Alfredo Lopes - Divulgação
Alfredo LopesDivulgação
Por O Dia
A cidade do Rio de Janeiro é a mais conhecida do Brasil no exterior. O que acontece nela tem influência em outros lugares que dependem do turismo para turbinar suas economias. O adiamento do desfile das escolas de samba, que seriam realizados em fevereiro; a transferência de grandes eventos que seriam realizados nos próximos meses para outras datas de 2021; e a incerteza do que fazer durante o réveillon são apenas alguns exemplos do tamanho da encrenca, por causa da pandemia de Covid-19, que já levou muitos profissionais que dependem do turismo a viveram ainda mais incertezas. Nesta entrevista, um dos mais influentes líderes do segmento, Alfredo Lopes, presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem da Capital e membro do conselho da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro), levanta outras preocupações do setor. Lopes, sempre comedido, desta vez expõe até mesmo a apreensão quanto ao nome que o governador do Estado do Rio, Cláudio Castro, indicará para a pasta que trata do Turismo.
Como está a retomada do setor turístico? Estamos em qual estágio?
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A retomada tem sido lenta, gradual, e, como prevíamos, bastante focada no mercado nacional. Atualmente, cerca de 40 meios de hospedagem estão com suas operações suspensas na cidade, e a taxa de ocupação tem registrado 38% nos dias de semana, e 45% nos finais de semana.
Como deveriam ser conduzidas as festas do Réveillon? Qual a proposta de vocês?
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Esse formato sugerido pela prefeitura atende perfeitamente, no momento em que você diversifica os shows via live em variados pontos turísticos, o que não falta a nossa cidade, diferentemente de São Paulo. E a hotelaria poderá realizar seus eventos privados, mas, claro, seguindo também todos os protocolos de segurança exigidos pelos órgãos públicos. Na verdade é o que a Barra da Tijuca já vinha fazendo há alguns anos e se consolidando cada vez mais.
Com o adiamento dos desfiles das escolas de samba, deveria existir alguma alternativa para acolher os turistas que costumam escolher o Rio de Janeiro como destino?
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O adiamento do Carnaval é totalmente necessário e coerente, porque não há Carnaval sem aglomeração. E, mesmo que surgisse uma vacina agora, não teríamos mais tempo hábil para realizar o evento. Logo, temos que aguardar chegar mais próximo, por volta do mês de janeiro, para verificarmos como ficará o andamento dessa situação.
O setor que o senhor representa está apreensivo com as indicações do governador Cláudio Castro. Por quê? O trade do Turismo não vê com bons olhos o nome do deputado Rodrigo Amorim? Qual é o perfil que os senhores buscam para a mesma função de Secretário?
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De fato, a hotelaria está apreensiva. O Turismo foi um dos setores mais impactados pela pandemia. Para que a retomada do setor se dê de forma estruturada, firme e rápida, necessitamos que seja através de uma pessoa que conheça a atividade turística, de técnicos da área, não uma mera moeda de troca. Mas, vale ressaltar que não se trata de questão partidária. O que está em jogo é que não temos tempo para a inexperiência e precisamos de uma maior atenção do Governo ao nosso setor, caso contrário, haverá um retrocesso.

A segurança pública sempre foi uma preocupação e, agora, também o enfrentamento da pandemia e os serviços do poder público municipal. O Rio é mesmo inseguro e impróprio para quem vem de fora para se divertir na cidade?
Há um descolamento entre a percepção e a realidade. Os acontecimentos têm evidenciado que a cidade do Rio é segura em suas áreas turísticas ao compararmos com as grandes metrópoles. Como exemplo, os grandes eventos que sediamos, como o Rock in Rio, em que tivemos uma incidência muito baixa de criminalidade. Mas, claro, a questão da segurança pública é algo a ser priorizado em todos os locais e diariamente.
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Quais os acertos e os erros da administração Marcelo Crivella?
Sobre os acertos no nosso setor, há os últimos grandes eventos, em que tivemos recordes de público e tempo de estadia. Já com relação aos erros, acredito que a falta de recursos que sofremos, hoje, pode ser proveniente de dívidas contraídas em governos anteriores, como no caso das Olimpíadas, por exemplo, o que acabou impactando na atual gestão.
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O que o senhor espera do processo eleitoral? Qual a agenda que deveria ser discutida para a cidade?
Se faz necessário discutir a importância da reativação da economia da cidade ao abordar diversos pontos, como medidas para conter o esvaziamento da Avenida Brasil e da região do Centro, a falta de atratividade da nossa cidade e a falta de desenvolvimento. Precisamos de políticas públicas de sucesso que sigam os passos de grandes centros turísticos internacionais, como Lisboa, Madri e Nova York. E facilitar o acesso de todo e qualquer investimento que venha a fortalecer o calendário de eventos.
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O senhor também poderia avaliar o trabalho desenvolvido até agora pelo Governo Federal e Estadual?
Na minha opinião, o Governo Federal tem quebrado vários tabus e paradigmas. Não temos mais ouvido falar tanto em desvios de recursos públicos, como em governos anteriores, e foram dados importantes passos, como a aprovação da Reforma da Previdência, e a que está em andamento, a Administrativa, que fará uma mudança radical no funcionalismo público, além das possibilidades de privatizações, como a dos Correios. Também como ponto positivo destacamos a transformação da Embratur em agência, que era um pleito do setor. Mas, por outro lado, a imagem do Brasil no exterior está desgastada, principalmente, em relação ao trato com a Covid-19. Para isso, é importante uma atenção maior ao Itamaraty e às relações internacionais. E o Governo Estadual, que mal começou e já é refém de uma dívida absurda, não está conseguindo caminhar. Se faz necessário cortar gastos e reduzir despesas para enxugar a máquina pública, e uma das saídas podem ser as privatizações, como a da Cedae e de outras empresas.
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De quanto foi o prejuízo do setor hoteleiro este ano? E quando o senhor acredita que ocorrerá recuperação? Quantos profissionais foram demitidos e quanto se gastou para não demitir?
O prejuízo do setor hoteleiro em todo o estado, este ano, já passa de R$ 1 bilhão. Quanto à recuperação das taxas de ocupação da hotelaria, acreditamos que ocorrerá a partir de meados de 2021; já a recuperação financeira deve levar de três a quatro anos para acontecer. Sobre demissões, ao longo da pandemia tivemos em torno de 20 mil postos de trabalhos suspensos, de um total de cerca de 100 mil, e 18% dos colaboradores perderam seus empregos.