Ciro Gomes - Maíra Coelho
Ciro GomesMaíra Coelho
Por Sidney Rezende
 O ex-ministro Ciro Gomes, presidenciável em 2022 pelo PDT, conhece bem o Rio de Janeiro e chegou a ter residência fixa na cidade quando era casado com a atriz Patrícia Pillar. Ele sempre retorna, e, frequentemente, revê amigos e discute os rumos da política local e nacional. Sua maior preocupação, neste momento, é com a propagação do coronavírus nas favelas e regiões mais pobres do país. Ciro avalia como acertada as ações dos governadores em insistir em evitar aglomerações. "O papel dos governadores tem que ser de resistência diante da irresponsabilidade do presidente Bolsonaro". A pedido da coluna, o pedetista analisou a situação política municipal e nacional.

A política do Rio é complexa, qual a sua sugestão para sair da crise?

O Rio de Janeiro, assim como o Brasil, precisa de um projeto, que passa por restabelecer uma conexão entre artistas, intelectuais, acadêmicos e cientistas, com o povo carioca. Infelizmente, ao invés disso, não compreendem essa necessidade e se desorientam em uma agenda que os isola da psicologia da população.

Qual a sua avaliação das eleições deste ano para a prefeitura do Rio?

O momento não é de cálculos políticos, mas o povo do Rio de Janeiro conseguirá perceber a diferença entre discurso e prática. O prefeito do Rio está com uma postura errática e em conveniência com a irresponsabilidade do Bolsonaro. Isso pode custar muito caro ao povo carioca. Certamente, todos perceberão isso, e procurarão experiência, projeto, espírito público e amor ao próximo como características fundamentais de um próximo prefeito ou prefeita. Todos conhecem a deputada estadual delegada Martha Rocha, que conhece profundamente o Rio, tem projeto e um trabalho fundamental para este momento de crise. O PDT deve apresentá-la no momento oportuno ao povo do Rio de Janeiro.

Qual sua análise sobre o que acontece no Rio, as contradições, e o perigo para as comunidades?

Infelizmente, o coronavírus já está chegando nas comunidades, onde nosso povo é mais vulnerável, tem menos assistência de saúde e sofre mais pesadamente com o preço do desastre econômico produzido pelo governo Bolsonaro. Por essas pessoas que lutamos tanto para conseguir aprovar uma renda para trabalhadores informais e desempregados de R$ 600, por pessoa, podendo chegar a R$ 1,2 mil, por família, que garanta um mínimo de dignidade durante essa crise. O povo do Rio de Janeiro é sábio, guerreiro, e compreende a necessidade de ficar em casa e se isolar ao máximo, para tentar sofrer o mínimo possível com o vírus.

O senhor já pensou a possibilidade de ser candidato ao governo do estado do Rio?

Não. Estou absolutamente compenetrado em apresentar um projeto e ajudar o Brasil a superar sua mais grave crise política e econômica. Se voltar a ser candidato mais uma vez, será à presidência do Brasil.

Forças políticas conservadoras tentam desconstruir a ação dos governadores durante a pandemia. O que acha disso?

O papel dos governadores, de resistência à irresponsabilidade do Bolsonaro, tem sido fundamental para ajudarmos o povo a entender a gravidade do momento, mas também para pressionar o governo federal por mudanças. O momento não é de fazer cálculos políticos, mas de salvar vidas.

Qual tamanho do perigo que corremos ao enfrentar essa pandemia?

A atuação de Bolsonaro pode definir o que será a diferença entre dezenas de milhares de mortes por coronavírus, ou centenas de milhares de mortos, podendo chegar a um milhão de óbitos no Brasil. Esses números são estimativas do Imperial College, umas das instituições mais respeitadas do mundo. A partir dessa análise é que os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos definem a forma de agir, por exemplo.
Já a atuação de Bolsonaro, fruto da ignorância, do despreparo e do desapego ao povo brasileiro, é um desastre. Por essa razão, o trabalho dos governadores, prefeitos e demais autoridades para proteger a população, tem sido fundamental, inclusive com desobediência civil a atos ou falas do presidente.
Para ajudar o Brasil, tenho apresentado propostas e lutado para forçar as autoridades a garantir que se realizem testes massivamente para o coronavírus - não só para os casos de internamento -, importar equipamentos de segurança para os profissionais de saúde, importar respiradores e instalar leitos de UTI que deem conta do número de infectados.
Para a área econômica, defendemos acelerar ao máximo a distribuição da renda mínima através de cartão de débito pela Caixa Econômica Federal e credenciar aquele comércio que só poderá vender se mantiver empregos e salários de seus funcionários.

O senhor assinou com outros líderes de oposição o pedido de renúncia do presidente. Qual o próximo capítulo?

Nós não temos tempo para o impeachment, uma vez que nesta hora crítica não podemos criar uma instabilidade política e fazer o país parar por pelo menos seis meses. Se ele tivesse ainda um resquício de dignidade, saberia que ele é um fator de insegurança e renunciaria. Mas como sabemos que não tem essa dignidade, vamos representar na hora própria no Tribunal Penal Internacional, em Haia, por crime contra a humanidade.