mais confortável para a corporação, O estatuto Polícia Militar é mais antigo que a Constituição Federal. Muita coisa que acontecia lá atrás não acontece hoje. Então, a Polícia Militar é muito arcaica nesse sentido. Quer colocar o militarismo, que seja, mas não adianta nada dar uma viatura nova para o agente, uma arma nova, pode dar um disco voador com arma à laser, que não vai adiantar nada. Por exemplo, se um policial estiver sem a cobertura na cabeça, o comandante pode deixá-lo preso por um xis número de dias. Tudo é a cargo do comandante, ou seja, ele é quem decide.

O estatuto da PM é muito antigo e rígido então?
Aquele coronel que quer ser mais rígido usa o estatuto ao pé da letra. Então nós temos mais ou menos 125 artigos só para prender o policial militar. Não dá para colocar os moldes que são de antes até da Constituição. Tudo mudou. E o que é dado para o policial, que é a promoção, o aumento salarial, ele não ganha. A escala de trabalho também é muito importante.

A carga horária hoje exige muito fisicamente do policial?
Sim. É muito desgastante e estressante. Botar uma pessoa para trabalhar 24 horas por 48 dentro de um carro hostil, em uma comunidade onde 90% dela não quer que ele esteja ali, desgasta muito. A PM também gasta muito com isso, seja no transporte, de levar e tirar ele policial da comunidade. Cabines que não têm nem piso ou então é só para o policial se esconder ali dentro, que se ele sair, toma tiro. Então o policial não sai para fazer o policiamento, não trabalha e não produz, só se esconde para tentar não morrer.

Pouco se fala sobre o número crescente de suicídios entre os policiais militares? Por que?
Não se fala porque se falar vai ver que a causa daquilo é a própria corporação. Eles não jogarão contra a corporação. A Polícia Militar trabalha com um número ínfimo de psicólogos. Como pode uma instituição que lida com arma, gente, vida, não ter essa assistência? A Polícia Militar não tem esse trabalho de manutenção, auxiliar o agente, porque o mais importante que a PM tem hoje é o policial. Mas aí daqui a pouco faz mais um concurso, traz 1500 novos agentes, depois mais 1000, 500, mas os que estão lá vão caindo na depressão e no estresse. O Estado só quer sugar o policial como se fosse "caldo de cana".

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