Prestes a completar um ano e dois meses no cargo, o governador do Rio, Wilson Witzel, recebeu a equipe do jornal O DIA no Palácio Guanabara. Cercado de assessores e acompanhado do secretário de Governo, Cleiton Rodrigues, Witzel tratou a segurança pública como o seu problema número 1. Leia abaixo os principais tópicos.
Governador, jornal O Dia é muito lido pelos servidores, que informações o senhor tem para eles no curso deste ano?
Nós estamos cumprindo com nossas obrigações, salários em dia, 13º, pagando nossas contas. Existe uma pressão por reajuste. Nós não temos margem, nós temos déficit de R$ 10 bilhões. Para dar reajuste aos servidores, nós precisamos ter folga no caixa, porque eu não posso dar reajuste, 5, 6, 10% e ter que tirar dinheiro da saúde e educação, porque constitucionalmente você é obrigado a investir 25%.
Sobre segurança, quais mudanças que o senhor fez?
Muitos comandantes de Batalhão eram escolhidos politicamente ou por favorecer um determinado político ou para se favorecer pessoalmente. Isso quebra um dos pilares de sustentação da PM, que são: hierarquia e disciplina. E quando você politiza, o comandante da PM não consegue manobrar a polícia".
Se o tempo voltasse, o senhor daria novamente aquela declaração: "um tiro na cabecinha"?
Eu acho que a entrevistadora, jornalisticamente, "pinçou" a frase, pois ela não reflete a realidade do meu pensamento. Não mudei em absolutamente nada. É preciso ter atenção que a pergunta que ela me fez foi "se os snipers poderiam ser utilizados em operações com confronto, para que se evite que um atirador de fuzil continue atirando contra a polícia e população...". Aí, ela: "Mas esses atiradores não podem errar?"; e eu falei: "Não, eles vão mirar na cabecinha e atirar", porque é a finalidade do tiro do sniper. E não sou eu que decido quem usa sniper, onde usa, isso é a polícia que decide.
A polícia do Rio é a que mais mata no Brasil, qual a sua explicação para isso?
É a que mais salva vidas. Quando se diz que é a polícia que mais mata, se esquece de dizer que nós fomos a polícia do Brasil que mais salvou vidas. Se nós não tivéssemos agido como agimos em 2019, nós teríamos hoje um saldo de mil pessoas mortas a mais, no mínimo.
A milícia está entranhada na política do Estado do Rio de Janeiro e no Brasil em que nível?
Ela fica em um nível entre vereadores, prefeitos. Pode ter também algum relacionamento de um parlamentar que desconheça, mas ela está transitando no poder. Eles são mafiosos, tentando ali cooptar agentes públicos. Mas o principal foco da milícia não é estar diretamente com o poder. O que a milícia quer é intimidar o cidadão de bem para ele pagar a segurança, o gás, o "gatonet".
Caso Marielle. De que forma pode-se chegar ao mandante do crime?
Não tenho acesso às investigações. Acreditamos que a Polícia Civil tem capacidade para chegar a uma conclusão da segunda fase do inquérito, que é a busca pelos mandantes do crime. Eu não tenho acesso aos autos, nem aos documentos que estão lá. A Polícia Civil não tem interferência de deputado, de prefeito, nem de governador.
Sobre a morte do miliciano Adriano Nóbrega, ex-Bope, a inteligência da Polícia Civil deu que tipo de informações ao senhor?
O único momento que eu soube que a polícia havia encontrado o Adriano e que ele teria resistido, e a polícia da Bahia o executou, foi quando eu recebi o telefonema do delegado Marcos Vinícius com a informação de que o miliciano havia sido morto em confronto com a polícia da Bahia. Não tinha a menor ideia de que a polícia estava investigando e procurando, e que naquele momento na Bahia havia um confronto.
No caso da Cedae, o senhor demorou a agir?
Fui juiz por 17 anos. Você pode dar decisão de prisão em 5 minutos ou em 5 dias. A diferença é que, em 5 minutos, você pode prender a pessoa errada; em 5 dias, você tem uma chance maior em prender a pessoa certa. É preciso entender que a substituição de um presidente não seja feita de forma intempestiva. Fiz no tempo certo.
Mas ali havia erro do presidente que saiu? Qual foi o problema?
Nós estamos apurando. Está sendo feita uma investigação para saber se houve sabotagem.
Sabotagem, de que tipo?
O tempo de resposta para evitar a ampliação da geosmina. A operação que poderia ter sido feita para que ela não tivesse acumulado. A compra do equipamento de carvão ativado já poderia ter sido feita e estar lá como outras empresas que trabalham e operam com captação e não com água corrente. A falta de segurança da própria estrutura da Cedae que estamos mudando agora. Nós estamos montando uma base militar na Cedae, em Guandu. A Polícia Ambiental está lá, nós estamos criando um comandante daquela base. Um oficial do corpo de fuzileiros navais (comandante Alan) da reserva, foi do batalhão de operações especiais.
E essa polêmica envolvendo seu secretário, Lucas Tristão, da existência de um dossiê que citaria 70 parlamentares?
Lucas Tristão é um jovem extremamente talentoso. O Estado do Rio deve a ele o livre mercado de gás. Deve a ele um plano de desenvolvimento econômico, que estamos conseguindo mudar práticas que eram inimagináveis, como o polo metal mecânico, que se ampliou para o estado todo. Lucas tem contribuído muito no desenvolvimento da indústria do gás e óleo. Desconheço que ele tenha falado (sobre o suposto dossiê) qualquer tipo de coisa nesse sentido.
O senhor testemunhou ele falar do dossiê?
Não. Quem disse que eu testemunhei está sendo leviano, não vai ter como provar. E, se eu entender que essa fala leviana continua a reverberar, esse que está dizendo que eu participei de qualquer tipo de pressão será devidamente processado na Justiça. Não existe dossiê, não existe escuta telefônica.
Passa pela sua cabeça demitir o secretário?
Está fora de cogitação. A gente não pode dar força a uma narrativa insólita. Não posso admitir, como magistrado que fui, tomar uma decisão baseada em fatos que são alegóricos e absolutamente inexistentes. Se o secretário falou em um momento de calor nos debates, não passa de um momento de calor de debates. Os dossiês não existem. Se existirem, serei o primeiro a demiti-lo e mandar que ele responda pelos seus atos. Não tenho "bandido de estimação".
Como está a situação financeira do estado? O STF vai julgar destino dos royalties em abril?
Não sei se vai julgar, está em pauta, mas não sei. Eu me reuni na última semana, após o Fórum de Governadores, com o ministro Toffoli e com os demais governadores e estou, de certa forma, conduzindo esse processo. Sou o principal interessado.
Em que estágio está o acordo?
Quem é seu candidato(a) para a prefeitura do Rio?
Ainda não decidi. Mas o PSC vai ter candidato próprio. Estou vendo o cenário, já decidi em muitos municípios. Comecei o meu governo praticamente sozinho, mas eu aposto na política, aposto nos partidos. O PSC está se preparando para ter uma proposta para o Brasil, independentemente de quem será o candidato, e se teremos ou não candidato em 2022.
No Rio, está dividido em quantos nomes?
Qual partido que já disse qual o candidato? Um deles é o PSL, que já afirmou que o candidato será o deputado Rodrigo Amorim. Ele está com vontade de ser candidato, é um deputado atuante. O meu partido está fazendo pesquisas, nós estamos buscando o perfil do candidato, antes de dizer quem será. A população quer novidade, mas não quer uma novidade sem uma história. Hoje o Rio está em busca de um perfil. Eu nunca tratei com a juíza Glória Heloíza se ela seria ou não minha candidata, não tenho compromisso com ela e nem com nenhum candidato, tenho compromisso com o povo da cidade do Rio. Eu quero dizer que o meu candidato(a) será alguém que será meu parceiro, porque me atrapalha muito como governante, em uma cidade de 6 milhões de habitantes, ter um prefeito(a) que não tenha as mesmas ideias que eu tenho.
O prefeito Crivella teria o seu apoio?
Não há definição sobre isso.
Eduardo Paes?
Não sei se ele já disse que é candidato, estou aguardando ainda para ver se ele vai dizer. Acho que tem que ter pesquisa, ela que vai dizer. Ele foi prefeito, teve uma votação expressiva na capital, inclusive durante a eleição para governador no 1º turno, eu ganhei, e, no 2º turno, ele ganhou de mim na capital. É um candidato, se for, ele é o DEM, que faz parte do meu governo. Dessa forma, não vou deixar de conversar com o DEM e com o Eduardo Paes.
Alguns de seus eleitores se dizem preocupados com seu atrito com o presidente Bolsonaro.
Tenho apreço pelo presidente, quero que o governo dele dê certo. No que eu puder ajudar, eu vou ajudar, só preciso que ele me deixe ajudar.
Ele não está ajudando?
Se ele me receber, já vai ser um grande passo.
Quantas vezes o senhor já pediu audiência?
Eu pedi uma vez e quero que você (dirigindo-se ao secretário Cleiton, ele deu uma ordem) reitere um pedido de audiência com o presidente Bolsonaro e vou convidar inclusive os governadores dos estados endividados. O presidente precisa me receber, ele não pode deixar de receber um governador de Estado.
Qual a sua explicação para ele ainda não tê-lo recebido?
Aí tem que perguntar para ele. Se tem alguém que não quer odiá-lo esse alguém sou eu. Sou um homem de diálogo, consenso, de respeito, sou uma pessoa preocupada com o Brasil e com o Rio e, evidentemente, que eu não vou admitir que o Rio seja prejudicado. Se na menor hipótese eu verificar que há, por parte de quem quer que seja, um ato leviano contra o Rio, especialmente pelo presidente da República, tomarei providências. Existem leis para isso, crimes de responsabilidade e mecanismos legais para se fazer isso. Mas eu acredito que o que o presidente Bolsonaro imagina que acontece no Rio não acontece. Não há manipulação da minha parte na polícia, nem no MP, nem no Judiciário, não há nada disso. Há vontade de governar em parceria.
Flávio Bolsonaro, por ser senador, deve defender os interesses do Estado. O senhor já o convidou ao palácio?