Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ - Luciana Costa/Divulgação
Fábio Queiróz, presidente da ASSERJLuciana Costa/Divulgação
Por Sidney Rezende
A Associação de Supermercadistas do Rio de Janeiro – ASSERJ foi criada em 1969. De lá para cá, o segmento se profissionalizou e vive neste momento a sua mais profunda transformação. O setor supermercadista conta com mais de 10 milhões de colaboradores no chão de loja e também no staff, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Nesta semana, entre os líderes do segmento, Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ, foi um dos mais requisitados para explicar as razões que levaram os preços do arroz, feijão e óleo de soja terem subido tanto nas gôndolas. A sua agenda lotou de reuniões, contatos empresariais, conversas particulares com autoridades e entrevistas para todos os tipos de mídia. Nesta entrevista ao Informe do Dia, Queiróz explicou pacientemente os detalhes do problema e reafirmou a garantia que, breve, tudo se resolverá e rechaçou o risco de desabastecimento.

Por que os produtos da cesta básica estão aumentando de preços?

Esse aumento está muito relacionado a alguns fatores, como a alta do dólar em relação ao real, o que estimula a exportação desses produtos, diminuindo assim a oferta interna. Outro ponto que também tem forte impacto na elevação dos preços é o consumo interno que aumentou devido ao auxílio emergencial e o distanciamento que deixou as pessoas mais tempo em casa. A sazonalidade também tem influência direta no valor dos produtos. Esse desequilíbrio tem impactado os preços, neste momento tão delicado que estamos passando.

E quando os preços vão cair?

É difícil prever. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou que os preços dos produtos da cesta básica já estão chegando ao limite e devem começar a ceder a partir do próximo mês. Foi divulgada ainda que a safra de grãos neste ano teve recorde histórico de 257,8 milhões de toneladas. Já há um intenso movimento das indústrias de beneficiamento na busca pelo produto no mercado internacional. A decisão do governo de zerar a alíquota de importação do arroz deve ter efeito a partir do próximo mês, reduzindo a instabilidade nos preços. Tudo isso deve surtir efeito em médio prazo.

No caso específico do Rio de Janeiro, quais os produtos que mais preocupam?

No Rio, assim como em outros estados, os produtos que mais sentiram o impacto foram o arroz e o óleo de soja.

Muita gente acha que o aumento dos preços do arroz, feijão, carne e trigo é culpa dos supermercados. Qual é a verdade?

Os supermercados estão no final da cadeia e acabam sendo apenas repassadores de preços. Quanto mais barato a gente comprar, mais barato vamos vender. Fizemos um trabalho brilhante em meio à pandemia para que o vírus não se propagasse nas lojas e, sobretudo, cumprimos o nosso papel de abastecer a população. E é isso que estamos trabalhando nesse momento também.

É verdade que o seu setor avisou ao Governo há mais de dias que produtos como arroz estavam começando uma alta perigosa?

Somos um setor forte e estamos atuando sempre de forma estratégica. Temos mostrado preocupação há um tempo com o elevado preço de alguns produtos, em especial os que compõem a cesta básica da população brasileira, que vêm sendo fortemente impactados por conta do aumento do dólar e da sazonalidade. O setor do Estado do Rio de Janeiro é um dos que tem sofrido grande pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. Reconhecemos o importante papel que o setor agrícola e suas exportações têm desempenhado na economia brasileira.

O senhor foi um dos primeiros a pedir para o consumidor usar a criatividade e substituir produtos. O senhor pode explicar melhor?

Agora é a hora de usar mesmo a criatividade. Faço um apelo ao consumidor que use o caderninho para pesquisar os preços e a criatividade para substituir os produtos que estão com uma alta significativa. A substituição é uma das alternativas para ajudar na redução dos preços neste momento. Posso citar, por exemplo, a batata e o macarrão, que tiveram uma baixa de preço, em substituição ao arroz.

O governo liberou a importação do arroz, mas os produtores brasileiros não gostaram. Qual a opinião do setor supermercadista?

Essa é uma medida que ajuda, porque permite preços mais competitivos para produtos vindos de fora. Como a gente teve uma baixa na produção e uma remessa de parte significativa da produção enviada para o exterior por causa da alta do dólar, importar as mercadorias seria uma forma de equilibrar a oferta e a demanda.

A inflação pode voltar como no passado?

Esperamos que não. Estamos trabalhando para que tudo se estabilize. Mas isso não depende apenas do nosso setor. Na verdade, nós somos a ponta da cadeia.

Qual a sugestão dos senhores para evitar que o custo de vida aumente além do suportável?

O consumidor deve realizar substituições para que os preços diminuam. Quando você consome menos, a gente regula a oferta e a demanda, e os preços vão se ajudando. Outra sugestão é para que as pessoas realizem compras equilibradas, e evitem a superestocagem.

Pode haver risco de desabastecimento?

Não temos nenhuma previsão de desabastecimento até o momento. Estamos monitorando toda a cadeia de consumo. Os procedimentos de limitação de compras de produtos que pouquíssimas redes estão realizando aqui no Rio são justamente para evitar compras em atacado, em lojas que não oferecem esse tipo de serviço.

Os supermercados podem segurar a alta do preço da cesta básica?

A ASSERJ tem se esforçado para manter os preços normalizados no estado do Rio e vem garantindo o abastecimento regular desde o início da pandemia em todas as redes associadas. Desde março, a Associação tem estreitado ainda mais parcerias com fornecedores e representantes de todos os elos da cadeia de abastecimento para antecipar os pedidos de compras e garantir um melhor abastecimento para a sociedade. Lembramos novamente que nós, supermercados, somos apenas repassadores dos preços que chegam até a gente. Quanto mais barato chegar, mais barato vamos vender.

As promoções do mercado de outros produtos, para ajudar o consumidor a equilibrar suas finanças, vão continuar acontecendo?

Com certeza. As redes de supermercados já estão realizando ações especiais justamente para auxiliar ao máximo o consumidor. A hora é de ficar atento às promoções e encartes das redes e aproveitar as ofertas.