Paulo Marinho - Daniel Castelo Branco
Paulo MarinhoDaniel Castelo Branco
Por Sidney Rezende

O presidente estadual do PSDB, o empresário e advogado Paulo Marinho, foi o escolhido pelo governador de São Paulo, João Doria, para ser o pré-candidato da legenda à prefeitura do Rio de Janeiro após a repentina morte do ex-ministro Gustavo Bebianno. Marinho disse que não tinha pensado na ideia e, ao receber o convite, o encarou como "uma missão". Ele nos recebeu na sua casa, no Jardim Botânico, zona sul do Rio, o mesmo lugar onde abrigou o quartel general da campanha presidencial do então candidato Jair Bolsonaro.

Nesta casa se viveu parte da história recente do país. Esta semana surgiram os panelaços contra o presidente. O que aconteceu daquele período para os dias de hoje?

Essa casa ficou para a história. Pelo menos para a minha história. Eu tinha, naquele momento, razões para me engajar numa campanha do capitão Bolsonaro e o principal motivo foi o chamamento do meu amigo e irmão Gustavo Bebianno. O capitão Bolsonaro era a pessoa que encarnava o sentimento antipetista e isso foi logo no início da campanha dele, lá por volta de outubro de 2017, quando o núcleo duro da campanha ainda cabia num Fusca. Mas o fato é que eu, desde que conheci o capitão Bolsonaro, entendia que ele não era um homem preparado para essa missão, mas ele estava no lugar certo, na hora certa, e eu imaginei que ele, fazendo a boa equipe que acabou fazendo, que ele poderia levar o Brasil à frente. Acontece que ele cultiva o ambiente de campanha eleitoral ainda no governo e acho que é isso que está criando a maior dificuldade. Ele se cercou do núcleo familiar e do núcleo mais íntimo, que são poucas pessoas no Palácio, e ele fica dentro de uma bolha achando que está num palanque em vez de entender que está no gabinete de um presidente da República governando o Brasil para todos. Acho que essa tem sido a maior dificuldade. O relacionamento dele com o Congresso está se deteriorando, isso é péssimo. Eu não sei qual o objetivo que ele pretende com isso, mas não vai acabar bem essa história. Se nós não tivermos um presidente da República com capacidade de conduzir a nação a um porto seguro, nós estamos convivendo em um ambiente onde nós temos todas as condições de a economia desandar, e a economia desandando, o país vai naufragar, sem dúvida. O Brasil não cresce há muitos anos. Enfim, eu torço para que ele acerte no governo, sinceramente.

Você se arrependeu de ter colaborado para a vitória dele?

Não me arrependi. Se o Haddad tivesse sido eleito, eu tenho certeza que a situação seria pior ainda, porque a população não ia aceitar a volta do PT depois de ter vivido tão fortemente aquele processo de corrupção explícita que o Brasil assistiu. Era importante que houvesse uma ruptura nesse grupo da esquerda do PT governando o Brasil. Era importante que um outro núcleo de poder assumisse a presidência da República. Acho que a eleição do capitão foi boa para a democracia do Brasil, mas ele não está aproveitando essa oportunidade. Isso que eu lamento.

A sua amizade com Gustavo Bebianno data de quanto tempo e como se deu essa escolha dele?

O Bebianno é meu amigo há muitas décadas. Eu o conheci quando ele era estagiário no escritório do doutor Sérgio Bermudes (advogado), de quem eu sou amigo fraterno. E, desde então, a gente se frequentava com pouca assiduidade, mas havia uma estima nossa. Depois, ele foi trabalhar no Jornal do Brasil. Eu assumi a direção do Jornal do Brasil junto com o grupo do Nelson Tanuri, e aí o reencontrei profissionalmente lá. Eu vim reencontrá-lo na campanha do capitão Bolsonaro, quando ele me procurou. Houve o episódio da ascensão dele ao cargo de ministro do governo Bolsonaro, depois a saída dele do governo praticamente menos de 60 dias de ministro, uma experiência humana que eu acho que deixou marcas muito profundas nele, que foi a ingratidão da família Bolsonaro, especialmente do presidente, por tudo o que ele fez para o presidente por todo o período da campanha. Acho que o Gustavo foi a pessoa mais leal que o presidente Bolsonaro teve até hoje ao lado dele. E o presidente Bolsonaro não soube reconhecer essa lealdade e, ao contrário de reconhecer, tratou o Gustavo como se fosse um traidor, uma traição que nunca existiu. Existiu apenas na ficção da cabeça do capitão Bolsonaro. O presidente Bolsonaro cultiva a lista de Schindler ao contrário. Gustavo foi o primeiro dessa lista que tombou e ele ficou muito amargurado. Ele era uma pessoa boa de coração e totalmente desambiciosa. De fato, ele acreditava que o capitão fosse um mito. Para ele, foi muito dura essa decepção de ver aquele processo todo e depois ter sido abandonado. Não pelo cargo, porque, quando ele saiu, o presidente Bolsonaro ofereceu a ele uma diretoria da Itaipu, o que qualquer pessoa, na circunstância do Gustavo, poderia até aceitar como um prêmio de consolação. E o Gustavo, simplesmente, se negou a aceitar, pegou as coisas dele e voltou para casa e foi cuidar da vida. Depois, ele veio para o Rio de Janeiro e, tempos depois, o governador Doria o convidou para que ele viesse para o PSDB. O convite para ele vir para o partido não foi meu. Aliás, eu não o convidei justamente porque eu achava que, dada a ligação que ele tinha com o capitão Bolsonaro, poderia criar algum tipo de desconforto para o João Doria, governador de São Paulo.

Você já estava exercendo função executiva no PSDB?

Eu já era o presidente do partido aqui no Rio. Eu me tornei presidente do partido praticamente um ano atrás, em abril do ano passado. Mas como o governador o convidou para vir para o partido, eu achei que esse convite vinha ao encontro do que eu desejava. O Gustavo, além de ser meu amigo, seria um grande parceiro nos quadros do PSDB para mim aqui no Rio de Janeiro. Na realidade, o que eu vim fazer foi reorganizar um partido que estava à deriva completamente. Sem estrutura organizacional. Dos 92 municípios do Rio de Janeiro, o PSDB tinha estrutura permanente em 16. O resto estava abandonado pelas últimas eleições. Não havia diretório. Hoje estamos com quase 60 diretórios formados. Até o final das eleições estaremos com todos os diretórios constituídos. Os que são provisórios vão se tornar diretórios definitivos e nós vamos fazer uma convenção para também transformar essa executiva estadual, que hoje é provisória por conta da intervenção que foi feita no partido pelo diretório nacional, como um diretório definitivo também.

Voltando, o Doria convida Bebianno…

Bebianno vem para o partido e, quando ele chega, já havia uma candidata escolhida, que era a secretária Mariana Ribas, que era uma mulher que dedicou a jovem vida dela toda à área da cultura. Foi uma escolha minha, que eu levei para o governador analisar. Ele gostou, se afeiçoou com a nossa Mariana. Doria tem um mantra, que ele repete o tempo inteiro, que é de que nós devemos trazer para o PSDB jovens e mulheres. Então, inspirado por essa orientação, fui buscar a Mariana, jovem, mulher, bonita, competente, preparada. Ela tinha todas as qualificações para desempenhar de forma muito boa a condição de pré-candidata à Prefeitura do Rio, porque ela conhece os problemas da Prefeitura, ela viveu lá praticamente dez anos da vida dela. Acontece que a Mariana, ao longo desse processo, foi se dando conta de que o peso dessa escolha estava além da sua capacidade de suportar. E, num dado momento, ela me procurou dizendo que não estava feliz nessa condição. Eu falei: "Mariana, se você não está feliz, não há o que falar mais. Não tem outro argumento, porque isso é uma função que você aceita, sobretudo, porque você está apaixonado por essa causa e suporta a pressão de desempenhar esse trabalho. Eu peguei a Mariana e levei para uma conversa com o governador Doria, em São Paulo, e a Mariana revelou para ele esse sentimento que ela estava tendo em relação a esse projeto da campanha. A partir disso, nós três decidimos que a pessoa melhor preparada que nós tínhamos no partido para substituir a Mariana era o Gustavo Bebianno, que já estava filiado ao partido. Ele tinha sido filiado em dezembro do ano passado.

Só faltava ele aceitar...

Mas foi uma escolha natural. Ele já tinha manifestado que gostaria muito de participar desse processo. E foi até indicado por várias lideranças do partido, sobretudo, pelo prefeito de Macaé, o Dr. Aluízio, que é um grande quadro do PSDB. O Dr. Aluízio foi a primeira pessoa que levou para o diretório estadual a indicação do Gustavo como pré-candidato, através de uma carta que ele entregou para a gente avaliar a possibilidade até de fazer uma prévia no partido entre a Mariana e o Gustavo. O Gustavo se tornou, naturalmente, o candidato. Ele tinha muita paixão por essa perspectiva. O Gustavo achava que ia ganhar a eleição, que ele tinha uma mensagem para passar para a população do Rio. Ele era um carioca apaixonado pelo Rio, botafoguense, uma pessoa que tinha condição de enriquecer o debate eleitoral deste ano. Eu tenho certeza que ele ia ser uma presença muito marcante nessa eleição. Mas aí o destino nos prega essa peça. Ele com 56 anos de idade.

Bebianno, em algum momento, lhe disse, segredou ter documentos, ter aquela carta, ter informações, ter dossiê, ter algo da história da relação dele com o presidente Bolsonaro?

Não. Nunca. Aliás, isso é um folclore que a mídia criou. Esse ambiente é muito mais para criar essa teoria, porque como o presidente Bolsonaro vive numa bolha de teoria de conspiração, as pessoas começam a achar que todo mundo vive nesse ambiente. Acontece que o Gustavo não tinha, nunca teve nenhum documento. Ele me disse isso várias vezes.

Você chegou a perguntar?

Perguntei. A gente já conversou sobre isso, a gente era muito amigo, tinha muita intimidade.

Aquilo de que poderia existir no exterior... 

Não, não. Absolutamente. A única coisa que o Gustavo tinha era um celular que já não usava mais, onde ele guardou áudios trocados com o presidente da República durante o período da campanha.

Onde está esse celular?

Não sei, deve estar com a esposa dele. Mas, enfim, ele tinha ali áudios trocados entre ele e o presidente da República durante breve período da presidência e também muitos áudios durante a campanha. Mas nada relevante que possa ser tratado como uma grande conspiração, uma revelação que vá estremecer a República. Ele foi leal até a morte. Ele apagou da memória dele esse período triste da sua vida.

Como se deu a escolha do seu nome para disputar a eleição?

Não teve nenhuma reflexão muito profunda não. O Gustavo morreu na madrugada de sábado, ele foi enterrado de tarde, o governador Doria esteve no funeral, acompanhado do presidente nacional do PSDB, o Bruno Araújo, que é um querido amigo, e ambos me disseram naquela hora que queriam falar comigo no domingo, dia seguinte. Eu estava tão atormentado com aquele ambiente que eu estava vivendo ali que realmente eu não queria nem tratar de política. Para você ter uma ideia, eu fui acordado pela viúva do Gustavo às 3 da manhã de sábado, quando ele ainda estava vivo, sendo levado para o hospital. Eu fiquei acordado desde essa hora cuidando desse episódio. Quando eu cheguei em casa, depois do funeral de Teresópolis, já eram mais de 9 horas da noite, eu tomei um banho, fui dormir e acordei 14 horas depois. Acordei descansado e liguei para o Doria, porque já tinham vários recados dele no meu Whatsapp. Ele me disse: "Paulo, olha, nós estamos aqui, eu e o Bruno, tratando dessa questão da morte do Gustavo, mas que agora nós precisamos pensar no dia seguinte, porque nós temos uma nominata de pré-candidatos a vereadores, que está sendo feita pelo partido, que nós precisamos resolver essa questão da sucessão do Gustavo. E nós achamos que você poderia ocupar esse lugar para ajudar o partido a ter uma representação à altura do partido". Eu disse: "olha, João, você sabe o quanto isso vai me custar pessoalmente. Primeiro, que eu não estou preparado pessoalmente. Isso para mim é uma surpresa. Eu, se quisesse ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSDB, eu teria articulado isso lá atrás, antes da Mariana. Eu fui buscá-la, ela desistiu, eu botei o Gustavo, eu articulei a entrada dele, eu fiz todos esses movimentos, porque eu realmente não queria e não quero encarar um processo eleitoral majoritário que vai me demandar uma energia. Eu tenho quatro filhos, dois dos quais têm uma vida pública, e eu preciso conversar com a minha família". Eu conversei com a minha mulher, meus filhos, e todos eles, como sempre, me apoiaram e disseram: "olha, pai, o que você decidir, nós vamos te apoiar". No final do dia, eu liguei para o governador aceitando essa missão, e disse a ele que aceitava por dois motivos: primeiro, porque achava que, se o PSDB não tivesse uma candidatura majoritária nesse momento para conduzir o processo eleitoral até as eleições, nós íamos ter uma perda de trabalho realizado nesse último ano completamente. Teríamos que recomeçar do zero. E eu tinha compromisso com muitas pessoas que já estão lá dentro do partido trazidas por mim. Eu disse "olha, eu vou aceitar, primeiro, por esse motivo. E, segundo, João, porque eu, de fato, estou convencido de que o Brasil será outro se for governado por você. E o meu projeto é ajudar você a ganhar as eleições em 2022. Eu acredito nesse projeto seu. Nós não podemos deixar o partido à deriva e não perdermos um ano de trabalho, de reorganização do partido. Nós precisamos de uma liderança para conduzir esse partido, porque é assim a política. Ela é feita por pessoas que aparecem com mais protagonismo. E aí acabam liderando outros. E, nesse momento, era eu, na condição de presidente [do partido] que tinha esse papel a desempenhar". Aceitei por esses dois motivos e, agora que estou nessa condição de pré-candidato, eu vou levar essa campanha até o final. Eu vou tentar endereçar à população um outro tipo de motivação.

Que tipo?

Primeiro, precisamos ter um prefeito que ame a cidade do Rio. Essa é a primeira condição. Isso já é uma mudança de paradigma. Quando você tem ali, sentado na cadeira, alguém que ama o que faz e ama a cidade que governa, a relação é outra. O Crivella não conhece o Rio de Janeiro. Ele não tem a mentalidade da cidade. Ele não conhece. O Crivella não foi uma boa opção como prefeito. Eu acho até que é um certo egoísmo da parte dele querer se colocar novamente como candidato. Eu, se fosse ele, sinceramente, já teria tido esse privilégio de governar o Rio de Janeiro, eu ia fazer outra coisa. Ele é um pastor da igreja, eu acho que haveria muitas coisas boas para fazer. O Crivella, tanto ele quanto a família, eu os conheci pouco, mas tive contato com ele logo no início do governo, ele é uma pessoa do bem. Crivella não é um sujeito da conspiração, do mal não. Mas ele não tem vocação para isso. Ele não sabe, não conhece a cidade. Ele não respira o ambiente da cidade. Ele não compreende o espírito do carioca.

É hora de um gestor, na sua opinião?

Agora mais do que nunca. Nós estamos vivendo esse momento global de pânico. Você tá vendo o que está acontecendo no mundo. Eu comparo isso somente aos filmes de ficção de Hollywood. Quando vemos o que está acontecendo, a primeira imagem que nos remete são os filmes de Hollywood de fim de mundo. É uma loucura o que está acontecendo. Se nós não tivermos preocupação com o dia seguinte desse episódio, dessa pandemia, a pior epidemia que vai acontecer é a do desemprego, que hoje já é, no Rio, uma epidemia, que vai se agravar. Eu li no jornal que o governador Witzel declarou que, depois de junho, ele não sabe se vai pagar salário. Eu saí nas ruas, parecia um filme de ficção. Não tinha ninguém nas ruas. Os restaurantes estão fechados. Acontece o seguinte, o ambiente empresarial é diferente do setor público. O setor público tem sempre um recurso numa instância superior para se socorrer. O empresário privado, se ele não tiver como pagar a conta no final do mês, ele só tem duas opções: ou fecha a porta, fecha o negócio, e vai à falência, ou dá um tiro na cabeça. Não tem outra saída. Ele não consegue apoio. A economia da cidade do Rio, que já ia muito mal, agora parou. Restaurantes, setor de serviço, entretenimento, eventos, turismo.

A capacidade pessoal de um prefeito e uma boa equipe resolvem?

Não gostaria de me atribuir tanta importância assim, mas o que eu diria, bem realista, é o seguinte: eu passei a minha vida inteira trabalhando no setor privado. Trabalhei em indústria, no setor de serviço, no mercado financeiro, na área de entretenimento, fui sócio do Roberto Medina, de quem cultivo uma amizade, trabalhei na mídia. Eu tenho uma experiência de vida empresarial muito intensa. Eu nunca trabalhei, vendi ou comprei de governo, nunca fui funcionário público. Sem nenhum demérito para as pessoas que fizeram isso, porque acho que o sujeito, quando escolhe essa função, é quase um abnegado, porque você vai para um setor onde você está escolhendo não ter praticamente remuneração. Você vai para servir a população. O que eu acho que eu teria diferentemente do atual prefeito, por exemplo, é, primeiro, essa paixão pela cidade, conhecer o espírito do carioca. Eu tenho bom senso, experiência empresarial, saberei onde buscar as melhores pessoas para governar a cidade do Rio de Janeiro. Eu tenho os exemplos do PSDB de São Paulo, de décadas de administração pública exitosa, tanto na prefeitura quanto no governo do estado. Óbvio que se eu chegar na prefeitura do Rio de Janeiro, eu tenho que me socorrer da experiência de gestão que os governos de São Paulo tiveram no PSDB. Eu, no dia seguinte, vou chamar a tropa de São Paulo para me ajudar no Rio de Janeiro. Sem nenhum demérito para as pessoas capazes que nós temos muitas no Rio. O Rio de Janeiro precisa se unir a São Paulo. O maior emissor de turistas para a cidade do Rio é São Paulo, não é Buenos Aires, não é Miami, não são os Estados Unidos. É São Paulo. É lá que está a riqueza do Brasil e é lá que nós temos que buscar recursos para o estado do Rio de Janeiro e para a cidade do Rio. Eu teria condição e capacidade de articular, aglutinar, unir um grupo de pessoas que amam o Rio de Janeiro para servir ao Rio de Janeiro.

Como o senhor pretende enfrentar o crônico problema financeiro da cidade do Rio de Janeiro?

Eu acho que a situação financeira da cidade do Rio vai se agravar muito mais do que ela está hoje. Uma cidade que tem um orçamento de quase R$ 32 bilhões/ano é uma cidade do tamanho de um estado. Eu vou buscar as melhores pessoas capazes de pensar o Rio de Janeiro do ponto de vista econômico. Precisamos ter um projeto. Não adianta só chegar na prefeitura achando que você vai cortar despesas, porque isso você não precisa de ninguém. O Crivella saberia fazer isso. Pega lá a burocracia da prefeitura, manda cortar despesas e vai lá. Despesas essas que muitas rubricas de despesas não podem nem ser cortadas; que são obrigadas pela prefeitura a cumprir. Mas acho o seguinte: primeiro, nós vamos ter que esperar passar esse evento dessa epidemia para saber o tamanho das consequências disso. Isso é a primeira coisa. Não adianta querer agora fazer nenhum projeto para a prefeitura, porque seria uma leviandade.

Como o senhor pretende ajudar a melhorar a vida do trabalhador mais pobre?

A elite empresarial e do Rio de Janeiro precisa entender que nós vivemos aqui na Zona Sul do Rio numa bolha. Outro dia, eu visitei um banqueiro em São Paulo, na Faria Lima, e ele me desenhou essa fotografia. Acontece que essa bolha está diminuindo de tamanho. E a gente está ficando preso numa bolha menor. O ambiente em torno da bolha aumentando em termos de desesperança, pobreza, falta de perspectiva, falta de emprego. É preciso priorizar agora, sem fazer o discurso da política que todo mundo faz. Você começa a governar sério para os que mais precisam, buscando recursos em quem tem mais, tem que haver uma troca agora. Quem tem mais tem que pagar agora com mais.

Como fazer isso no âmbito municipal?

A atividade econômica precisa voltar a existir no Rio de Janeiro. Eu pretendo criar, por exemplo, uma secretaria do empreendedor. Botar um tapete vermelho para todos que queiram investir na cidade do Rio. Essa pessoa tem que ser recebida de braços abertos.

E que tipo de facilidades poderia oferecer?

Todas. Desburocratizar o sistema de registro de empresas, facilitar a vida de quem começa uma atividade econômica. Quem inaugura um negócio no Rio não pode receber como primeira visita um fiscal. Um ano depois de atividade que esse fiscal tem que aparecer. Você precisa dar ao empreendedor uma perspectiva, criar um ambiente para que essa pessoa esteja segura de que ela está num lugar no qual ele é bem-vindo. Por exemplo, um tempo atrás, me procurou um grupo de empresários do setor de laboratório de análises clínicas, os maiores do Brasil. Hoje, quando você faz um exame de sangue no Rio de Janeiro, você colhe o seu material no Rio e esse material é enviado para o município de Caxias para fazer a leitura do seu material, depois ele é devolvido. Você sabe por que a fábrica de leitura de exames laboratoriais está em Caxias? Porque lá o ISS é de 2,5% e no Rio é de 5%. Esse grupo de empresários do Brasil inteiro foi ao prefeito Crivella pedir uma equiparação, porque São Paulo é assim. É menos que o Rio. Eu me recordo desse encontro, porque eu solicitei essa reunião para o prefeito e eu estava presente acompanhando o presidente do grupo Dasa. Em dois minutos. Chegou a secretária de Finanças, ela recebeu os empresários e tudo o que eles queriam a resposta era "não, não, não", antes de saber o que era. Simplesmente levantou e foi embora. E disse "olha, não tem conversa aqui". A predisposição de relacionamento com empresário, por parte do governo que está aí, já é de antagonismo. Nós precisamos facilitar a vida de quem quer investir no Rio de uma maneira definitiva em todas as áreas: entretenimento, área hoteleira, turismo. Por exemplo, não dá para você ter a Guarda Municipal do tamanho que ela é hoje e você não proporcionar segurança, pelo menos, na área turística do Rio de Janeiro. Quando você vê um turista de fora, o sujeito chega ao Rio e ele quer frequentar Barra, Copacabana, Leme, Botafogo, Ipanema. Nessa região, a Guarda Municipal precisa dar um apoio diferente. Senão, o sujeito não vem para cá. Um turista não vem para uma cidade onde ele não se sente seguro para gastar o dinheiro dele. O Rio de Janeiro compete com milhares de cidades no mundo cada vez mais preparadas para o turismo.

O que os servidores da Prefeitura, Saúde e Educação podem esperar do senhor?

Os servidores municipais vivem um desânimo total, porque a liderança vem de cima. Quando o prefeito governa a cidade como o prefeito atual governa, eu imagino como é que está se sentindo um diretor de hospital, um superintendente da Comlurb, como está o quadro de funcionários. É uma desmotivação. Todas as informações que eu tenho dos quadros administrativos da prefeitura são de que lá existem profissionais de gestão pública altamente qualificados. Gente que se preparou para isso desde o período do Cesar Maia, é uma coisa que vem se construindo ao longo do tempo. Eu não vou querer chegar ali para reinventar a roda. Eu vou governar a cidade do Rio com os melhores quadros da prefeitura. A única diferença que nós vamos fazer quando chegarmos lá é dar a essas pessoas uma motivação que eles não têm hoje. E acho que isso muda o ambiente. O sujeito que está ali é funcionário da prefeitura independentemente de quem vai chegar para governar a cidade. Se for o Crivella, ele continua igualzinho, se for eu, igualzinho. O sujeito está ali, esperando ver, olhando para o andar de cima e perguntando assim "o que é que esse cara vai fazer?". Se ele perceber que tem alguém com capacidade de levar um projeto sério, bom para a cidade, o cara fica motivado. Fica até valorizado.

E educação e saúde, como o senhor vai tratar da formação do pessoal, do funcionamento do trabalho, condições de trabalho? O que fazer no curto prazo?

Não sou especialista na área, não vou ficar aqui ditando regra sobre essa questão. Eu vou buscar pessoas que tenham alta capacidade. Na área de educação, em São Paulo, existem experiências muito bem sucedidas na capital. Acho que a gente pode buscar exemplos na administração do PSDB. Acho que existem grandes empresas mundiais de educação. Por exemplo, dois setores que mais crescem no âmbito privado são saúde e educação. Se você notar, os maiores bilionários brasileiros hoje, tirando os três empresários da Ambev, a maioria ali vem do setor de educação e de saúde. São setores que, na mão do setor privado, transformaram pessoas que estavam nesse setor em bilionários. Óbvio que você está falando… nós estamos falando do setor público é uma coisa, o SUS, outra coisa é a um hospital bem sucedido da iniciativa privada. Mas o que eu quero dizer é o seguinte: tem que chamar os presidentes destes grupos para uma conversa que eu tenho certeza que o empresário vai querer fazer uma parceria para ajudar a prefeitura. Por exemplo, o projeto do Corujão da Saúde que o governador Doria implementou quando era prefeito de São Paulo e depois continuou fazendo isso no governo do estado. Grande parte do horário noturno dos hospitais particulares está parada. A máquina está lá. Obviamente que o dono do hospital não vai fazer de graça. Você precisa criar convênios, você precisa chamar essa gente para a mesa: "meu amigo, nós estamos vivendo um drama nesta cidade. O seu negócio é nesta cidade".

Como será a relação com a Câmara de Vereadores? 

Eu tenho me relacionado muito como presidente do PSDB com vereadores. A maioria está preocupada com o Rio e com o futuro da cidade. Todos estão a fim de ajudar. Ali, independentemente de partido político. E falo isso com quase certeza de que, qualquer que seja o prefeito eleito, que tiver capacidade de dialogar, você não pode chegar ali botando banca, tem que chegar ali chamando todo mundo para conversar e dizendo: "olha aqui, meu amigo, nós estamos vivendo um momento de grande dificuldade, vamos ajudar a cidade. Não estou mais no palanque. A campanha acabou. Nós estamos aqui juntos, precisamos governar".

Esse processo eleitoral que começa depois do dia 4, quando se encerra o prazo das filiações, precisa ser muito bem conduzido pelas forças políticas do Rio. Nós temos um grupo de político do Rio, notadamente de centro. Hoje o ex-prefeito Eduardo Paes desponta como o favorito nas eleições em todas as pesquisas que são feitas. Claro que pelo fato de ele ter sido prefeito por duas vezes, pela boa administração que fez, principalmente no primeiro mandato. Ele tem a responsabilidade de conduzir esse grupo político para articular um projeto de governo que seja viável para a cidade do Rio de Janeiro. Como ele lidera as pesquisas, o peso dessa responsabilidade é maior para ele do que para mim. Eu vou pregar isso. Já estou conversando com outros candidatos de outros partidos para a gente encontrar pontos de convergência para caminharmos juntos. Eu acho que essa responsabilidade é de todos nós, mas é, principalmente, dele na condição de ex-prefeito e de favorito para disputar essa eleição. E essa coisa na política é muito curiosa. Não existe cadeira vazia. Se você não ocupa o espaço, vem alguém e ocupa. Se o ex-prefeito Eduardo Paes não começar a articular essa união de forças políticas do Rio de Janeiro, alguém fará no papel dele.

 

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