A deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ), de 37 anos, inicia 2020 empenhada em conseguir emplacar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Reparação que visa reparar o estado do Rio de Janeiro pela perda da capital da República para Brasília, ocorrida há quase 70 anos. "Queremos reparar todas as injustiças cometidas com o Rio desde que perdemos a capital. Toda a compensação prometida não veio", afirma. A PEC sugerida pela parlamentar obteve 304 assinaturas e ganhará novos capítulos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nos próximos meses. "Brasília recebe um fundo constitucional, que vem do governo federal, de R$ 14 bilhões por ano. A PEC prevê a divisão desse fundo constitucional de Brasília, o que garantiria ao Rio R$ 70 bilhões por 10 anos", conta. Ao falar a O DIA, a deputada demonstrou otimismo com o crescimento do PROS no estado, se apresentou como pré-candidata da legenda à prefeitura da capital e prometeu ampliar a participação feminina do partido no Rio. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
A senhora é presidente estadual do PROS. Como está o planejamento do partido para o pleito de outubro? A senhora será candidata na capital?
Estou trabalhando na organização das nossas candidaturas de prefeitos e vereadores para as eleições municipais. Estamos caminhando bem, sou pré-candidata do PROS à Prefeitura do Rio. Nossa candidatura será uma candidatura popular para resgatar a autoestima do carioca.
Como tem sido liderar o partido no estado do Rio de Janeiro?
É a primeira vez. Tenho certeza que a direção nacional nos deu essa confiança porque confia realmente no nosso trabalho. O PROS não teve um resultado muito positivo nas eleições passadas. Fui a única deputada federal eleita. A antiga coordenação deixou muitos problemas de natureza contábil. A direção fez uma intervenção no Rio e nos deu a responsabilidade de reestruturar a sigla para as eleições municipais e também para 2022. Tem sido um processo de aprendizagem grande, a oportunidade de organizar, estruturar um grupo político, imprimir nele uma nova cara. Existem muitos dissidentes aí do Garotinho (Anthony, pai da deputada e ex-governador do Rio) que ficaram espalhados em outros partidos nos últimos anos. Estamos aglutinando essas pessoas, mas trazendo pessoas de fora, que estão se lançando pela primeira vez. É o caso da nossa candidata em Volta Redonda. Deyse Penna não é uma mulher tradicional da política, mas que promete muito e acredito que dará trabalho na eleição. Isso é muito positivo.
É uma ideia da senhora tentar trazer mais mulheres para o PROS?
Com certeza. Reestruturamos o movimento de mulheres no Rio. Todos os nossos pré-candidatos devem ter a opção de organizar o movimento das mulheres em suas cidades. Queremos ter em cada bairro do Rio pelo menos uma mulher representando a nossa legenda e em cada município do estado. Sou uma incentivadora da participação feminina na política. De 2015 para cá, por exemplo, aumentou o número de mulheres eleitas na Câmara dos Deputados. Naturalmente, cresceu o número de projetos voltados para as pautas femininas. Isso é importante. A maior participação das mulheres na política representa uma mudança significativa na sociedade.
A senhora falou sobre o trabalho para aglutinar os seguidores do seu pai, o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido). Por que essas pessoas se dispersaram?
O trabalho dele não se perdeu. Ele ficou sem filiação partidária, mas se mantém como uma liderança política no estado. As pessoas ficaram sem ter como se agrupar e quando eu assumi o partido voltaram para reconstruir. Demos prioridade a essas pessoas com quem já trabalhamos. Mas pelo fato de eu ser mulher, jovem, deputada, atraímos um outro tipo de público também. Estamos agregando pessoas do passado, mas com uma oxigenação de pessoas novas. Acredito que o PROS irá se consolidar como um dos principais partidos políticos do estado.
Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho são perseguidos politicamente?
Boa parte dos problemas enfrentados por eles é porque foram as primeiras pessoas no estado do Rio e no Brasil que tiveram a coragem de denunciar o maior caso de corrupção da história da República brasileira: o esquema instalado no governo do ex-governador Sérgio Cabral, que não esteve somente no Palácio Guanabara, mas que se estendeu por diversas instituições do estado. Ele contrariou muitos interesses, sofreu com incompreensões que o tempo e a história com certeza irão corrigir.
Os políticos jovens têm tentado se dissociar da política, por exemplo, nunca apontando uma referência que os inspiraram. O que a senhora pensa a respeito?
Todo ser humano tem erros e acertos. Colocamos na balança esses dois lados. O Garotinho teve muitos acertos. Tem uma força grande, principalmente entre as pessoas mais humildes, quem têm a memória sobre o governo dele guardada no coração. Hoje nos entristece que o Rio seja entre as capitais com maiores índices de pobreza do país e com alto índice de desemprego. A cidade do Rio está empobrecendo. Como eu digo, ninguém é igual a ninguém. Não pensamos igual, somos de gerações diferentes, temos posições políticas diferentes em alguns aspectos, mas não construirei minha trajetória negando tudo o que eu vivenciei e aprendi. Essa onda de não ter uma referência é muito ruim porque a história é feita de referências. Não ter referência nenhuma parece que o Rio partiu do zero. Temos referências boas e ruins no estado e no país. Não tenho motivo nenhum para me envergonhar da trajetória política da minha família, de quem fez muito pelo nosso estado.
Em quais projetos a senhora tem trabalhado e tralhará nesses próximos meses e o que poderia destacar?
Estou trabalhando na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Amamentação. É um ganho para a mãe, o bebê e as famílias, como base da sociedade. É muito importante a ampliação da licença-maternidade. Temos o projeto importante para o estado, que é a PEC da Reparação, que busca reparar todas as injustiças cometidas com o Rio desde que perdemos a capital (da República), toda a compensação prometida não veio. Quando chego em Brasília para trabalhar penso que tudo aquilo saiu do Rio de Janeiro. Brasília recebe um fundo constitucional, que vem do governo federal, de R$ 14 bilhões por ano. Há que reparar o Rio por essa injustiça histórica. A PEC prevê a divisão desse fundo constitucional de Brasília, o que garantiria ao Rio R$ 70 bilhões por dez anos, um recurso que poderia nos ajudar, por exemplo, na questão da segurança pública.
Muito se fala sobre a segurança pública. Como trabalhar essa questão de maneira mais eficiente na opinião da senhora?
Temos vários aspectos. Primeiramente, o Rio é vitrine do Brasil. Tudo que acontece aqui repercute mais do que se ocorresse em outro lugar. Segundo, a nossa geografia é desfavorável. Quando a polícia parte para um enfrentamento já entra em uma situação desfavorável. Falta um trabalho de inteligência porque não se combate o crime apenas eliminando um criminoso que no dia seguinte terá outro no lugar dele. Falta também apoio federal. Nossos problemas são federais, como tráfico de drogas e armas. Precisamos que o governo federal assuma um pouco de responsabilidade. Não estou falando desse governo atual, mas sim de um contexto histórico. Precisamos de polícia bem equipada, bem treinada e trabalhando com inteligência.
Mas o problema da segurança não vem de uma falta de estrutura social? A pobreza, a miséria, não levam consequentemente ao aumento da violência?
Não é o único aspecto. Temos cidades muito mais pobres, no Nordeste, por exemplo, do que o Rio de Janeiro, e têm índices de violência menores. O problema é que aqui pobreza e riqueza convivem muito lado a lado, uma discrepância muito grande.