Dom Orani João Tempesta - Luciano Belford/Agência O Dia
Dom Orani João TempestaLuciano Belford/Agência O Dia
Por Sidney Rezende
O Rio de Janeiro tem sido pródigo na geração de representantes políticos que atuam no segmento religioso. Os católicos são mais discretos do que os evangélicos que dão entrevistas, divulgam suas convicções pessoais nos seus templos e transitam pela comunicação com naturalidade. Mais comedidos, os católicos também fazem suas articulações, porém dentro de outra dinâmica. Procuramos o cardeal e décimo oitavo bispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, para nos explicar quais são as preocupações da Igreja nesta pandemia e quais são as orientações para os candidatos que buscarão o voto dos eleitores este ano. Dom Orani esquivou-se das perguntas que foram enviadas por escrito. Do total de sete, três foram respondidas. Cuidadoso com o significado de cada palavra, Dom Orani não tratou diretamente dos temas políticos.

Dom Orani, a pandemia pode aproximar ainda as pessoas da religião católica? Existirá um mundo diferente após a crise?

Com relação à pandemia, vemos que as pessoas têm mais tempo para ficar em casa, com mais tempo de pensar na vida e vendo como estamos sujeitos ao vírus que, do nada, leva a pessoa a ficar doente e a morte de tantas pessoas pelo mundo a fora. Vem em mente como o homem é frágil, e a importância daqueles verdadeiros valores que permanecem. Dessa forma, cada um vai examinando sua própria consciência, os valores essenciais e importantes para própria vida. Sem dúvida, entre a família, com que estão mais presentes, o dom da vida que se deve defender a todo custo. Ter a fé de buscar conforto e consolo que vem de Deus, presente em nossa vida e que dá sentido à nossa existência, caminhada, a busca da razão de ajudar os outros. É um momento muito importante, de transformação da própria mentalidade e da sociedade, para que possamos sair melhor deste momento e fazer tudo que chegar depois desta pandemia, um mundo mais justo e mais humano, em que os valores essenciais sejam valorizados.

O que pensa a Igreja sobre o isolamento social; horizontal ou vertical?

Sem dúvida, todos viram que a Semana Santa foi celebrada, tudo que devíamos celebrar, nós celebramos, em relação à liturgia. Nós não tivemos atos devocionais ou procissões na rua. O essencial da liturgia, porém, sem a presença do povo, que assistiram as celebrações de suas casas. Nós sentimos que atingimos muito mais gente desta forma. Levando as pessoas a participarem da suas residências, com alguns gestos externos, como os ramos e velas nas portas. São pequenos sinais que demonstram que o povo está atento e que estão participando de longe. Sem dúvida, que a questão agora do afastamento social que faz parte mundialmente de uma necessidade de não deixar que o vírus se espalhe com rapidez e haja tempo para que os que fiquem doentes possam ser atendidos. A Igreja é responsável e colabora com a sociedade. Enquanto isso, fazemos nossa parte, alimentando o povo com oração, com a palavra de Deus e as transmissões das nossas celebrações.

Este ano teremos eleições municipais, quais os valores que os católicos devem levar em conta na hora de escolher seus candidatos? Existe algum representante que seja dono deste voto atualmente?

Creio que aquilo que nós ensinamos e aprendemos, que Igreja professa, de amor a Deus e amor ao próximo, de fazer ao outro, isto transparece com muita clareza (...) A preocupação com os outros, vemos muitos trabalhos sociais, as pessoas sendo ajudadas, tem aumentado muito as necessidades das pessoas sem teto e mesmo aquelas sem emprego. Vejo com carinho muito grande que tem aumentado as pessoas que vêm doar alimentos, que vêm para repartir com os outros. Por isso, agradecemos a Deus, são valores que a Igreja professa e vão ajudando as pessoas. Além da família, além da questão da vida, a fé, também as preocupações sociais são grandes. Não vamos nem no caminho ideológico, nem político! Mas fazendo nossa parte de cristão nesse mundo que somos chamados a viver de acordo com a sociedade, estamos cumprindo bem nossa missão de católicos via nossa fé.